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“Quando vi a quantidade de água eu larguei tudo. Não tinha o que fazer”, diz moradora sobre rompimento de areal

Gerente da empresa conversou com o Portal Litoral Sul e detalhou as medidas que estão sendo tomadas pela empresa

O rompimento de dois açudes de areais na tarde de domingo, dia 27, mudou completamente a rotina dos moradores da comunidade de Olho D’água, em Jaguaruna. A água que extravasou dos diques, provocou destruição, sujeira e muito transtorno.

Chegando na comunidade de Olho D’água, pela Estrada Geral Arroio da Cruz, principal acesso ao Balneário Esplanada, já é possível ver um cenário totalmente diferente do que a comunidade estava habituada. A movimentação de forças de segurança, caminhões e máquinas trabalhando na via, é algo incomum na localidade.

Nas últimas 24 horas, desde o rompimento de dois açudes de areais, que estavam desativados há quatro anos, essa é o cenário. A Cooperaliança trabalha para restabelecer o fornecimento de energia elétrica e a Defesa Civil e Prefeitura de Jaguaruna buscam soluções, junto com a empresa responsável pelos areais, para a recuperação da estrada.

A força da água que desceu dos açudes levou quase tudo o que encontrou pela frente. Árvores, postes e boa parte da Estrada Geral Arroio da Cruz. O prejuízo financeiro ainda não foi estimado mas, basta entrar em comércios e casas que ficam perto do local, que é possível ter uma ideia do que foi perdido.

O início do rompimento

O primeiro imóvel a ser atingido pela água foi o terreno que faz extrema com os açudes. Nos hectares de terra funcionam duas empresas e há uma casa, onde mora um casal e dois filhos pequenos. Uma das empresas é de cultivo de morangos e a proprietária, Jéssica Ronsani, viu tudo.

“Pela manhã eu fui colher morangos e vi que o meu terreno estava cheio de água e achei bem estranho. À tarde fui molhar os morangos, quando ouvi o barulho e vi a água subindo. A água quase entrou dentro de casa”, conta a empresária.

Jéssica conta que a água começou a subir rapidamente e não deu tempo de retirar muita coisa. Com a ajuda de vizinhos, a família conseguiu salvar os carros e alguns pertences. Mas a água invadiu completamente os locais em que ela manuseia os frutos. Motores, freezers, geladeiras e equipamentos foram todos queimados com a água.

Casa de Jéssica – Foto: Arquivo pessoal

Nas paredes é possível ver onde a água chegou, com aproximadamente um metro de altura. Jéssica conta que caminhava com água pela cintura. O muro e paredes que dividem a casa dela e a propriedade vizinha, uma madeireira que também foi atingida, foram completamente destruídos com a força da água.

Mas, para a moradora, foi isso que impediu que a água atingisse a casa dela. “Se a parede da madeireira não tivesse quebrado, a água ia ficar represada toda no meu terreno e entraria dentro de casa. Como a parede rompeu, a água fluiu e não entrou. Faltou uns 20 centímetros para chegar dentro de casa”, conta.

Desespero

A mulher lembra o desespero quando viu a água subindo. Ela ficou tão nervosa que não sabia o que fazer no momento. A plantação de morangos, que é suspensa, só não foi destruída pela água pois as madeiras da estrutura foram bem fixadas. Mas a água chegou bem perto dos frutos. “Quando vi a quantidade de água eu larguei tudo, não tinha o que fazer, era só deixar. Ainda bem que não chegou nos morangos, pois só ali seria mais de R$ 50 mil de prejuízo”, estima.  

Ao lado da casa dela tem uma madeireira, que também foi bem danificada pela força da água. As madeiras que estavam no pátio foram levadas e, depois que a água baixou, podiam ser vistas no meio do caminho. Muros e paredes foram derrubados. Equipamentos queimados e pertences perdidos são alguns dos prejuízos, que ainda não foram calculados.

“Não tinha o que fazer, estourou e foi muito forte. Onde ela passou foi levando e quebrando tudo. Quando cheguei aqui, vi coisas indo. Mas ia fazer o que? Não dava para segurar. Abriu buracos no terreno, levantou contrapiso, foram muitos danos” conta o proprietário da madeireira, Vitor Guimarães

Na empresa dele também era possível ver onde a água chegou. A marca nas paredes e as madeiras e equipamentos remexidos, entregavam a quantidade de água que atingiu a comunidade.

Os postes de energia elétrica da comunidade também foram atingidos, deixando aproximadamente cinco mil unidades sem luz. A situação foi controlada na noite de domingo, mas na manhã desta segunda-feira, dia 27, enquanto a madeireira removia as madeiras que foram arrastadas e ficaram pelo caminho, os postes caíram novamente. A estrutura energizada por pouco não atingiu as pessoas que trabalhavam no local.

Foto: Jhonatta Victor/Portal Litoral Sul

A Cooperaliança foi novamente acionada e, enquanto a cooperativa trabalhava no local, dezenas de pessoas observavam. Alguns eram moradores e outros apenas curiosos atraídos pelo cenário. Mas, alguns carregavam angústia e preocupação nos olhares, como o de Katiana Teixeira, proprietária de uma auto elétrica às margens da estrada.

Na empresa dela, aproximadamente 15 centímetros de água entraram no estabelecimento. Ela relata que perdeu baterias e alguns outros equipamentos. O prejuízo ainda não foi estimado mas, além dos itens danificados, a incerteza de quando poderá abrir as portas do comércio novamente, a deixam preocupada.

“Estamos sem internet, temos que terminar de limpar e esperar eles arrumarem a estrada, pois não tem nem como os clientes chegarem aqui. Mas nós agradecemos que pelo menos não tinha carro de cliente na loja, pois o prejuízo poderia ser bem maior”, enaltece. Depois que tudo acalmou, era hora de limpar a sujeira e a lama que ficou entranhada no chão do comércio.

Reparos dos danos

Na manhã desta segunda-feira, dia 27, a Defesa Civil, Cooperaliança, Prefeitura de Jaguaruna e os representantes da empresa responsável pelos açudes realizaram uma reunião no local para procurar uma forma de resolver os danos causados o mais rápido possível. 

“Conversamos para traçar uma linha, uma estratégia para atuar lá. Pra trazer normalidade para comunidade o quanto antes. A questão do posteamento que caiu, que seria o primeiro passo, já foi executada pela manhã. A limpeza das madeiras que ficaram ali no meio da pista e etc. Agora o próximo passo são as atividades de engenharia para liberar o fluxo, pra não ficar interditada a passagem. Mesmo que de forma provisória, nesse momento, nós temos um projeto executivo de recuperação total do pavimento”, explica o gerente comercial da JR Construções, empresa responsável pelos açudes, Júlio Remor.

Local do rompimento – Foto: Jhonatta Victor/Portal Litoral Sul

A empresa está realizando serviços na localidade e pretende fazer uma manutenção provisória para liberação da pista até esta terça-feira, dia 28. Como a estrada foi completamente danificada, a JR aproveitará os trabalhos para melhorar a drenagem no local, uma solicitação da Defesa Civil. “Ali tinha um dreno de 60, vamos botar um dreno de um metro. Depois aterrar aquela parte e liberar o fluxo. Então, não sei se vai ser possível concluir isso hoje, mas nós gostaríamos de concluir isso amanhã”, ressalta. 

O que provocou o rompimento

O que teria provocado o rompimento ainda não foi identificado. Segundo Remor, será realizado um estudo para identificar o que teria ocorrido. Os grandes volumes de chuva dos últimos dois meses podem ter interferido. 

“Precisar o porquê extravasou essa água do açude, primeiro a gente ter certeza que o volume de água dos últimos dois, três meses. Não passamos de sábado e domingo por 200 mm de água. Então, essa é a grande pergunta, se teve alguma ação humana, se alguém mexeu, o porquê que essa água extravasou ali. Então, a gente sabe que o motivo é o grande volume de chuva, tanto que a área ali em volta daquela, os pastos estão todos alagados e essa água vai enxugando pro nosso açude, porque ficou um ponto mais baixo. Agora, o porquê extravasou no dia de ontem, aí a gente vai ter que fazer uma investigação um pouquinho mais calculada”, explica.

Foto: Jhonatta Victor/Portal Litoral Sul

O açude, segundo a JR, estava desativado há quatro anos, mas estava sendo monitorado desde então pela empresa. De acordo com Remor, os relatórios e devidos licenciamentos estão em dia.

“Esse açude está fora de operação há quatro anos, porque já extraiu a matéria ambiental daquela área. Então, ele estava consolidado, respeitando o prazo que a gente tem que fazer pro IMA, com todos os controles ambientais. A gente tem que investir em relatórios dentro, tanto da água, quanto dos taludes em volta. A gente tem que fazer esse acompanhamento”, explica. A empresa responsável pelos açudes deve fazer as apurações devidas, para que o caso seja investigado.

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