Os sete anões de Auschwitz, como ficaram conhecidos, sobreviveram ao nazismo graças a um dos homens mais perversos da história: Josef Mengele, nas mãos dele passaram por meses de experiências traumáticas no campo de concentração. De todas as histórias absurdas desse período, poucas são mais intrigantes que a dos sete anões de Auschwitz: uma família romena, de nome Ovitz, que conseguiu passar pelo célebre campo de concentração por causa de sua deficiência. E uma frase que poderia resumir esta narrativa foi pronunciada por Perla Ovitz: – “Fomos salvos pela graça do diabo!”. O “diabo”, em questão, tinha nome, sobrenome e apelido: Josef Mengele ou Todesengel, o Anjo da Morte.
O vilarejo de Rozavlea, na atual Romênia foi muito conhecido por sua grande população judaica, incluindo a família Ovitz. A maioria dos membros dessa família nasceu com nanismo, transtorno que dificulta o crescimento. A herança genética veio por parte pai, o rabino Shimshon Eizik Ovitz, um anão que se casou duas vezes, com mulheres que tinham o tamanho comum.
Essa condição nunca impediu que os irmãos Elizabeth, Rozika, Avram, Frieda, Micki, Franzika e Perla, se expressarem como artistas. Após a morte de Shimshon, a família teve que pensar em uma solução para se manter, eles tinham poucas oportunidades para trabalhos convencionais, por isso, decidiram seguir no mundo da arte. Os Ovitz eram talentosos e fizeram sucesso como artistas itinerantes formando a trupe Jazz Band of Lilliput, e saíram em turnê pela Europa Central.
Como eram judeus, a família teve que parar de fazer apresentações durante o período da Segunda Guerra, em uma tentativa de escapar dos nazistas, esconderam todos os seus objetos de valor em um buraco cavado embaixo do local onde eles estacionavam o veículo da trupe — tentando passar despercebida o máximo que pode.
Porém, não demorou muito para que o exército de Adolf Hitler invadisse a região da Romênia onde a família estava, eles foram capturados em março de 1944 e todos os parentes foram parar no campo de concentração de Auschwitz.
Lá, os irmãos passaram por todos os tipos de tortura quando se depararam com o médico nazista Josef Mengele, conhecido como o Anjo da Morte. O homem fez diversos experimentos aterrorizantes com os judeus, a família Ovitz não escapou.
Mengele ficou famoso por fazer atrocidades nos campos de concentração, como testes de morte exclusivo para mulheres, além de matar ciganos e extrair seus olhos. O médico também fez experimentos com gêmeos, retirando seus órgãos para uma pesquisa. Ele colecionava o que chamava de aberrações – gêmeos, corcundas, gigantes, hermafroditas, obesos etc.
O Anjo da Morte costumava matar suas vítimas depois, porém, com os Ovitz isso não aconteceu, a obsessão do médico pelos anões, deu a chance para que eles pudessem escapar. O homem decidiu deixar os sete anões vivos, seu objetivo era continuar com os testes torturantes para entender mais sobre eles. Durante esses experimentos Mengele foi extremamente brutal.
Segundo Elizabeth Ovitz, o médico retirava fluidos da coluna vertebral dos anões, fazia diversos tipos de testes invasivos, incluindo ginecológicos e cerebrais, além de invadir regiões sensíveis como a boca e o nariz. O médico chegou a obrigar a família a ficar nua na frente do exército nazista, para que ele pudesse explicar suas conclusões sobre o nanismo. Geralmente, anões eram dissolvidos no ácido para que seus corpos fossem levados para museus e centros de pesquisas por toda a Alemanha. Esse seria o destino dos Ovitz, quando o Exército Vermelho invadiu o Campo e libertou seus prisioneiros.
Esse pesadelo durou sete meses, até que o campo de concentração fosse libertado, em janeiro de 1945. Os Ovitz viraram uma lenda. Livros de sobreviventes diziam que eles foram executados todos juntos ao lado de uma vala; que o bebê do grupo teve sua cabeça esmagada na parede por um oficial (um expediente comum); que fugiram.
Na verdade, a família escapou com vida. Os Ovitz retornaram então para Rozavlea, ao chegarem perceberam que a cidade estava um caos, assim como toda a Europa, porém, seus bens ainda estavam escondidos no mesmo lugar.
Com esse dinheiro, eles migraram durante algum tempo até encontrarem seu novo lar em Israel, onde continuaram com apresentações da trupe até 1955. Os irmãos decidiram encerrar a companhia depois disso, já que estavam fisicamente muito desgastados.
Avram morreu em 1972, aos 69 anos, mesmo ano em que Micki, que tinha 63. Freida morreu em 1975, com 70 anos. Em 1980 ocorreu o falecimento de Franzika, com 90 anos. Em 1984, a morte da primogênita, Rozika, aos 98 anos. Elizabeth morreu aos 78 anos, em 1992. E Perla, aos 80 anos, foi a última a morrer, em 9 de setembro de 2001 de causas naturais. Tudo graças à sorte, ao imponderável, às suas características físicas – e, principalmente, à curiosidade doentia de um dos homens mais perversos da história.
Tendo comprado uma sala de cinema em Israel, os Ovitz tiveram herdeiros que seguiram no show business, descendentes apenas dos homens, que puderam ter filhos altos. As mulheres, muito prejudicadas pelas experiências, não conseguiram engravidar.
Para enriquecer tudo que contei aqui, posso sugerir a leitura do livro “Gigantes do Coração: A Emocionante História da Trupe Lilliput”, e pra quem quer conhecer um pouco mais sobre o monstro e cruel médico Josef Mengele, existe alguns filmes que abordam sua história e suas experiências bizarras, como “O médico alemão” que conta um pouco sobre sua fuga após guerra, em que o médico tem como esconderijo a Argentina e finalmente o Brasil; este filme você pode assistir na Globoplay.
Sugiro também o filme “O Anjo de Auschwitz”, disponível no Amazon Prime, que conta a história de uma parteira polonesa que, depois de ser feita prisioneira pelos nazistas, é recrutada pelo Dr. Mengele para trabalhar no hospital como sua ajudante. Quando descobre os terríveis experimentos feitos pelo médico, especialmente em mulheres grávidas e crianças, ela decide salvar o máximo de vidas possíveis.
Um documentário maravilhoso disponível na Netflix, que se chama “Três estranhos idênticos” remonta a história de Robert, David e Eddy que são trigêmeos. Desconheciam a existência um do outro até os 19 anos. Quando se descobrem, nos anos 1980, o encantamento é imenso, um sentimento de tal maneira avassalador que eles só pensam em enxergar aquilo que têm em comum: os detalhes do corpo, o olhar, o gestual, o gosto pelos esportes, o temperamento etc.
As crianças nasceram em um subúrbio de Nova York em julho de 1961. Foram entregues pela mãe biológica a um orfanato mantido pela comunidade judaica. Todos eles sabiam que eram adotados, mas não imaginavam que tinham irmãos. Suas famílias tampouco jamais foram informadas desse fato.
Até que, por uma incrível coincidência, o cenário muda. Chega a hora de Robert Shafran — adotado por um médico e sua esposa — ir à universidade. No primeiro dia de aula, ele é recebido de forma estranhamente calorosa pelos colegas. Alguns rapazes desconhecidos o abraçam. Meninas que ele nunca viu o beijam sensualmente. Eles o chamavam de Eddy Galland. Assim, o rapaz descobre que tem um gêmeo. Mais adiante, encontram o terceiro irmão. Por trás desse segredo, há um experimento científico de arrepiar e moralmente muito questionável.
O documentário narra uma história, por si, excepcional. O roteiro aprofunda isso, ao valorizar mistérios que só se esclarecem no fim. É imperdível.
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