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Você conhece a história da vacina?

O sujeito que não tem fé na humanidade é porque não conhece a batalha contra a varíola.

O inimigo era maiúsculo. Talvez o mais assustador da nossa história. No século XVIII, o médico rural Edward Jenner descobriu a vacina antivariólica, a primeira de que se tem registro, capaz de combater um dos piores vírus. Ele fez uma experiência comprovando que, ao inocular uma secreção de alguém com a doença em outra pessoa saudável, esta desenvolvia sintomas muito mais brandos e tornava-se imune à patologia em si, ou seja, ficava protegida.

Foi usando o vírus de uma doença adquirida da vaca, que provocava lesões muito similares à varíola, que ele conseguiu criar o medicamento capaz de combater essa doença. Jenner desenvolveu a vacina a partir dessa doença, a cowpox (tipo de varíola que acometia as vacas), pois percebeu que as pessoas que ordenhavam as vacas adquiriam imunidade à varíola humana.
A varíola era uma ameaça gigantesca à humanidade e a batalha contra ela era travada há séculos, matava uma média de 400 mil europeus por ano. No século 20, estima-se que até 500 milhões de pessoas tenham morrido do mal.
Sabe-se hoje que esta foi a doença viral que mais matou na história, uma doença viral extremamente grave que causava febre alta, dores de cabeça e no corpo, lesões na pele e morte. A varíola foi a primeira doença infecciosa que foi erradicada por meio da vacinação. “Era tida como o ‘horror’ da época!

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O impacto da enfermidade impressionava, principalmente, pelas pústulas provocadas no corpo, bolhas com pus que apareciam pela pele. Jenner, então, resolveu testar algo que outros cientistas já haviam observado com relação a este sintoma: mulheres que ordenhavam vacas, na Inglaterra, eram conhecidas pela beleza e não apresentavam as marcas da varíola, muito recorrentes em grande parte da população. Jenner nasceu em maio de 1749, na Inglaterra, e dedicou cerca de 20 anos de sua vida aos estudos sobre varíola.

 

Em 14 de maio de 1796, cem anos antes de que o mundo soubesse o que são os vírus, acreditando que as ordenhadoras que haviam adquirido das vacas uma doença semelhante, porém mais branda, estavam protegidas contra varíola, há 224 anos, o médico fez um experimento ousado (e irresponsável, diante dos moldes sanitários atuais): retirou a substância da lesão de uma dessas mulheres e inoculou em uma criança de 8 anos, James Phipps, filho de seu jardineiro. Seis semanas depois, no outro braço da criança, inseriu o próprio vírus da varíola e o garoto não adquiriu a doença!

O pai da imunologia repetiu os testes e, em dois anos, apresentou resultados em 21 testes diferentes, e no ano de 1798 divulgou seu trabalho “Um Inquérito sobre as Causas e os Efeitos da Vacina da Varíola”, mudando, a partir daí, completamente a ideia de prevenção contra doenças. Em 1800, o processo ganhou nome: “vacinação”, em referência a ser derivado da “vaca”.

A palavra vacina, que em latim significa “de vaca”, por analogia, passou a designar todo o inóculo que tem capacidade de produzir anticorpos. Jenner contou ainda com uma sorte grande, já que são raras as doenças em que um vírus diferente do causador da enfermidade seja capaz de atenuá-la.

Sagacidade de raciocínio e êxito no experimento não foram suficientes para convencer uma comunidade ainda temerosa quanto à eficácia das vacinas. ​Em algumas regiões da Inglaterra, Jenner foi ridicularizado porque, às vezes, o vírus bovino não funcionava. Uma hipótese é que existia um outro vírus em animais que gerava lesões similares às conhecidas pelo médico, mas, como pertencia a um gênero diferente, não protegia contra a varíola.

Havia também os que consideravam o processo um absurdo. Charges divulgadas em jornais da época satirizavam a vacinação mostrando pessoas imunizadas se transformando em vacas (qualquer semelhança com as notícias atuais, talvez não sejam mera coincidência).​​

Jenner, então, construiu uma choupana em sua casa e se isolou para continuar vacinando as pessoas que desejassem. Aos poucos, os benefícios foram se  mostrando evidentes e sendo divulgados pelo planeta. Em 13 anos, todo o mundo já tinha recebido uma amostra do vírus vacinal.

 

Mesmo antes disso, a variolação como técnica para prevenir a varíola foi praticada durante séculos em muitas partes do mundo, incluindo África, China, Índia e o Império Otomano. Registros indicam que a variolação foi praticada pelos chineses desde o século XV. Eles praticavam variolação por insuflação nasal – essencialmente, você sugava algumas coisas pelo nariz. Esse “material” era geralmente crostas de varíola em pó. Era importante que as crostas fossem retiradas de alguém com um caso leve de varíola e que as crostas fossem secas – se fossem muito frescas, o “variolado” poderia ficar bastante doente.

Durante os séculos 18 e 19, a prática chegou ao Oriente Médio e à África. No entanto, a técnica diferia um pouco. Em partes da África, as mães amarravam um pano em volta do braço coberto de varíola de uma criança doente. Esse pano seria então amarrado ao braço de uma criança saudável – dando-lhes um caso leve de varíola, mas protegendo-os de um caso mortal. E Onesimus, um escravo africano de Cotton Mather, ensinou Mather sobre essa técnica em 1706.

 

Lady Mary Wortley Montagu introduziu a inoculação na Inglaterra, tendo aprendido sobre a prática na Turquia. Já na década de 1700, a variolação era amplamente usada na Inglaterra, em grande parte graças a Lady Montagu, esposa do embaixador britânico na Turquia. A essa altura, a técnica de variolação havia se tornado mais refinada – o chamado método Suttoniano.

Neste método, o material da varíola foi administrado através de um pequeno arranhão na pele.

 

Como ela encorajou outros a vacinar e proteger seus filhos contra a varíola, incluindo a Família Real, houve muito debate. Diz-se que “Os pró-inoculadores tendiam a escrever nos tons frios e fatuais incentivados pela Sociedade Real, com apelos frequentes à razão, ao progresso moderno da ciência e à cortesia subsistindo entre os senhores. Os anti-inoculadores escreveram propositalmente como demagogos, usando tons aquecidos e histórias de susto súdicas para promover a paranóia.” Estes podem ter sido os primeiros debates sobre vacinas na Europa.

 

Apesar da eficiência do processo, campanhas de vacinação desordenadas faziam com que a varíola continuasse aparecendo. Em 1968, a estimativa era de que o mundo alcançasse ainda 15 milhões de casos anuais. E foi através de ações organizadas que neste mesmo ano a OMS começou a atingir toda a população mundial, uma batalha finalizada apenas dez anos depois. Após sucessivas campanhas de vacinação por todo o mundo a doença foi erradicada em 1980.

Contestações a vacinas existem desde que as primeiras campanhas para vacinação foram organizadas. Elas são feitas a partir de argumentos que invocam a ética, a efetividade e a segurança dessas substâncias.

No Brasil, um episódio épico nesse sentido marcou a primeira campanha de vacinação lançada pelo governo federal. Foi em 1904, no Rio de Janeiro, quando o Estado lançou uma campanha de vacinação obrigatória para combater a varíola.

O projeto, no entanto, foi aplicado de forma autoritária: com pouca informação dada à população, agentes sanitários invadiram casas e vacinaram pessoas à força, provocando uma grande reação popular, que entrou para a história nacional como a “Revolta da Vacina”. Boa parte da população não sabia do que se tratava a substância e temia ser infectado pelo vírus da doença a partir da injeção.

Críticos contemporâneos questionam a forma como as vacinas são desenvolvidas, por exemplo, ou argumentam contra a obrigatoriedade da vacinação, que atacaria liberdades individuais. Há ainda a alegação de que o número excessivo de substâncias que devem ser tomadas seja prejudicial e dê origem a vírus e bactérias mais resistentes.

Cientistas afirmam que o desconhecimento sobre o tema e a existência de inúmeros boatos e informações sem embasamento científico sejam responsáveis por um grande número de ocorrências de doenças que poderiam ser evitadas, caso as instruções sobre vacinação fossem seguidas.

Ainda assim, a OMS calcula que as vacinações atualmente evitam entre 2 e 3 milhões de mortes por ano.

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