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Pessoas com Parkinson encontram na Unesc acolhimento e melhora da qualidade de vida

Ação havia sido paralisada na pandemia, mas foi retomada no segundo semestre deste ano

Amamentar o bebê recém-nascido é um momento importante e de muita alegria para as mamães. Além de alimentar a criança e suprir as necessidades do pequeno, ocorre naturalmente uma troca de calor que fortalece o vínculo entre os dois.

A alegria desse momento, no entanto, foi interrompida para Tatiana Fernandes Dagostim, quando ela amamentava o filho de apenas 10 meses. Aos 37 anos de idade, ela começou a sentir dificuldade para dar banho no bebê. Ao procurar um médico, foi diagnosticada com Parkinson e teve a orientação que o ideal seria parar de amamentar o filho para iniciar o tratamento imediatamente.

Como era um sonho, Tatiane decidiu seguir com a amamentação até quando aguentasse. Quando foi diagnosticada, o filho tinha quatro meses de vida e ela conseguiu manter por mais seis meses, até o dia que uma forte dor a obrigou a interromper o aleitamento e iniciar o tratamento do Parkinson. “O médico me orientou que, como se tratava de uma medicação forte, passava para o leite e poderia dar problema na parte óssea do meu filho. Com aquela vontade muito grande de amamentar que eu tinha, resolvi seguir por mais um período, até chegar em um estágio avançado”, conta Tatiane. 

O diagnóstico trouxe medos e incertezas do futuro para a empresária. Após iniciado o tratamento, Tatiane procurou apoio que ia além dos remédios prescritos pelo médico. Foi do Programa de Atendimento aos Portadores de Parkinson (ProPark) da Universidade do Extremo Sul Catarinense (Unesc), que veio a ajuda. Nas atividades, realizadas duas vezes por semana, ela encontra, ainda, apoio daqueles que passam pela mesma dificuldade.

O diagnóstico, que foi em 2016, mudou totalmente minha rotina. Tive um baque quando descobri. Em 2017 caiu a minha ficha de que eu deveria procurar algo para fazer de atividade, para me ajudar a melhorar. Minha cunhada me falou do projeto e iniciei em 2018, quando abriram para as mulheres. O projeto fez bastante diferença em minha vida. É muito importante pois é um lugar que temos como encontrar um apoio e ajudar o outro”, disse.

Tatiana Fernandes Dagostim recebendo orientação durante encontro – Foto: Caroline Sartori/Portal Litoral Sul

O Programa iniciou em 2016 por meio de um projeto de mestrado e como plano de trabalho do Programa de Iniciação Científica (PIC 170), mas precisou ser paralisado por dois anos, devido à pandemia de Covid-19. Após este período, os participantes sentiram falta dos encontros e viram a necessidade do retorno. Diagnosticado com Parkinson há seis anos, Pedro Carlos Mendes, de 66 anos, participava desde o início e foi quem tomou a frente no pedido para retomada do programa.

Para o aposentado, as atividades estavam fazendo falta na rotina já que, além de ajudar na mobilidade física dos portadores de Parkinson, os encontros proporcionam momentos diferentes, onde os participantes fazem novas amizades e ajudam uns aos outros.“A gente começa a se espelhar um nos outros, pois o Parkinson é personalizado, cada pessoa tem um sintoma diferente. Temos pessoas com os mais diversos tipos de limitações. Esses encontros nos animam e nos encorajam. Acaba mostrando que as pessoas não podem se conformar com o Parkinson. Precisamos lutar e essa troca de experiência faz com que a gente consiga ter mais ânimo para lutar contra a doença”, explica Pedro.

As atividades retornaram com aproximadamente 20 pessoas e, após 40 dias, o número de participantes já dobrou. Números que trazem alegria para seu Pedro, que também já consegue ver a evolução das dificuldades de muitos parkinsonistas do projeto. “É fundamental essa participação da Unesc neste momento. Estamos há 40 dias e temos resultados positivos. Tínhamos pessoas aqui que não saiam de casa, pessoas com depressão, que tomavam medicamentos errados. Começamos a divulgar para trazer essas pessoas. Aqui nós ajudamos uns aos outros, é muito importante esse encontro para nós”, frisa.

Foto: Karol Carvalho /Portal Litoral Sul

A solicitação dos próprios pacientes para o retorno do Projeto foi algo que deixou a Unesc sensibilizada e feliz com a iniciativa. “Nós ficamos muito tocados com a necessidade deles e ter a possibilidade de reativar algo que a gente já fazia, para nós foi um prazer. Foi questão de organizar, inscrever o projeto para aprovação. Mas reunir o pessoal e trabalhar, foi bem tranquilo”, explica o professor do curso de Fisioterapia da Unesc, Eduardo Ghisi Victor.

Melhora por meio do ProPark

Jussara Hilário Costa, de 51 anos, perdeu o equilíbrio devido ao Parkinson. Para caminhar, ela precisa do auxílio de alguém ou se apoia em algum objeto para evitar as quedas. Desde que ficou sabendo do retorno do ProPark, por meio da filha, foi incentivada pelo esposo Márcio Costa, 56 anos, a participar.

Desacreditada que os encontros dariam algum resultado e pensando que as atividades não eram para ela, resistiu inicialmente em ir aos encontros. Com o apoio da família, Jussara está indo ao Programa há aproximadamente 15 dias e já viu resultado. “Ela já começou a caminhar melhor, não cai com tanta frequência, já começou a apresentar resultados. Antes, para descer uma rampa que temos lá em casa, ela segurava em uma grade, agora não precisa mais, ela já consegue ir sozinha. Lava roupa e estende, tudo normal”, comemora o esposo. 

 

Foto: Caroline Sartori/Portal Litoral Sul

O ProPark

Após dois anos sem as atividades, o ProPark retomou no dia 26 de junho, com 20 participantes. Após 60 dias do retorno, os encontros precisaram ser realizados em outro local, devido ao aumento pela procura. Atualmente, as atividades são realizadas na Sala de Dança, anexa ao Ginásio de Esportes da Universidade.

De acordo com a fisioterapeuta e coordenadora do ProPark, Ariete Minetto, o projeto da Unesc busca, diariamente, melhorar ainda mais a qualidade de vida dos participantes. “O ProPark está com uma parceria com o laboratório de Fisiopatologia Experimental e seus pesquisadores, que estão fazendo pesquisas para melhorar a qualidade de vida, com novos métodos e técnicas. O intuito é que os pacientes de Parkinson possam usufruir de uma tecnologia de ponta, com profissionais capacitados e habilitados para o tratamento”, enaltece.

Os encontros são gratuitos e acontecem duas vezes por semana, nas segundas e quartas-feiras, às 14 horas. As atividades têm duração de aproximadamente uma hora e são monitoradas por quatro acadêmicos dos cursos de Fisioterapia, Medicina, Farmácia e Psicologia. O grupo tem o acompanhamento de um método avaliativo e analítico, com a realização da coleta de sangue, testes físicos de força muscular, flexibilidade, resistência muscular e cardiorrespiratória, motricidade e coordenação motora.

A ideia é que a seja algo bem funcional, que privilegia a funcionalidade de cada um. Eles têm níveis diferentes de funcionalidades, então a gente trabalha de uma forma global, para eles trabalharem em grupo, mas também individualizar algumas coisas, para quem tem menos equilíbrio, por exemplo, algo mais específico que cada um apresenta”, frisa o professor de Fisioterapia.

Foto: Caroline Sartori/Portal Litoral Sul

Com os resultados positivos, a Unesc já tem projetos para ampliar as atividades que são promovidas. O objetivo é atender cada vez mais pessoas, suprindo a necessidade dos portadores de Parkinson. “A sala que estamos agora, que tivemos que mudar devido ao crescimento do grupo, é bem maior e podemos receber mais pessoas. Temos uma previsão de fazer um trabalho na piscina terapêutica da Clínica de Fisioterapia. A medida que vamos conhecendo os pacientes e vendo as necessidades, vamos direcionando para tratamentos mais específicos”, comenta Ghisi.

Para a reitora da Unesc, Luciane Ceretta, os resultados apresentados pelo ProPark comprovam a importância da universidade comunitária e a preocupação da Universidade com a sociedade. Confira abaixo o que disse a reitora sobre o projeto:

Entenda o Parkinson

Doença neurológica, degenerativa, crônica e progressiva, sem causa conhecida, a doença de Parkinson atinge o sistema nervoso central, em especial, na área conhecida como substância negra, responsável pela produção de dopamina, comprometendo os movimentos. Quanto maior a faixa etária, maior a incidência.

“A doença de Parkinson temos um distúrbio, uma alteração na produção de um marcador que é a dopamina e a morte dos neurônios que produzem esse marcador. A perda desses neurônios, que nós chamamos de neurônios dopaminérgicos, acabam causando um distúrbio neuroquímico cerebral, que responde algumas alterações motoras”, explica a mestre e doutoranda em Ciências da Saúde e professora do curso de Fisioterapia da Unesc, Rubya Zaccaron.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), existem aproximadamente 4 milhões de pessoas no mundo com a Doença de Parkinson, o que representa 1% da população mundial a partir dos 65 anos e 6% aos 85 anos. Mas esse número pode dobrar até 2040, com o aumento da expectativa de vida e o envelhecimento da população. No Brasil, a estimativa é de que 200 mil pessoas vivam com a enfermidade.

Sintomas

Os sintomas da Doença de Parkinson variam de um paciente para outro. Na maioria das vezes, começam de forma lenta e sem sinais alarmantes ou graves. A doença causa tremores, redução e lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. Outros sintomas também estão relacionados com dificuldade para engolir, depressão, dores e distúrbios do sono, respiratórios e urinários.

“Essa perda de neurônios dopaminérgicos e a redução de dopamina a nível cerebral, provoca o desenvolvimento de sintomas motores como é o tremor, a rigidez  e a bradicinesia, que é essa dificuldade em realizar movimentos voluntários. Isso acaba também promovendo a lentificação de reflexos e de movimento corporal, então é um paciente que também apresenta instabilidade postural, aumenta o seu índice de quedas, de fraturas e de perda de independência. Isso promove consequentemente um isolamento social, aumento de risco de osteoporose e de outras doenças”, ressalta a professora.

Como participar do ProPark

Para participar dos encontros, os interessados devem entrar em contato com a Clínica de Fisioterapia da Unesc, pelo telefone 48-3431-2654, onde receberão todas as orientações necessárias para iniciar no grupo.

*Matéria produzida com apoio de Caroline Sartori 

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