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Sobrevivente: a história de uma das vidas salvas pelo Saer

Jair Effting Warmling ficou seis horas sob uma pedra de 100 toneladas e sobreviveu graças ao atendimento dos socorristas

Oito horas. Foi o tempo que Jair Effting Warmling, de 54 anos, ficou embaixo de uma pedra de 100 toneladas que tombou sobre ele e o trator que ele dirigia em Braço do Norte. Era apenas um serviço rápido a ser realizado na manhã de 10 de março de 2021. O que ele não imaginava, era que o tempo passaria tão devagar.

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Com um trator, Jair saiu de casa por volta das 8 horas da manhã para ajustar uma parte do terreno de sua propriedade, a cerca de 500 metros de distância, onde colocaria algumas caixas de abelha, já que a apicultura é um dos seus hobbies . O trabalho com a máquina durou pouco mais de uma hora. “Era coisa rápida, eu já tinha terminado. Só fui pegar um pouco de terra para jogar no barranco, quando senti um tremor”, lembra Jair.

Esse tremor, era uma pedra de cerca de 100 toneladas que se desprendeu de um paredão de terra e atingiu o trator em cheio. Primeiro, o susto. Depois, o medo, ao olhar para o seu corpo, e perceber que as pernas estavam trancadas embaixo da grande rocha, entre o trator. “Depois que passou o susto eu pensei: posso morrer, e se isso acontecer, vai ser por hemorragia. Preciso fazer algo, não posso me entregar assim”, conta.  Rapidamente, Jair improvisou um torniquete em seu braço, com um pedaço de lona, para estancar o sangue. Ficou com o braço levantado e não tinha o que fazer a não ser, esperar. “Sabia que uma hora alguém viria atrás de mim. Justamente nesse dia eu não levei o celular, então, não tinha o que fazer”, relembra.

Pedra de 100 toneladas que tombou sobre Jair – Foto: Caroline Sartori

A dor aumentava a cada minuto. Uma garrafinha de água que sempre levava em seu trator, ajudou a aliviar a sede no momento de angústia. Questionado sobre o que fez ele lutar tanto pela vida, sem pensar, ele logo responde: “Minha família. Eu não podia deixar eles aqui sem mim. Era injusto eu morrer e abandonar eles que dependem de mim. E morrer assim, de graça”, lembra Jair emocionado.

O encontro 

Já passado três horas naquela situação, seu Jair ouve a voz da esposa chamar por ele. “Todo dia ele sai para trabalhar, mas meio-dia vem em casa almoçar. E quando deu 12h30min e ele não aparecia, comecei a ficar preocupada, então decidi procurar”, lembra a esposa Leonete Schmoeller Warmling, de 49 anos.

Leonete percorria os hectares de terra e gritava pelo nome do esposo, quando ouviu a voz de Jair gritando: estou aqui preso. Sem saber de onde vinha e o que estava acontecendo, voltou pra casa e pediu ajuda da filha, Ariane Schmoller Warmling, de 15 anos, e da cunhada, Luciana Warmling.“Quando a minha cunhada encontrou ele, gritou pra gente chamar o Corpo de Bombeiros e trazer oxigênio. Correndo a minha filha foi pra casa e avisou a comadre. Eles acionaram o socorro e chamaram outras pessoas para ajudar também”, conta a esposa. Logo, o socorro chegou.

Atendimento do Saer foi fundamental para salvar a vida do agricultor

Antes de chegar ao local do acidente, o Corpo de Bombeiros acionou o Serviço de Atendimento e Resgate Aeromédico do Sul (Saer/SaraSul), devido ao local ser de difícil acesso. Assim que os militares chegaram no local e perceberam a gravidade do estado de saúde de Jair, confirmaram a necessidade dos profissionais do Saer/SaraSul.

Foram cerca de seis horas de trabalho para estabilizar o quadro clínico de Jair e retirá-lo debaixo da grande pedra. “Quando fomos acionados, era para atender um capotamento de trator, não sabíamos da gravidade. Chegamos na casa, nos levaram com um trator até o seu Jair. Chegando lá, nos deparamos com uma pedra enorme em cima dele. A gente fez o primeiro atendimento até a chegada da aeronave. Quando chegaram, os profissionais do Sarasul sedaram ele e disseram: agora vocês podem trabalhar”, conta o soldado do Corpo de Bombeiros de Braço do Norte, Michel Cardoso. “Quando os médicos conseguiram tirar ele dali, foi como se ele tivesse nascido de novo. Todos se emocionaram”, lembra a comadre Rosilene.

Momento do resgate realizado pelo Saer/Sarasul e Corpo de Bombeiros
Momento do resgate realizado pelo Saer/Sarasul e Corpo de Bombeiros

“Eu só queria saber se meu pai estava vivo”, conta a filha Ariane.

A esposa de Jair, Leonete Schmoller Warmling, que hoje, dia 21, completa 49 anos, conta que não teve coragem de ir até o local do acidente. Ela ficou em casa auxiliando os profissionais que procuravam por ajuda. “Fiquei em casa ajudando como podia e a única coisa que eu queria saber era se ele estava vivo”, relembra.

O casal tem dois filhos, Ariane Schmoller Warmling, de 15 anos, e Frederico Schmoller Warmling, de 11 anos.  Ariane lembra de todos os detalhes do dia, do desespero e do medo de perder o pai. “Ele não podia morrer”, relembra com lágrimas nos olhos.

Jair ao lado da esposa Leonete Schmoller, filha Ariane Schmoller, comadre Rosilene Becker e seu filho, em frente a pedra de 100 toneladas – Foto: Caroline Sartori

Hoje, passados nove meses do acidente, Jair vive uma vida normal. Apesar de ter perdido quatro dedos da mão esquerda, ele trabalha diariamente como produtor artesanal de cachaça, que costuma vender na Feira da Cachaça todas as sextas-feiras, em Braço do Norte. No terreno de casa, ele ainda tem algumas caixas de abelha, aquelas, que levaram Jair a arrumar as terras no dia do acidente.

Caixas de abelha de Jair – Foto: Greice dos Santos

O que sobrou do trator esmagado pela grande pedra, está nos fundos de sua casa, em um galpão. E quem pensa que ele ficou com trauma ou não quer mais ver os restos em sua frente, se engana. “Do que sobrou eu vou fazer outro trator. O que estragou foi só a carcaça, o coração ainda está bom”, conta Jair mostrando os pedaços que sobraram.

Jair mostrando o que sobrou do trator esmagado pela pedra de 100 toneladas – Foto: Greice dos Santos
Jair mostrando o que sobrou do trator esmagado pela pedra de 100 toneladas – Foto: Greice dos Santos
Restos do trator esmagado pela pedra de 100 toneladas – Foto: Caroline Sartori
Restos do trator esmagado pela pedra de 100 toneladas – Foto: Greice dos Santos
Restos do trator esmagado pela pedra de 100 toneladas – Foto: Greice dos Santos

Um ano no ar salvando centenas de vidas 

O Jair foi um dos 185 pacientes atendidos pela equipe do Serviço de Atendimento e Resgate Aeromédico do Sul (Saer/SaraSul), desde a implantação. Nesta terça-feira, dia 21, completa um ano de operações na Região Carbonífera. O serviço é custeado pelo Consórcio Intermunicipal de Saúde da Amrec (Cisamrec) e desenvolvido em parceria com o Saer da Polícia Civil.

Helicóptero Saer/Sarasul em frente a base da Polícia Civil em Criciúma – Foto: Lucas Colombo

Neste um ano de operação, as equipes foram acionadas 182 vezes e atenderam 185 pacientes, uma média de 16 operações aeromédicas por mês. Desses atendimentos, as maiores incidências foram de casos de politrauma em virtude de quedas e acidentes de trânsito, seguido de infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e afogamento.

Para a equipe que atua diariamente no Saer/Sarasul, completar um ano na região é muito gratificante. “Foi difícil no início pra gente conseguir mostrar a importância do trabalho do Saer/SaraSul. Conseguimos neste um ano mostrar a diferença de ter o serviço aqui. Quem foi atendido pela equipe e teve uma mudança na vida, é muito grato e sabe a importância que tem o serviço aeromédico”, relata o enfermeiro do Saer/SaraSul, Magdiel Domingues.

Magdiel Domingues, enfermeiro do Saer/Sarasul – Foto: Lucas Colombo

A empresa OZZ Saúde, contratada pelo consórcio, é responsável pela execução do serviço, que prevê a disponibilização de pessoal, materiais médicos, dois enfermeiros e uma farmacêutica. O serviço é gratuito e exclusivo aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). A operação é realizada com helicóptero da Polícia Civil e as equipes são integradas. Os acionamentos acontecem por meio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ou do Corpo de Bombeiros.

Segundo o delegado da Polícia Civil, e coordenador do Saer/Sarasul, Alan Amorim, cada hora de voo da aeronave custa em média R$10 mil. Mas, esse valor, comparado aos benefícios para a vida do paciente, acaba se tornando algo irrisório.

Alan Amorim, delegado da Polícia Civil e coordenador do Saer/Sarasul – Foto: Lucas Colombo

O Saer/Sarasul conta com 23 profissionais da Polícia Civil, sendo comandante da aeronave, copiloto e operadores aerotáticos, nove médicos, três enfermeiros e uma farmacêutica. “Todos que trabalham aqui, não estão pelo dinheiro, mas porque escolheram estar aqui. Pois gostamos, faz a diferença para a população. Sempre que o Saer/Sarasul sai da base, é para um atendimento grande. E todo mundo que está aqui, gosta exatamente disso”, relata um dos médico do Saer/Sarasul, João Eugênio.

João Eugênio, médico do Saer/Sarasul – Foto: Lucas Colombo
Equipe Saer/Sarasul em frente a aeronave e base da Polícia Civil em Criciúma – Foto: Lucas Colombo
Médico e enfermeiro do Saer/Sarasul em frente a aeronave e base da Polícia Civil em Criciúma – Foto: Lucas Colombo
João Eugênio, médico do Saer/Sarasul com desfibrilador – Foto: Lucas Colombo

Acompanhe abaixo vídeo de Jair agradecendo os profissionais que salvaram sua vida:

Reportagem: Edson Padoin

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