“Soube que ia ganhar a eleição quando conheci”, afirma André Gomes, publicitário de Jorginho Mello
André Gomes, 58 anos, instalou-se com a família em Florianópolis em quatro de julho e voltou nesta sexta para São Paulo convicto que Santa Catarina elegeu o melhor governador da sua história. Desde 1992, o publicitário fez em torno de 30 campanhas vitoriosas, incluindo a reeleição de Geraldo Alckmin e a eleição de João Dória ao governo de São Paulo, mas nenhum cliente o impressionou como Jorginho Mello (PL). Ele soube ter o candidato vencedor assim que conheceu o senador.
“Quando você conhece o Jorginho, não tem como não gostar dele. Você se apaixona pelo Jorginho, porque ele é uma pessoa comum”, conta. Também os catarinenses, tão à direita, conservadores e interessados em expressar seus valores, interessavam ao especialista em marketing político. No final das contas, fez aqui uma campanha com votação recorde, maior que a do presidente Jair Bolsonaro, com uma história bastante familiar. “Um homem simples do interior, de uma família de sete irmãos que batalhou muito pra estudar, teve uma vida difícil e é como muitos outros catarinenses que prosperaram.”
O desempenho da campanha é um dos melhores do Brasil, se levar em conta que é o único eleito em chapa pura, que começou com 43 segundos de TV, contra três fortes adversários bolsonaristas que incluíam o atual governador Carlos Moisés (Republicanos), o ex-governador por duas vezes Esperidião Amin (PP) e o ex-prefeito da Capital Gean Loureiro (União Brasil).
“O mais importante é que erramos pouco”, simplifica o estrategista, sem deixar de lado a devoção do time de Jorginho. “Como não tinha outra saída que não a vitória, a gente fez o impossível”, celebra. Também isso conta um pouco a história do governador eleito, batizado no diminutivo por seu pai, porque nasceu muito pequeno aos sete meses.
A “imersão proveitosa” de André Gomes em Santa Catarina incluiu sua mulher, a psicanalista Ana Paula, a filha Juliana Isa e o genro Baebi, nome indígena do diretor de cinema e cinegrafista da campanha, com a netinha Zoe que vai fazer um ano. Por telefone, na noite de quinta, André Gomes conversou com a coluna Pelo Estado. Agora já vai embora, como aquele vizinho agradável que se lamenta conhecer somente quando já está de mudança. Mas ele garante que estará por perto. Pela capacidade de Jorginho de negociar e conciliar, aposta que serão superados ressentimentos e Santa Catarina terá mais paz e prosperidade.
Das 40 campanhas que você já fez, queria saber que número de vitória é essa?
De 40 campanhas, ganhei umas 30. Não fiz essa conta exata, mas fiz campanha em 2018 para João Dória, em 2014 para Geraldo Alckmin, 2010 para Aloísio Mercadante. Há 30 anos, quando eu comecei, a primeira campanha que fiz foi a do Paulo Maluf junto com Duda Mendonça e Nelson Biondi. Campanha vitoriosa. De lá pra cá eu já fiz campanha do Celso Pitta, que se elegeu. Lucio Alcântara, Tasso Jereissati, todos esses se reelegeram, né? Garotinho no Rio, Eduardo Braga no Amazonas, Henrique Meirelles, Celso Daniel, Marta Suplicy. Tenho uma carreira de quarenta campanhas, quarenta e uma agora, e devo ter ganhado umas 30. Campanhas muito vitoriosas, graças a Deus.
Nossa, é um excelente resultado. Como das campanhas do PSDB e PT você chegou a esse outro campo, digo, você já imaginava que a terceira via não aconteceria nessa eleição?
Então, pelo fato dessa disputa ser entre um presidente e um ex-presidente e a primeira vez que o Lula teria um adversário do porte do Bolsonaro. Lula sempre foi um candidato muito respeitado pelos seus oponentes. O Bolsonaro tem uma pegada diferente. Desde a eleição dele, em cima da ficha suja do PT, dos escândalos, foi uma campanha muito contundente. Dessa vez, Lula sabia que ia ter um adversário que se comunica bem, líder da direita e que poderia bater nele abaixo da cintura, uma coisa que ele nunca passou numa campanha eleitoral. A gente viveu uma campanha muito pesada, né? Com um nível de agressividade nunca visto antes, com acusações e fake news. Imaginava que não teria espaço no caminho do meio, porque a polarização já tava dada e seria uma batalha entre dois gigantes da política. Representando dois extremos. Não teria como a terceira via ser bem sucedida.
E agora você acha que é possível reconciliar o Brasil de alguma forma? Isso é importante?
Eu eu não tenho dúvida disso. O Lula não tem espaço pra fazer um governo como da primeira vez. O governo dele vai ser um governo de coalizão. O Brasil está fraturado depois desse processo político e ele está trazendo o MDB, vai trazer o PSD, vai trazer outros partidos, vai ter que compor. Não tenho dúvida que o presidente Lula vai precisar trabalhar nessa linha, até porque o povo também, de certa forma, apesar do resultado das urnas, o que o povo quer é ter uma melhora na economia, ter melhores serviços públicos. Esse clima de acirramento, passado o momento da pandemia, da guerra e da campanha eleitoral, acaba. As pessoas estão querendo paz e tranquilidade. Esse espírito de um Brasil mais pacífico vai ser a tendência dessa nova gestão. Até porque Lula não tem os antigos companheiros do PT, não acredito que estarão tão presentes assim nesse governo do Lula.
E o Bolsonaro? Qual o caminho dele até 2026? Como você imagina que isso vai acontecer?
Bolsonaro é um líder em contexto da direita. De extrema direita, como ele se consolidou. Ele é esse porta-voz, ele tem esse papel. Agora depende muito dele, né? De como colocará, ele é uma pessoa única, tem um perfil muito aguerrido. Acredito que ele tem sua liderança, mas precisa montar uma agenda inteligente, uma agenda internacional, precisa se posicionar bem dentro do tema da direita não só no Brasil mas fora do Brasil. Tem que construir um projeto, porque quando você está fora do poder, não consegue ser uma voz atuante se não tiver protagonismo também fora do seu país. Você tem que ser respeitado fora do seu país pra que aquilo repercuta positivamente fora e também repercuta dentro. Ele teve 58 milhões de voto, tem aí um senso crítico, a sociedade está fraturada, dividida com o resultado das urnas, não foi um resultado que agradou. Há um eleitor que poderia ter caído pra um lado como caiu pra outro, foi uma vitória muito apertada, mas acredito que Bolsonaro tem um papel. Vamos ver como ele vai desempenhar esse papel. Realmente tenho dúvidas sobre como ele vai conduzir isso. Tem um espaço significativo pra ele trabalhar. Mas como ele vai fazer, realmente tenho dúvidas.
Bolsonaro terá papel de líder da extrema-direita se construir agenda internacional.
Sendo que deve ser a última eleição do Lula, quais são os nomes que saem dessas eleições para 2026?
Um nome natural é de Romeu Zema. Os candidatos eleitos esse ano vão ter que se provar governadores que tenham entregas. Então acho que não é espaço para governador de São Paulo como o Tarcísio (de Freitas), mas Zema é um player. Vamos ver como Geraldo Alckmin se sai dentro desse governo. A gente fala quatro anos antes, mas eleição depende muito da economia, da situação do país, como o povo está se sentindo quando chega a nova disputa. Tudo isso é muito emblemático. Se a economia estiver bem, o governo estiver bem avaliado, as políticas públicas tiverem alcançado seus objetivos, aí o incumbente tem chances de ser bem sucedido numa reeleição. Neste caso, o Lula não disputaria, então Geraldo Alckmin seria um player natural na sucessão de Lula. Agora, tudo depende da questão econômica. Se nessa eleição, por exemplo, a economia estivesse melhor, se a vida do brasileiro estivesse mais fácil, a eleição não teria ocorrido como ocorreu e Bolsonaro estaria de novo no próximo mandato.
O governo de Lula será de coalizão, até porque o povo quer é melhora na economia.
Quando começou a campanha pra você em Santa Catarina, quando você começou a vir pra cá?
Na verdade não é que vim pra cá, me mudei pra cá, né? (risos) Mudei definitivamente para cá, com a família, dia 4 de julho. Nesta sexta, quando estou indo embora, completam quatro meses que estou morando em Santa Catarina. Mas eu comecei a vir antes, em junho. Foi um trabalho muito intenso e foi bom ter feito essa imersão, porque nunca tinha trabalhado num Estado tão de direita, né? Como é o caso aqui de Santa Catarina e foi um aprendizado muito grande, foi uma experiência incrível.
Você acompanhou, então, todo o desafio de Jorginho concorrer em chapa única… Você chegou a estimular essa situação ou era um problema não ter conseguido aliados?
É, participei dessa construção desde o início. Defendo sempre para meus clientes que é mais importante o discurso do que o tempo de TV. Quando fui entendendo o que estava acontecendo aqui, com relação aos espaços políticos, nas nossas conversas, Jorginho estava muito confiante em concorrer com chapa pura e eu também estava. Porque a gente tinha um discurso muito contundente: Jorginho, pelo histórico de não ter perdido nenhuma eleição e, ao longo da pandemia, ter criado o maior programa de ajuda financeira do país, podíamos mostrar que Jorginho é um político de entregas. Como senador, em apenas quatro anos de mandato, foi duas vezes eleito o melhor senador do país, salvou 10 milhões de empregos durante a pandemia, 750 mil empregos aqui em Santa Catarina. Então, foi com certa tranquilidade que enfrentamos essa configuração, porque eu sabia que apesar do desafio dos 43 segundos, tínhamos um discurso e, mais do que tudo, tínhamos o melhor candidato disparado. Jorginho é um homem simples, é o catarinense simples, ele é aquele catarinense que deu certo. Um homem simples do interior, de uma família de sete irmãos que batalhou muito pra estudar, teve uma vida difícil e essa é a história de vários catarinenses que prosperaram, né? Se vê todo dia gente que acorda muito cedo e trabalha muito, dá muito duro, e acaba sendo bem sucedida na vida. O Jorginho é um catarinense comum e pelo fato dele ser um catarinense comum ele não é fake. Jorginho é uma pessoa original, ele é aquilo que você conhece, de verdade. Isso facilita muito o nosso trabalho.
Jorginho é um catarinense comum, ele não é fake, é original, um catarinense que deu certo.
Vocês já sabiam que o 22, o número de Bolsonaro, ia ser definitivo, certo?
Claro. A gente quando entra numa campanha, faz uma matriz SWOT pra entender quais são as oportunidades, as fragilidades, as vulnerabilidades e as fraquezas, nossas e dos outros candidatos. Sabíamos que o 22, estar no partido do presidente Bolsonaro, seria um ponto positivo da nossa campanha. Mas outros candidatos utilizaram o Bolsonaro em suas campanhas. Então, não bastava o Bolsonaro em si ser o ponto forte disso, porque ele estava presente em outras candidaturas também. Mas nós tínhamos uma mensagem que eu acho ficou muito acertada. Tínhamos pouco tempo de TV, 43 segundos de TV, dois comerciais por dia, então identificamos muito claramente que precisávamos falar com o eleitor. Esses atributos estavam muito claros e fomos fiéis à estratégia, conseguimos isso. O mais importante é que nós erramos pouco. Em campanha eleitoral, errar pouco é extremamente importante. Essa experiência de muitos anos fazendo marketing político nos dá a capacidade diferenciada de entendimento de cenário. Então, a gente sabe o que não fazer! Isso foi uma coisa positiva na nossa campanha.
É, no início parecia muito difícil, além de ter quatro candidatos bolsonaristas vocês não tinham nem vídeos de declaração de apoio do presidente, né?
Foi muito difícil, mas também é aquela história, né? A gente começou apresentando o Jorginho. Primeiro, ele era um candidato do oeste. Um candidato do interior, concorrendo contra três candidatos da Capital: Moisés, Amin e Gean. Isso já era bom pra nós. Outra coisa que entendíamos como muito positiva é que Jorginho tem uma empatia de vídeo muito grande. Ele passa muita credibilidade no vídeo. Então, comparado aos outros candidatos, ele tinha um impacto maior. Ele era melhor avaliado quando estava na TV. Conseguimos consolidar a as mensagens principais nos 43 segundos para explicar quem é Jorginho: um homem simples do interior que gosta de cuidar das pessoas. Ao longo da sua vida como parlamentar, trouxe dinheiro e trouxe recursos pra cá e foi eleito duas vezes melhor senador do Brasil, fez o Pronampe, tinha o apoio do Bolsonaro. Havia esse conjunto de informações que não poderíamos deixar de passar ao eleitor. Isso foi muito bem avaliado em todos os grupos de pesquisa que fazíamos ao longo da eleição. Foi percebido. Eu diria o seguinte: nós erramos muito menos do que os adversários.
O slogan de Moisés era muito esquisito, complicou a cabeça do eleitor, e ele se vestiu como o Zelensky paraguaio.
Quais foram os principais erros dos adversários?
Então, por exemplo, acho que a campanha do Moisés começou com um erro de conceito. O slogan pra seguir mudando, aqui já tem governador é muito esquisito, né? Para continuar mudando, aqui já tem governador: isso complica um pouco a cabeça do eleitor. Outra coisa, Moisés tinha que ter se vestido como governador de Estado e não como bombeiro, né? Nem como alguém que está enfrentando alguma guerra. Ele tentou fazer um estereótipo de um Zelensky paraguaio, como a gente deu uma carimbada nele no segundo debate. Isso diminuiu o Moisés. E não só isso, nas pesquisas, o governo do Estado era bem avaliado, tinha 55% de avaliação positiva, mas o Moisés era mal avaliado. As pessoas não sabiam dele, ele não tinha uma identidade, não tinha entrega, não tinha uma marca dele. Por outro lado, a campanha do Gean, com seus perfis de rede social, me parecia jovial demais, não tinha pegada de campanha pra governo, sabe? Parecia uma campanha pop. Uma campanha pop para um candidato a governo de Santa Catarina ficou meio desconexo pra mim, sabe? Faltou um pouco de seriedade. Pra prefeito de Florianópolis ele encaixa muito bem, mas pra governador de Estado faltava musculatura. Ele era o tiozinho que estava andando de skate, né? Tipo um tiozinho top de Florianópolis…
Gean era o tiozinho andando de skate, faltou musculatura e um pouco de seriedade.
Sendo que Santa Catarina, historicamente, não gosta muito de Florianópolis, além disso.
Ué, mas esse é o primeiro mandamento que a gente estava entendendo aqui, né? (risos) Se existe uma rejeição à questão da capital, ah, o pessoal de Florianópolis é visto dessa forma, então você tinha que tomar um cuidado com a forma de apresentar o candidato de Florianópolis.
Amin errou na estratégia e se comunica mal. Quando eleitor diz que é inteligente é porque não entendeu.
E o Esperidião?
Primeiro, acho que fez um grande erro de avaliação. Esperidião tem serviços prestados para o Estado, mas nos últimos 20 anos ele e a família dele perderam todas as eleições para o Executivo. O tempo dele passou, só que ele não entendeu que existia uma mudança geracional acontecendo de norte a sul do Brasil. Não há nenhum governador eleito na faixa dos 70 anos. Se olhar do Rio Grande do Sul, subindo, Eduardo Leite tem menos de 40 anos. Jorginho é o governador que está com um pouco mais de idade do que os outros, porque todos estão na casa dos 50 anos. Há uma mudança geracional e muitos dos catarinenses aos quais Amin se dirigiu não conheciam a obra dele. Do ponto de vista da comunicação, ele teria de ser mais eficiente, ele não se comunica bem, né? É muito prolixo, fala de um jeito que não comunica bem. Uma coisa que a gente aprende é o seguinte: quando o grupo de pesquisa diz que a pessoa é muito inteligente é porque não entendeu nada que aquele senhor está falando. E isso não é bom. O momento do Amin não era pra concorrer nessa eleição. Era para, de repente, estar junto com o Jorginho e fazer uma vitória no primeiro turno. Acho que ele fez um erro de análise. Ele não deveria participar dessa eleição, tanto que a esposa (deputada federal Angela Amin) não se elegeu, o filho (deputado estadual João Amin) não se elegeu. Foi um erro estratégico.
Quando é que você soube que ia ganhar essa campanha?
Eu? Quando conheci o Jorginho.
Sério?
Olha, é porque tenho um histórico de vitórias em campanha eleitoral. Graças a Deus, minha história é de muitas vitórias e poucas derrotas. A gente conhece quando tem um candidato muito competitivo na mão. Desde que conheci o Jorginho, senti muita firmeza, muita determinação, muito foco. Sabia o que estava fazendo quando nos unimos. Jorginho colocou que precisava de estrutura profissional, de gente com experiência, porque havia duas máquinas de guerra: a máquina de guerra do governador Moisés e a máquina do Gean com tempo de TV, estrutura, profissionais, dinheiro, arranjo político. Jorginho precisava de gente preparada pra fazer frente a esse desafio. Quando fiz minhas primeiras investigações, tinha certeza que conseguiria montar uma boa estratégia, organizar bem o jogo, o candidato tinha um legado expressivo. Então, saberia como apresentá-lo da forma correta e a circunstância iria favorecê-lo. Eu estava muito convicto e tranquilo com relação a isso. Nunca tive dúvida da vitória.
Que bacana. Qual foi o adversário mais difícil?
Adversário mais difícil? Foi a falta do tempo de TV, porque me obrigou a pensar uma campanha com o mantra que a gente usou pra toda a equipe: o erro zero. Nós usamos um mantra: não podíamos errar. Isso é uma coisa difícil de falar numa campanha, que você não pode errar. Quando não se tem tempo de TV, a campanha precisa funcionar bem, como se fala, na terra, no ar e no mar. Em todos os meios. Tem que montar estratégias para todas as áreas e elas precisam convergir. Na rede social, nos debates, nas entrevistas, nos comitês, no contato com as pessoas, nas agendas. A gente teve que olhar para cada detalhe da campanha, se dedicar em cada área da campanha, preparar cada área da campanha. Foi um trabalho gigantesco, essa foi pra mim a coisa mais difícil. Não achei um ou outro adversário mais difícil, mas éramos em número de profissionais, a menor a campanha. Quando conheci a equipe do Jorginho era uma equipe pequena de pessoas muito dedicadas, de pessoas muito aguerridas, fiéis escudeiras do Jorginho, que realmente amam o Jorginho. É o Jorginho Futebol Clube (risos). Isso chamou muito minha atenção porque uma coisa que a gente costuma dizer é que o exército que ganha a batalha não é o mais numeroso, mas o mais unido, mais aguerrido. Nós éramos um exército unido, aguerrido, muito fiel e com uma convicção que só teria a vitória. Não tinha saída. Sabe aquela coisa que você está encurralado e não tem saída? Era assim que a gente via, nossa cabeça era essa, a estratégia era essa: não há outra saída a não ser fazer o impossível. Então a gente precisou fazer o impossível.
E quando você soube que o adversário seria o candidato petista, Décio Lima?
Então, achava que existia uma possibilidade, mas que seria muito difícil, porque não acreditava que o candidato à reeleição pudesse cair dos 20%. Sempre nas nossas pesquisas, ele estava na casa dos 23%, 25%, 27%, depois 22%. Nunca achei que o Moisés pudesse cair de 20%. Como também não achei que Gean ficasse abaixo de 20%. Se olhar no Brasil, essa foi a única eleição em que quatro candidatos tinham dois dígitos de intenção de voto no primeiro turno. Então, não acreditava que Décio tivesse espaço pra ter mais do que 20%. Mas o eleitor foi migrando do Moisés, do Gean, do Amin pro Jorginho na reta final. Aí sobrou espaço pro Décio passar para o segundo turno com 17%. Nunca acreditei que um candidato iria pro segundo turno com 17%.
É que vocês foram pra 38%…
É, eu imaginava que a gente ia ficar nos 30%, mas 38% no primeiro turno foi uma surpresa.
Que tipo de governo será esse de Jorginho?
Acredito que o Jorginho fará um governo fantástico pra Santa Catarina. Primeiro porque se tem uma coisa que Jorginho entende é de gente. Ele é uma pessoa muito sensível, entende o problema das pessoas, vai priorizar as ações pra tirar as pessoas do sofrimento no curto prazo. Vai atacar os problemas da saúde rapidamente, vai enfrentar as questões sociais também rapidamente. Vai trabalhar no sentido de prover a educação de qualidade técnica e superior para o jovem. Honestamente, Santa Catarina está entrando num novo momento político e elegeu o melhor governador da história de Santa Catarina.
E qual o risco dele com esse eleitorado tão ressentido pela derrota do presidente?
A vida inteira do Jorginho foi negociar. Quem foi eleito como ele, pra ter o sucesso que teve ao longo de toda a vida pública, é um excelente negociador, articulador. Ele conhece os caminhos, também do Legislativo. Vai fazer um bom trabalho, eu tenho certeza disso. No Brasil é um momento de união, né? Então, é um momento para acalmar os ânimos, para a gente construir, passar uma borracha… A vida das pessoas está muito difícil. A gente está precisando de tempos mais prósperos, né? E o Jorginho é uma pessoa que tem esse astral, Jorginho é um cara do bem, não é um cara bélico. Ele vai construir um momento de mais prosperidade, vai trilhar esse caminho, sabe? Acredito que vai chegar fazendo com muita vontade.
Ele era o candidato da família, mas divorciado… Aí a campanha ativou a vice Marilisa e esse movimento de mulheres conservadoras. Tanto que PL elegeu as deputadas federal e estadual mais votadas em SC. Como que foi essa construção?
É. Isso faz parte da estratégia, né? (risos) Quando você entende um cenário, onde você está, tem que ir juntando as peças, é o nosso trabalho. O trabalho de estratégia é entender o que está acontecendo com todos os candidatos, com todas as candidaturas e ver aonde estão os seus pontos fracos pra poder fortalecê-los. Entendendo qual a demanda do eleitorado, o que está buscando e o que quer. Para poder atendê-lo, né? Essa construção com a Marilisa como vice era importante, pela história dela. Olhando os vices, por exemplo, o vice do Moisés (Udo Dohler), era um vice de Joinville, mas que tinha sido um prefeito mal avaliado. Quem era o vice de Gean, do fulano, aí você vai construindo. A gente entendia que precisava ser uma mulher. A Marilisa caiu como uma luva, porque era do partido, tinha uma história de defesa da mulher, fundadora da Delegacia da Mulher, delegada, professora, advogada. Melhor vice, impossível. E combina com o Jorginho, o que é o melhor.
Você conseguiu derrotar Fábio Veiga, publicitário que estava com Gean e tinha fama de imbatível, mesmo que tivesse perdido a eleição anterior. A votação recorde feita em Joinville deixou aquela de Luiz Henrique pra trás. O ex-governador só não deve estar se revirando porque dona Ivete (Appel da Silveira) agora é senadora.
Vou falar alguns números e metas que chamaram atenção nestas eleições. Entre os 15 governadores que se elegeram no primeiro turno, todos tinham o maior ou segundo maior tempo de TV. Dos 24 candidatos que passaram para o segundo turno, nos 12 estados que estavam em disputa, apenas dois candidatos não tinham o maior tempo de TV no primeiro turno. Jorginho Mello e o candidato do Mato Grosso do Sul. Dezenove deles tinham o primeiro ou o segundo tempo de TV. Mais, Jorginho é o único governador que se elegeu com chapa pura. Jorginho bateu o recorde proporcional de votos no Estado. Fez 70,69% dos votos válidos, Bolsonaro fez 69,27%. Fez mais voto do que o presidente no Estado. A nossa conjuntura foi de erro zero, porque as pessoas que entraram na campanha eram devotas do Jorginho, sabe? Não eram pessoas que estavam trabalhando pra um candidato, pra uma campanha eleitoral. Existia uma vontade, uma legitimidade, uma necessidade. Essas pessoas queriam eleger o Jorginho do fundo do coração. Então isso fez uma diferença absurda. As pessoas trabalharam muito, sabe? Isso me chamou muito à atenção. De todas as campanhas que eu fiz, que eu coordenei, campanhas grandes, as últimas em São Paulo, campanhas que foram muito disputadas, essa campanha me chamou à atenção pela dedicação. A devoção, a dedicação das pessoas, o espírito de equipe e a liderança do Jorginho. Porque o Jorginho é um líder carismático, ele envolve você. Quando você conhece o Jorginho, não tem como não gostar dele. Você se apaixona pelo Jorginho, porque ele é uma pessoa comum…
Ele é divertido.
Ele é super divertido. Muito divertido. Então, ele é um cara do bem, ele é um cara astral, não é afetado, sabe? Ao longo dessa campanha, dos cinco meses que eu estive com ele, nunca tive uma discussão com o Jorginho, sempre foi uma relação de muito respeito, foi uma relação muito profissional como nunca tive com nenhum cliente que trabalhei até hoje.
O que você aprendeu com esse eleitorado de direita, como você falou, desse Estado?
Olha, isso aí foi pra mim uma grande de experiência. Foi a coisa mais sensacional que eu podia ter. Porque, imagina, eu vindo de São Paulo, nunca trabalhei com essa pegada como a de Santa Catarina. Tão conservadora. Pelo fato de vir de fora, há um distanciamento emocional que permite analisar as informações com muita frieza. Uma das coisas que o Jorginho gostou foi o fato de eu não ser daqui. Disse que isso seria importante pra ele, porque eu conseguiria olhar as coisas de um jeito diferente. Entendi o que as pessoas queriam, como elas queriam, quais eram os valores, o que precisava ter na composição da nossa campanha e foi uma coisa incrível. Esse conhecimento do eleitorado de direita, mais conservador, foi muito, muito interessante pra mim. Foi uma imersão muito proveitosa.
O que esse eleitorado quer?
É um eleitorado que fala em defesa de valores. É essa agenda que está mais sintetizada no bolsonarismo, né? As pessoas querem poder falar, querem se manifestar. Elas querem ter o direito de se manifestar, ter a liberdade assegurada, querem poder contestar o que não gostam. Tem um senso assim de patriotismo, né? É um estado muito politizado, tivemos cinco ou seis candidatos muito robustos, com história. Dificilmente você vê um quadro desse, em primeiro turno, no Brasil. Políticos de muita qualidade, todos com entrega, governadores, senadores, prefeito, ex-prefeito. Achei muito interessante a politização de Santa Catarina.
Sua família curtiu a temporada em Santa Catarina?
A família adorou. A coisa que mais nos impressionou é o fato da segurança pública não ser uma questão em Santa Catarina. Faz muita diferença na vida da gente. É muito diferente isso. Foi um projeto da família que funcionou, um momento que deu muito certo.
Você trouxe alguém pra as mídias digitais?
Quem coordenou a parte de redes sociais foi o Sérgio Lima, que é uma fera na área de redes sociais e foi um cara que fez toda a diferença. É um estrategista de mão cheia. As redes sociais foram extremamente importante para o nosso trabalho no primeiro turno. Foi um trabalho imprescindível, nos ajudou muito, foi muito assertivo.
O que você vai fazer agora, André Gomes, depois dessa vitória?
Então, agora, a gente volta pra nossa vida lá em São Paulo, tem outros negócios, né? Vou continuar com a minha consultoria de marketing político, aproveitar pra viajar um pouco, campanha é uma coisa muito estressante, né? Mas agora, depois da missão cumprida com tanto êxito, vou curtir um pouco, vou viajar. Aproveitar. E se Deus quiser, a gente espera estar próximo aí de vocês.
Jornalista: Adriana Baldissarelli, com colaboração de Cláudia Carpes
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