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Poder destrutivo do álcool acende alerta e é colocado em debate pela Câmara de Criciúma

Iniciativa resultou em propostas de conscientização e prevenção

“A bebida alcoólica me tirou parte da vida. Fez eu perder faculdades, bons empregos, a credibilidade na sociedade e, graças a Deus, não deu tempo dela tirar a minha família”. O relato de Vandecarlos Cardoso, usuário de álcool em recuperação atendido pelo Centro de Atenção Psicossocial II (CAPS), da Santa Luzia, evidenciou os motivos da audiência pública proposta pela Câmara de Vereadores de Criciúma na noite de quarta-feira, dia 3. 

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O momento, proposto pelo vereador Manoel Rozeng por meio da Frente Parlamentar sobre Drogas e Saúde Mental, debateu a necessidade de políticas públicas para frear o consumo de bebidas alcoólicas e suas consequências em todas as esferas, principalmente quando relacionada a crianças e adolescentes. “Com a contribuição de entidades, órgãos, autoridades e comunidade, todos engajados nesse assunto, foi o momento de ouvir. Tínhamos o objetivo de concretizar este momento em propostas feitas de forma colaborativa, e assim fizemos. Esperamos resultados reais e positivos na sociedade”, destacou Rozeng.

O alcoolismo começa na infância ou adolescência

O fato trazido pela médica psiquiatra Simone Lespinasse não é regra, mas proporcionalmente reafirmado: o primeiro contato do dependente é dentro da própria família, ainda na infância ou quando adolecente. O terceiro Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD III), realizado em 2019, apontou que 7 milhões de crianças e jovens já experimentaram a bebida alcoólica antes dos 18 anos, com mais de 50% tendo essa vivência antes dos 14. 

Com sua aceitabilidade social e glamourização, o acesso facilitado se torna um agravante. “É a hora que o pai pede ‘prepara para mim uma caipirinha’. Também percebemos que o adolescente compra bebida a qualquer hora do dia de forma fácil, isso é visto como algo natural. A criança já olha aquilo e vê como algo habitual. No Brasil, são 119 mil adolescentes mapeados como dependentes”, reforça Simone. 

A história de Vandecarlos Cardoso é como os relatos da psicóloga e os dados demonstram: a bebida presente durante a infância no meio familiar e tomando proporções maiores na adolescência. “A minha trajetória não é diferente do que costumamos ver. Eu comecei cedo. A minha família, tanto por parte de pai e quanto de mãe, sempre fez as festas regadas a álcool. Depois disso, a bebida foi se aprofundando na minha vida para tirar a timidez e não ser rejeitado no meio social”, contou. 

Apesar de todos os indícios, a não aceitação tornou tudo mais grave. Hoje, o usuário está em fase de recuperação e apontou pilares como fundamentais. “A negação, eu sempre negava tudo. ‘Isso não é comigo, eu não faço isso e paro a hora que eu quero’. Era tudo de fachada. Nunca admiti, jamais assumi a responsabilidade pelos meus atos. Sempre tinha uma justificativa. Também há a família, que no início encobriu tudo. Qualquer coisa que acontecia tinha uma justificativa. Parecia que simplesmente não queriam ver. Mas não os culpo, porque não tinham conhecimento para isso”, enfatizou. 

Cardoso está sóbrio há quatro anos e está na terceira fase da graduação, convive com sua família novamente e é presidente da Associação dos Usuários, Familiares e Profissionais da Saúde Mental de Criciúma. 

Resultados

Como soma de todas as colocações levadas à audiência, a Frente Parlamentar sobre Drogas e Saúde Mental gerou encaminhamentos para a instituição de um mês de conscientização e de um programa de prevenção permanente sobre Síndrome Alcoólica Fetal e o uso de substâncias psicotrópicas por gestantes.

O objetivo é que o assunto não fique por aí, com novos momentos de debates e novas propostas no futuro.

Iniciativa pode se tornar exemplo para o Brasil

Atualmente existem mecanismos que estimulam a conscientização e uma percepção mais crítica sobre o assunto, como datas específicas e legislações que impõem a propagandas de bebidas conterem alertas sobre o alcoolismo. Ainda assim, Rozeng avaliou que é preciso fazer mais. 

Aproveitando o momento de fala do deputado federal Ricardo Guidi, que se fez presente durante os diálogos da assembleia, o vereador questionou sobre a possibilidade de elevar o tema ao âmbito nacional, e teve mais do que uma afirmativa. Conforme Guidi, é uma necessidade.  “Sem dúvida nenhuma. Tudo precisa ser discutido e trabalhado, mas vejo que existe campo sim para se conhecer mais e pensar sobre este campo tão importante”, afirmou.

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