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Reconhecer limites não é fraqueza

Quando a saúde mental está em crise, reconhecer a necessidade de ajuda nunca é sinal de fraqueza. Grandes vencedores sabem disso.

Nesta semana, o tricampeão mundial de surf Gabriel Medina anunciou que não participará das primeiras etapas da Liga Mundial de Surf (WSL), porque está precisando cuidar da saúde física e mental. Em suas redes sociais e em nota oficial informou que está em tratamento psicológico e que ainda não sabe quando voltará a competir.

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“Reconhecer e admitir para mim mesmo que não estou bem vem sendo um processo muito difícil, e optar por tirar um tempo para me cuidar foi talvez a decisão mais difícil que já tomei em toda a minha vida. Me questionei muito nos últimos tempos se deveria tornar isso público ou manter de forma privada, mas é justo que todos vocês que sempre torceram por mim saibam do momento que estou enfrentando. A saúde mental é muito importante. Preciso estar 100% mentalmente para voltar a competir”, declarou.

Outros casos recentes no esporte também ficaram mundialmente conhecidos. No ano passado, a ginasta americana Simone Biles, grande aposta de medalhas nas Olimpíadas de Tóquio, abriu mão da competição para preservar a saúde mental. Pouco antes, a tenista japonesa Naomi Osaka, que chegou ao topo do ranking mundial em 2019, havia desistido das principais competições da modalidade por questões psicológicas.

Independentemente das particularidades de cada história ou das diferenças entre a pressão que recai sobre atletas de elite e aquela que pesa sobre cada um de nós, cabe destacar um ponto fundamental: há momentos em que é preciso tomar uma atitude.

Pode ser uma pausa temporária na carreira, como é o caso dos atletas, pode ser a busca por um profissional especializado, como um psicólogo ou psiquiatra, pode ser uma guinada na trajetória pessoal ou mesmo a adoção de pequenas mudanças no estilo de vida. Cada sujeito precisa avaliar suas necessidades e anseios. O que não dá é para ignorar os sinais do corpo e da mente.

Não há fama, prestígio, troféus, dinheiro ou qualquer tipo de reconhecimento que façam sentido quando a saúde mental não vai bem.

Como disse Medina, perceber-se em um momento de crise, com o psiquismo abalado, é de fato bem difícil. Em um mundo que incessantemente nos cobra alto desempenho, admitir e demonstrar fragilidade pode soar como derrota. Felizmente, com seus erros e acertos, atletas de sucesso estão aí para nos inspirar e mostrar o contrário. Talvez eles tenham alcançado o topo justamente por entender que humanos podem, sim, chegar muito longe, mas também têm certos limites. Reconhecê-los é atitude de campeão.

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o nosso psiquismo.

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