Obesidade é considerada epidemia, passa de pais para filhos e impacta negativamente saúde das crianças
Crônica, complexa e de etiologia multifatorial, doença é considerada um desafio para a saúde pública e se espalha por meio da cultura familiar
A obesidade se tornou uma epidemia. Rapidamente percebida quando presente na vida dos adultos, este mal pode passar de forma mais silenciosa pelas crianças e deixar rastros. Se espalhando pela cultura familiar, o resultado já pode ser percebido em uma geração acometida pela doença: conforme estimativa do Ministério da Saúde, 6,4 milhões de crianças têm excesso de peso no Brasil e 3,1 milhões já evoluíram para obesidade.
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A causa deste estado de alerta em relação ao peso dos pequenos está diretamente ligado à cultura alimentar dos pais, mães ou responsáveis, já que seis a cada dez adultos é obeso no Brasil, indica a Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso). “Os hábitos da família são fatores determinantes. A obesidade se caracteriza como uma doença crônica e se tornou uma epidemia, atingindo pessoas de todas as faixas etárias, sexo e classe social. Um dos principais motivos para a obesidade infantil é o padrão alimentar das crianças. Está inadequado, sendo marcado pelo consumo excessivo de alimentos processados e ultraprocessados ou industrializados, de fácil consumo e acesso”, explica a nutricionista Lara Canever.
Uma doença crônica, complexa e de etiologia multifatorial, a obesidade infantil é considerada um desafio para a saúde pública. Este mal é caracterizado pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. O que a difere do sobrepeso é a quantidade desse excesso e, consequentemente, a gravidade. “A doença é causada quando a pessoa consome mais energia, as calorias, do que necessita e gasta. Todavia, o desenvolvimento da obesidade, na maioria dos casos, se deve também à associação de vários fatores como genéticos, ambientais, sociais e comportamentais”, esclarece a profissional.
Alimentação escolar tem impacto significativo na saúde infantil
Independente da quantidade de refeições que a criança faça no período escolar, a escola tem papel crucial na formação de hábitos alimentares da criança e, consequentemente, na sua saúde. Na Associação Feminina de Assistência Social de Criciúma (Afasc), cada refeição é pensada e planejada pelas nutricionistas Karla Fernandes de Freitas e Julia dos Santos. O trabalho é realizado em conjunto a cada decisão, cuidando de todo o desenvolvimento alimentar de 5 mil crianças, entre 6 meses e 4 anos de idade, em 39 Centros de Educação Infantil (CEIs) em Criciúma.
Mais do que organizar o cardápio e fazer a escolha dos alimentos, diversas abordagens e propostas são desenvolvidas pelas, sempre com sensibilidade ao contexto da criança. “Para aqueles que estão aprendendo a comer, por exemplo, em uma das refeições servimos uma papinha de legumes, mas esta não é batida no liquidificador e sim amassada, porque há a necessidade do aprendizado de mastigar. As crianças não podem ficar preguiçosas. A introdução tem de ser gradativamente”, explica Karla.
Em 2019 o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) passou por mudanças, proibindo o consumo de açúcar no âmbito escolar para crianças de até 3 anos. Na Associação, ações já foram tomadas para se adequar. “Temos iniciativas como bolo sem açúcar e redução no café. Não fazemos fritura, oferecendo sempre a fruta e a verdura. Junto com a obesidade vem sempre patologias, como o colesterol alterado, doenças cardiovasculares e diabetes. Não é interessante para a criança estar neste contexto, além da frustração de não poder participar ou acompanhar seus amigos em diversas atividades. Isso temos que trazer o entendimento quando eles ainda são pequenininhos”, destaca Karla.
O período para a aceitação de um novo alimento por parte da criança é de até 8 meses e faz parte de uma ação chamada pelas profissionais de “contracultura”, quando há troca de hábitos em relação à cultura familiar. Para espalhar este propósito entre todos os 39 CEIs, um livro de receitas e orientações foi lançado no fim de 2021. “Com ele padronizamos a alimentação das crianças. Quando chega o cardápio, o modo de preparo e ingredientes está disponível ali”, contou a nutricionista Julia.
Os resultados desta iniciativa já são positivos, mesmo com poucas semanas de aula em 2022. As nutricionistas ainda realizam um cronograma de visitas às escolas, para ver o desenvolvimento alimentar e dialogar com a direção, professores e pais. Indo além, os CEIs da Afasc tem suas próprias hortas, fazendo com que as crianças interajam com o que vão comer e assim aumentem a aceitação. “No “Projeto Horta” o aluno de um ano e meio já vai mexer na terra, plantar, colher e utilizam o alimento no preparo da refeição. Se a panqueca de couve fica verde, eles brincam que é a panqueca do Hulk, mostram para os pais que se interessam e desencadeiam assim uma série de fatores positivos”, completa Karla.
Lancheira saudável
Mesmo que pareça difícil, garantir uma alimentação recheada de saúde pode estar mais à mão do que se imagina. Segundo a nutricionista Lara Canever, escolhas alimentares inteligentes fazem muita diferença, contribuindo para a oferta de alimentos nutritivos e saudáveis, capazes de melhorar a disposição, concentração e o rendimento da criança no âmbito escolar.
Dicas da nutri:
1 – Inclua sempre uma opção de fruta e varie a oferta ao longo dos dias. Uma ideia interessante é incluir alguma opção de semente, como granola, flocos de milho sem açúcar, aveia, chia, semente de girassol e gergelim junto às frutas. Pode ser também uma opção de fruta seca, como uva passa, ameixa seca, damasco, banana desidratada e tâmara.
2 – Faça a inclusão de um lanche completo que forneça carboidratos bons, como farinhas integrais, e proteínas, como ovo, queijo, carne, frango, atum e sardinha. Por exemplo: Sanduíche natural com frango, carne moída, atum ou ricota com verduras.
3 – Você ainda pode incluir opções diferentes de alimentos se perceber que a criança tem boa aceitabilidade, como salada de frutas, biscoitinhos ou cookies à base de fruta, batata doce ou inglesa assada em palitos, milho verde cozido e até pipoca. As sementes oleaginosas, como castanha do pará, castanha de caju, nozes, amendoim torrado sem sal e sem açúcar e amêndoas também são excelentes opções para os lanches.
4 – A bebida é opcional, mas se deseja incluir opte por sucos naturais ou a base de polpa de frutas, se possível sem açúcar ou alguma opção de suco 100% integral como uva ou laranja. Também há água de coco ou algum tipo de iogurte natural, aquele com apenas dois ingredientes: leite e fermento. Evite incluir bebidas adocicadas como achocolatados, leite fermentado, sucos de caixinhas ou em pó ou iogurtes com açúcar.
Como estimular um desenvolvendo de forma saudável?
O crescimento e desenvolvimento dos pequenos podem ser acompanhados desde o nascimento por meio da combinação de medidas Peso para Idade (P/I) e Índice de Massa Corporal para Idade (IMC/I). A relação entre esses dados pode ser monitorada com um olhar para a curva de crescimento presentes na caderneta de saúde da criança. “Portanto, o acompanhamento pelo pediatra e nutricionista é muito importante para sinalizar e prevenir o sobrepeso ou a obesidade. A fase de introdução alimentar, entre os seis meses e dois anos de vida da criança, também exerce forte impacto para a formação de hábitos alimentares saudáveis”, destaca Lara.
A nutricionista ainda completa reforçando que para estimular um crescimento saudável é necessário incentivar e acompanhar a criança na prática de atividade física, ou realizar atividades de lazer que reduzem o sedentarismo.