Lula voltará a ser presidente com apoio de menos de um terço dos catarinenses
Com o apoio de menos de um terço dos catarinenses, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu a eleição mais acirrada desde a redemocratização no final dos anos 80. Nem a eleição de 2014, entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) teve resultado final tão apertado. O ex-presidente, agora sem dúvida o mais popular do Brasil, fez 60,3 milhões de votos, 2,1 milhões a mais que o atual presidente Jair Bolsonaro (PL). Aos 77 anos, essa que deve ser a última eleição do petista, também foi a mais difícil.
Tão logo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proclamou o resultado, Lula disse à imprensa que será o presidente dos 215 milhões de brasileiros. Disse que, depois de viver um “processo de ressurreição na política brasileira, porque tentaram enterrá-lo vivo”, com “fé em Deus e ajuda do povo” pretende pacificar o Brasil para que volte a crescer. “O povo brasileiro deseja mais e não menos democracia, deseja mais e não menos inclusão social, deseja mais respeito e entendimento e deseja participar mais das decisões do governo”, interpretou Lula.
Nesse terceiro mandato, disse, vai enfrentar sem trégua o racismo, o preconceito, a violência e desigualdade salarial contra as mulheres e, a prioridade, que é voltar a combater a fome e a extrema pobreza.
O presidente eleito pretende abrir diálogo com a sociedade, com governadores e prefeitos de capitais para restabelecer a credibilidade, previsibilidade e estabilidade da economia brasileira. A divisão não interessa nem às famílias, nem ao país, recomendou. “Não existem dois brasis, somos um único país, único povo e uma grande nação. Estamos prontos para reindustrializar o Brasil, para investir na economia verde e digital e para retomar o protagonismo na governança global da crise climática”, assegurou.
Santa Catarina está entre as 14 unidades da federação que elegeram governadores de oposição a Lula. Com o quarto melhor percentual para Bolsonaro, atrás apenas de Roraima, Rondônia e Acre. Bolsonaro fez 3 milhões de votos, raspando em 70% dos votos válidos, menos percentualmente do que em 2018, quando atingiu 75,9% dos válidos, mas com 81 mil votos nominais a mais. Lula fez 1,3 milhão de votos no Estado, longe da marca de 1,9 milhão que conseguiu 20 anos atrás, na sua primeira eleição para a Presidência da República.
Triste pela derrota de Bolsonaro, como a ampla maioria dos catarinenses, o governador eleito Jorginho Mello (PL) lembrou que Santa Catarina sempre precisou e vai precisar do Brasil. Em coletiva à imprensa na noite de domingo, pediu que as pessoas esperem a situação se acalmar em dois ou três dias, que ajudem a superar o ambiente hostil e garantiu um relacionamento “respeitoso, inteligente e responsável” com o presidente eleito para que Santa Catarina não perca nada”.
Nesta segunda-feira, Jorginho manifestou preocupação com o bloqueio de rodovias em Santa Catarina. “Apesar de saber da dor que os bolsonaristas estão tendo neste momento, não concordo com manifestação, quebradeira, essas coisas. Acho que não constrói, não vai mudar nada. Se mudasse alguma coisa, mas não vai mudar nada. Sou um homem da paz, prego a paz”, disse em entrevista à NSC.
Votação recorde
Com a histórica votação de 2,9 milhões, Jorginho Mello assume em janeiro determinado a ser o governador da educação e do emprego. Embora não tenha sido uma vitória completa, o senador, ex-deputado federal e estadual e vereador está orgulhoso do que conseguiu, depois de começar a campanha em chapa isolada do PL e sem a declaração manifesta do presidente Bolsonaro. “Esse projeto vitorioso foi construído por muitas mãos, fizemos 11 deputados estaduais, um melhor que o outro, seis deputados federais, um melhor que o outro, um senador República, mas faltou eleger nosso capitão”, analisou. Jorginho praticamente dobrou a votação em relação ao primeiro turno. Mudam os planos, porque ele pensava conseguir destravar logo alguns investimentos para Santa Catarina, mas tudo será reavaliado de “forma serena e responsável”. Antes de deixar a vaga no Senado para Ivete Appel da Silveira, Jorginho deve voltar a Brasília para participar da reunião do Fórum Parlamentar Catarinense. A bancada federal, aposta ele, deve servir de para-choque na relação com o futuro governo Lula. Sempre foi assim, lembra Jorginho, a exceção _ por ironia_ do atual presidente que dificilmente se reunia com deputados e senadores catarinenses. “Vamos lutar pelo tratamento que Santa Catarina sempre mereceu para alocar recursos nas obras estruturantes, para as BRs, para dar conta de recuperar as SCs, tirá-las do plano de pedagiamento. Vamos fazer de cabeça erguida”, garantiu o governador eleito, escolhido duas vezes o melhor senador do Brasil.
Transição
Nomes para o futuro colegiado de Jorginho Mello só a partir de 1º de dezembro. Mas a transição começa logo. Na liderança do staff de transição do governo eleito, está Laudelino de Bastos e Silva. Colega de Jorginho no Besc, de 1979 a 2002, o contador foi diretor administrativo, financeiro e de relação com investidores da Casan, entre 2004 e 2019. Com grande competência para desenvolver produtos financeiros e de crédito e conhecedor como poucos do marco do saneamento, Laudelino dá conta de políticas prioritárias para o governo eleito. Estava subaproveitado na Prefeitura de Florianópolis e, para sorte de Jorginho, desincompatibilizou-se a tempo de começar a campanha.
Vitória lá
Tão logo saiu o resultado da eleição, o candidato derrotado Décio Lima (PT) ligou para cumprimentar Jorginho Mello. Jorginho cancelou a festa, mas Décio se largou para comemorar a vitória de Lula na avenida Hercílio Luz, no centro leste de Florianópolis. Além de levar pela primeira vez o PT ao segundo turno das eleições ao governo de SC, Décio Lima fez 1,2 milhão de votos, 526 mil a mais do que no primeiro turno. Ou três vezes a votação que conseguiu em 2018, quando Lula estava preso e o PT isolado em Santa Catarina. Ana Paula Lima, mulher de Décio, é mais uma vez deputada federal eleita pelo PT. “Nós estamos felizes, ajudamos com nossa luta e nossa bandeira, a vitória da esperança, dos pobres, dos sem-teto, das negras, das pautas identitárias, de um país mais justo. Somos mais de 1 milhão e 200 mil catarinenses, é apenas um começo, mas sabemos que nossa luta não vai acabar, ela é movida pela paixão”, discursou sob chuva fina e multidão animada.
Jornalista: Adriana Baldissarelli, com colaboração de Cláudia Carpes
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