A Associação Catarinense das Indústrias de Água Mineral (Acinam) lançou, ontem (30), na sede da Federação das Indústrias (Fiesc), a campanha “Menos Ódio, Mais Amor – Pelo fim da violência contra a mulher”. Com a iniciativa, a partir de agora aproximadamente um milhão de garrafões de 20 litros de água mineral receberão adesivo da campanha. A meta é que a visualização permanente do slogan e do disque-denúncia 180, em um espaço de destaque de casas e empresas, incentive que não só as vítimas, mas seus filhos, outros parentes, amigos e vizinhos, busquem ajuda.
O presidente da Acinam, Tarciano Oliveira, acredita que o aumento no número de denúncias vai fazer com que o próprio Estado se empenhe em melhorar a rede de assistência às vítimas, com mais delegacias especializadas e também com a instalação de casas de apoio. “Os adesivos permanecerão nos garrafões mesmo depois da lavação externa que é feita quando são recolhidos para reabastecimento. Então haverá uma extensão dessa campanha por algum tempo, em torno de seis meses a um ano”, explicou. Os vasilhames com adesivos da campanha serão distribuídos em todas as regiões de Santa Catarina pelas 14 empresas associadas à entidade.
Convidada especial
A farmacêutica bioquímica Maria da Penha Maia Fernandes, que inspirou e dá nome à Lei Maria da Penha de proteção às mulheres vítimas de violência, vigente há 13 anos, participou do lançamento da campanha “Menos Ódio, Mais Amor – Pelo fim da violência contra a mulher”, promovida pela Acinam. Ela foi vítima da violência doméstica em seus diferentes aspectos, de psicológicos a físicos, até chegar a duas tentativas de feminicídio pelo seu então marido, o boliviano Marco Viveros.
Um tiro pelas costas enquanto dormia deixou Maria da Penha paraplégica. Por isso mesmo, ela receia que a maior facilidade para a aquisição de armas de fogo, mesmo que tenham que ser mantidas em casa, possa aumentar o número de casos. “Eu fui vítima de uma arma de fogo dentro de minha casa, em minha cama! O que se pode esperar?”
A necessidade permanente de cadeira de rodas não a impede de lutar pela causa. Em coletiva à imprensa, ela comemorou a consciência criada pelo Poder Judiciário em torno do tema. Por exemplo, tem sido comum o endurecimento da punição quando o agressor ignora medidas protetivas em favor da mulher. “No momento em que o agressor desobedece a Justiça, que determinou que ele é perigoso e não deve se aproximar de sua ex-companheira, é necessário, sim, um maior rigor e a prisão em flagrante. E isso tem acontecido com mais frequência.”
Ela acredita que as mulheres estão mais corajosas e por isso o número de denúncias vem crescendo. Entretanto, aponta que o país está muito atrasado no que diz respeito à educação escolar das novas gerações no sentido de desconstruir o machismo que ainda prevalece, independentemente da classe social. “Antes mesmo de a Lei Maria da Penha ser criada, no relatório que a Organização dos Estados Americanos (OEA) enviou ao Brasil já havia a solicitação por investimento em educação para desconstrução do machismo. A criança deve ser sensibilizada desde o ensino fundamental. Muitas vezes é só aí que ela vai perceber que está vendo a sua mãe ser vítima de violência doméstica e que aquilo não pode ser considerado normal.”
Santa Catarina é um dos estados com o maior índice de violência contra a mulher. Para tentar reverter o quadro, a Polícia Militar mantém o programa Rede Catarina, que atua junto a mulheres que conseguiram medida protetiva, com visitas frequentes, atendimento psicológico entre outros. Já a Polícia Civil lançou, no ano passado, o programa Polícia Civil por Elas, que alerta para as diferentes formas de violência, incentiva a denúncia e trata os casos de forma mais específica.
Por Andréa Leonora/CNR-SC/SCPortais/ADI-SC