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Operação Bocas Famintas: delegado diz que “compra de uma carretinha” iria ajudar no transporte de carne desviada da Afasc

Polícia Civil desvenda esquema de desvio de carnes da merenda escolar de Criciúma. Em entrevista coletiva concedida nesta terça-feira, 03, o delegado Túlio Magalhães Falcão, apresentou relatório final da investigação da Operação “Bocas Faminta” e que encaminhou para o Ministério Público e ao Poder Judiciário para os procedimentos legais.

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A nutricionista funcionária da Afasc e a taxista irão responder em liberdade, por peculato (dois a 12 anos) e a receptação qualificada (três a oito anos), e mais cinco pessoas por receptação qualificada.

“Descobrimos mais quatro restaurantes que faziam essa compra, inclusive um resultou na prisão em flagrante, e que a venda acontecia diretamente com a nutricionista e que os recibos assinados também eram cobrados da Afasc. Ela fazia o pagamento, desviava e revendia os alimentos”, afirmou o delegado.

“Realmente houve desvio”, disse delegado

A operação teve início no último mês de outubro, o delegado garantiu que realmente houve o desvio de carnes por parte da nutricionista. O prejuízo total estimado para os cofres da Prefeitura de Criciúma foi de R$143 mil.

“Todos os indícios apontam que a nutricionista desviava por meio da cooperativa, e o pior, esse alimento era repassado para a creche e lá mesmo, ela fazia a distribuição”, disse ele.

Conforme apontou a investigação, há recibos e conversas entre a nutricionista e a taxista que datam de novembro de 2018. “Desde o ano passado elas já vendiam”.

Compra de uma carretinha para ajudar no transporte

“Em seu depoimento a taxista informou que a nutricionista pediu auxílio para vender os alimentos e como ideia, sugeriu em comprar uma carretinha para fazer o transporte e um freezer industrial para a estocar a carne. Com a ação da polícia o freezer não chegou a ser comprado”, disse o delegado.

Ainda durante a coletiva, Túlio Magalhães Falcão, revelou que alguns compradores que adquiriram a carne por meio da taxista, disseram que o valor era em torno de R$6,50 até R$7,50, o quilo, e foram até a delegacia para devolver os produtos comprados.

Já os compradores industriais como proprietários de lanchonetes, padarias, panificadoras e restaurantes que adquiriram os produtos junto a nutricionista, não procuraram a delegacia. “Eles compravam por um valor de R$5,00, abaixo de 50% do valor de mercado. Foram identificados cinco indivíduos e todos indiciados por receptação qualificada”, disse a autoridade policial.

Investigação

A investigação foi dividida em duas partes: a primeira referente a o que acontecia na cooperativa, quando foi dada a prisão em flagrante da nutricionista, após isso, foram investigadas as creches, principalmente o Lapagesse. Segundo o delegado, lá foram desviados desde fevereiro deste ano, mais de três toneladas de carne e da cooperativa, aproximadamente 11,5 toneladas de alimentos.

“Tentamos investigar mais alguém envolvido no peculato, mas não foi possível encontrar, até porque antes do início da investigação, vazou a informação para uma das suspeitas (a funcionária da Afasc), sendo que ela fez alguns procedimentos, buscou testemunhas e destruiu o material que nós teríamos usado como prova. Mas assim mesmo conseguimos reunir um volume bom de informações que coloca ela no caso”, informou o delegado.

Contabilidade da Afasc precária

Na coletiva, o delegado destacou que o tipo de contabilidade feita pela Afasc não era precisa, com isso, a carne foi o único alimento que a investigação conseguiu identificar. Mas, comenta que poderia ter acontecido com outros alimentos já que tanto a nutricionista quanto a taxista faziam este transporte entre as creches.

“Elas transportavam carnes, trigo, ovos, arroz, só que a carne em si conseguimos fazer a contabilidade, pois ela desvia e assinava os recibos enquanto a taxista vendia e assinava também em uma planilha toda a contabilidade dela e quando entregava nas escolas, as diretoras assinavam a quantidade que era entregue. Então tem como fazer essa comparação. Do que a Afasc pagou e o que foi realmente distribuído nas escolas. Embora seja precário esse controle realizado pela empresa, dá para aferir a quantidade aproximada de desvios”, garantiu o delegado.

Não foi constatado nenhum tipo de irregularidade na Afasc. “Até porque, quem nos procurou foi a coordenadora da Afasc e sempre deu suporte para que pudéssemos coletar provas. Ela veio até a delegacia e fez o boletim de ocorrência e trouxe o material probatório”, disse ele.

Nutricionista negou o desvio

O delegado ainda destacou que uma das técnicas de defesa da nutricionista com a sua advogada, no início da lavratura do auto de prisão, ela informou que não vendia carne alguma e que tudo seria esclarecido. Posteriormente, segundo o delegado, quando a equipe de investigação da polícia já tinha identificado um possível comprador direto, ela já mudou a estratégia de defesa dizendo que realmente ela comprava carne para Afasc como pessoa física e vendia separado.

Fotos: Taize Pizoni de Souza

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