Pelo Estado entrevista João Paulo Kleinübing, presidente do BRDE
“Queremos reforçar o comprometimento da instituição com as necessidades dos municípios”, destaca presidente
João Paulo Kleinübing assumiu como presidente do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) há pouco mais de um mês, mas já capitaneou grandes conquistas da instituição, fechando convênios que beneficiarão pequenos empreendedores, levantando a bandeira de banco sustentável e com o desafio, dado pelo governador Jorginho Mello (PL), de avançar com o projeto do Pronampe Estadual.
A Coluna conversou com o presidente para saber um pouco mais sobre estes e outros programas que o BRDE vem desenvolvendo em prol de Santa Catarina. Confira:
Pelo Estado – O senhor assumiu a presidência do BRDE há pouco tempo. Quais são as principais demandas já identificadas neste período?
João Paulo Kleinübing – Assumi o desafio frente à Presidência em 5 de junho, 10 dias antes do aniversário de 62 anos do BRDE, que exerce uma missão estratégica para o desenvolvimento da região Sul. Nosso foco é integrar uma agenda econômica, social e ambiental para fortalecimento dos diversos setores, com o propósito de gerarmos um impacto positivo na melhoria de vida das pessoas. Espero fazer o melhor pelos estados onde o BRDE atua, tanto nos desafios locais que temos, como também nas pautas de interesse em conjunto que ajudam a desenvolver as nossas regiões. Além da importância da continuidade do apoio financeiro e técnico já realizado pelo BRDE para projetos que promovam o desenvolvimento sustentável; queremos reforçar o comprometimento da instituição com as necessidades dos municípios; assim como o apoio aos empreendedores, por meio de programas que atendam também microempresas e empresas de pequeno porte; somado ao fortalecimento da bandeira do banco verde, com a implantação sistemática de políticas ambientais responsáveis. Um ponto que eu considero importante é uma outra linha de atuação na qual queremos fortalecer, que é a participação ainda maior do BRDE nas parcerias público-privadas. E nós temos ainda um grande desafio, colocado pelo governador Jorginho Mello, de avançar com o projeto do Pronampe Estadual, semelhante ao que foi feito no projeto nacional.
PE – E quais serão os maiores desafios para atendê-las?
JPK – Com relação as PPPs, a ideia é proporcionar atendimento aqueles projetos dos municípios ou até mesmo dos estados onde você não tem tamanho para que o BNDES possa participar. Assim, o BRDE atua mais próximo e de uma forma mais ágil. O BRDE já fez isso em alguns projetos no Paraná, investimento em iluminação pública no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mas a ideia é ampliar isso e ter um setor específico do banco para cuidar desses projetos. Acho que o BRDE pode e deve participar melhor com os municípios dessas discussões e quando a gente discute aqui o impacto, por exemplo, do Banco Verde é isso, financiar sistemas de transporte que sejam realmente voltados para isso. Com o BRDE neste apoio há uma transferência também de conhecimento, como os bancos internacionais fazem.
Com relação ao apoio creditício, o desafio é vencer a burocracia. O pequeno e médio empreendedor não tem garantia real para dar, então uma das nossas ações no banco é ter um fundo garantidor para operações com micro e pequenas empresas, administrado pelo BRDE. Nossa próxima etapa dentro dessa aproximação com as empresas de menor porte é o banco digital, a possibilidade de você tomar, fazer solicitação de empréstimo totalmente digital e o processo de concessão do crédito também seja digital, ou seja, não é apenas a interface que ela já existe hoje.
PE – Sobre o convênio de R$ 3,6 milhões que foi renovado com o Sebrae esta semana por meio do Fundo de Aval para as Micro e Pequenas Empresas, de que forma será investido o dinheiro. O senhor poderia dar mais detalhes deste projeto?
JPK – Este recurso vai alavancar ainda R$ 42 milhões destinados para ajudar os pequenos empreendedores. O convênio para o Fampe vai permitir que as empresas desses portes, nos três estados do Sul, possam contrair financiamentos com garantia de até 80% do valor do empréstimo. O Fundo de Aval auxilia no acesso ao crédito em condições mais favoráveis para os pequenos negócios, pois diminui o risco das operações de crédito para o segmento. Este convênio se faz muito importante para aproximar o banco com a sociedade e tornar o financiamento mais acessível para o pequeno empresário.
PE – Durante o encontro do Codesul, o senhor reforçou a sustentabilidade como uma das bandeiras da sua gestão. Quais projetos hoje abraçam esta pauta e quais ainda irão ser implementados?
JPK – A gente tem insistido muito em ser um Banco Verde. Foi uma decisão estratégica que foi tomada. Na reunião do Codesul, destaquei os principais números do banco e um dos principais dados é que 80% das nossas operações são, de alguma forma, aderentes a pelo menos um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Em termos de programas, o BRDE tem o “Mais Energia Sustentável”. É através desse programa que o BRDE apoia o financiamento de energia limpa, contribuindo com um futuro mais consciente, impulsionando a economia e gerando empregos. Nos últimos quatro anos, o BRDE financiou R$ 645 milhões para projetos de geração com fontes renováveis e maior eficiência energética no estado. Com aumento de quase 90% comparado ao ano anterior, em Santa Catarina, o banco registrou forte crescimento em 2022 no apoio a projetos de geração de energia com fontes renováveis e de ganhos em termos de eficiência no consumo. O BRDE contratou R$ 240,9 milhões, quase o dobro comparado a 2021, quando somou R$ 127,5 milhões. Os recursos para projetos de energia limpa atenderam, por exemplo, os setores de turismo, como investimentos em hotéis, além do agronegócio e geradoras de energia.
Hoje, o BRDE conta com uma precificação diferenciada para projetos que tem o chamado “selo verde”, isto é, que estão relacionados com a questão da sustentabilidade, além de captar recursos internacionais ampliando sua capacidade de ofertar crédito. Além disso, vamos buscar a participação em novos mercados que apoiam a sustentabilidade, um exemplo disso é o mercado de carbono. Assim como, apoiar a participação pública nesta transição energética e na concretização de ações de sustentabilidade dentro dos municípios.
PE – Poderia dar mais detalhes sobre a proposta de criação do Fundo Constitucional do Sul, também mencionada durante o encontro?
JPK – O Fundo Sul é um fundo constitucional destinado a fortalecer projetos e propostas para o desenvolvimento social e econômico de municípios com baixo IDH da Região Sul. Com a criação do Fundo, a população teria acesso à financiamentos com juros subsidiados e aplicados nas regiões com baixos indicadores de educação, emprego e saúde. O BRDE terá o encargo de fazer as operações do Fundo, em razão da experiência na gestão e aplicação de fundos orçamentários e recursos de longo prazo.
PE – Existe alguma proposta para aumentar a presença do BRDE em Santa Catarina? Como isto irá acontecer?
JPK – Estamos presentes na geração de renda e empregos, na ajuda ao atendimento de saúde, apoiando a infraestrutura das cidades, nos espaços de entretenimento, nos setores da economia como agronegócio, indústria, etc. A ampliação do desenvolvimento sustentável e inclusivo é uma de nossas metas. O BRDE atende as demandas de empreendedores de SC, PR e RS e tem, ao todo, cerca de 40 mil clientes ativos. Está presente em mais de 1.100 municípios, com cerca de 96% da cobertura da Região Sul. Tivemos no final do primeiro semestre deste ano, um novo recorde em operações de novos contratos, que superou os R$2,1 bilhões, uma marca importante para a instituição. Em SC, o número total de contratações no primeiro semestre deste ano foi de R$ 636 milhões, um crescimento de 134% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foi registrado R$ 271 milhões. Em 2022, o BRDE atingiu a marca de R$ 4,4 bilhões em novos financiamentos e num balanço feito recentemente, o banco obteve no último ano, o maior lucro líquido da história com quase R$ 450 milhões. Importante destacar que nossas operações estão presentes nos municípios, por meio também das cooperativas de crédito. São parceiras nesta pulverização dos créditos disponibilizados, principalmente para os micro e pequenos empreendedores.