“O espírito empreendedor catarinense é voltado para o comércio internacional, mas ainda temos muito para desenvolver”, diz presidente da Fiesc, Mario Cezar de Aguiar
No último mês, uma comitiva liderada pelo presidente da Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), Mario Cezar de Aguiar, esteve na Coreia do Sul e Singapura com o objetivo de se inspirar nas tecnologias produzidas pelos dois países, além de estreitar relações comerciais.
Na programação estavam visitas a universidades e centros de pesquisa, indústrias, embaixadas do Brasil nos dois países, além de participação na feira World IT Show, uma referência em tecnologia.
Além de Aguiar, entre os integrantes da missão estavam também José Eduardo Azevedo Fiates, diretor de inovação e competitividade da FIESC; Fabrizio Machado Pereira, diretor regional do SENAI-SC, Alexandre D’ávila da Cunha, CEO da Cebra; André Armin Odebrecht, presidente da Bovenau; Victor André Odebrecht, gerente de engenharia da Bovenau; Vincenzo Mastrogiacomo, presidente da Fundeste; Manuel Mendes, diretor-executivo global da IXL Center, Nelson Akimoto, diretor da Nord Eletric, e Thales Akimoto, fundador da PEAKUP.
E se a ideia da viagem era trazer inspiração para Santa Catarina, o objetivo foi alcançado com êxito, porque o que se viu em termos de tecnologia, organização, planejamento comercial e cultural deixou o presidente Mario Cezar bem impressionado positivamente e esperançoso no desenvolvimento do estado.
“O espírito empreendedor catarinense é voltado para o comércio internacional, mas ainda temos muito para desenvolver e estes países mostraram como isto pode ser possível. No último ano, por exemplo, o Brasil todo movimentou 12 milhões de containers, já Singapura, que é um país do tamanho de Santa Catarina, movimentou 37 milhões. Essa visão de comércio internacional é muito importante e muito parecida com a do empresário catarinense, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”, afirmou.
Sobre as relações comerciais já existentes entre o Brasil, Coreia do Sul e Singapura, o presidente da Fiesc explicou que ela já existe, porém pode ser ainda mais fortalecida. Nos três primeiros meses de 2023, por exemplo, Santa Catarina bateu recorde na exportação, foram US$ 2,7 bilhões exportados e os países da Ásia foram os que mais compraram produtos catarinenses no período. Hoje, mais de 50% da carne suína e boa parte da carne de frango que chega a Singapura é catarinense.
A Coluna conversou com o presidente da Fiesc para saber mais detalhes sobre a Missão. Confira:
Mario Cezar de Aguiar – Vice-presidente da Confederação Nacional das Indústrias
Pelo Estado – Qual balanço você faz desta Missão realizada pela Coreia do Sul e Singapura?
Mario Cezar de Aguiar – O balanço que eu faço é muito positivo. Nós sempre apontamos que as missões têm cunho comercial e inspirador e esta não foi diferente. A Coreia do Sul e Singapura serviram de inspiração para a gente. Parando para avaliar, ambos são desprovidos de recursos naturais, tanto que Singapura importa até água mineral daqui de Santa Catarina, mas com inteligência, investimentos e disciplina eles conseguem superar essa carência. Então, posso dizer que a missão nos encheu de esperança e bagagem para propormos soluções para as empresas e gestores públicos, porque vimos o quão possível é ultrapassar barreiras e atingir um nível alto de desenvolvimento.
PE- Quais foram as principais potencialidades do Brasil apresentadas aos dois países?
Mario – Nós apresentamos a eles Santa Catarina, que embora seja apenas um estado, tem uma diferença da média brasileira em termos de desenvolvimento. Falamos sobre a nossa federação, mas mostramos que o estado é diferenciado e está apto a receber investimento deles, principalmente de Singapura, que é obrigado a investir em outros países para gerar renda para eles, porque é um país pequeno, com poucos recursos naturais, com muita tecnologia e um grande importador.
PE- Quais as principais oportunidades de negócios e acordos mapeados nesta Missão?
Mario – Nós verificamos a possibilidade de fazer convênios com universidades, com institutos de pesquisa e inovação e com escolas técnicas, que são muito desenvolvidas. Aliás, lá há uma orientação para desenvolvimento das habilidades profissionais dos estudantes antes mesmo de entrar nas universidades. Na Coreia, por exemplo, há a garantia de aportes de recursos por parte do governo na área tecnológica, mas o investimento é baseado em um plano com metas e resultados, focados na melhoria da produção industrial e nos serviços. Assim, o investimento se transforma em faturamento e empregos, com resultado para a sociedade.
PE – O que vocês trouxeram de inspiração para aplicação em Santa Catarina?
Mario – Nós vamos divulgar para as empresas algumas possibilidades. Nosso setor de carne e aves já é muito evoluído em questão de comércio internacional. Mas existem muitas empresas ainda que são aptas a vender para estes países, principalmente para Singapura que é mais aberta à importação, e vamos divulgar, através da nossa área de internacionalização, vamos mostrar que existe um mercado a ser explorado e muito interessante para as nossas indústrias.
Também pretendemos sugerir ao governo algumas ideias que trouxemos de lá. Por exemplo, tanto Coreia quanto Singapura tem uma característica forte que é a de se antecipar ao problema, eles buscam agora soluções para problemas que podem surgir daqui 10 anos.
PE – O que vocês percebram que há de diferente comercialmente entre os dois países?
Mário – Na Coreia do Sul nós participamos de uma feira de tecnologia, mas como é um país muito fechado, era algo mais voltado para a Ásia e Coreia somente. Já Singapura, onde participamos de uma feira de alimentos, percebemos que o país é mais aberto para as outras culturas e os outros países, consequentemente, para o comércio com outras nações.
PE – E a que conclusão você chega após esta Missão?
Mario – Essa viagem mostra que ainda temos muito a percorrer, temos grandes possibilidades, mas precisamos resolver nossas questões internas, sabemos que temos um estado inoperante, com muita burocracia e problemas que a sociedade ainda precisa resolver. São coisas que verificamos que precisa ser mudado aqui no Brasil para que possamos nos desenvolver.