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Trabalho e saúde mental: uma relação ainda em descompasso

Assunto já é tratado com mais frequência no ambiente corporativo, mas é preciso avançar muito

#Sextou. Chega a sexta-feira e as redes sociais são inundadas de gente comemorando o fim de semana que bate à porta. Para alguns, essa alegria reflete a expectativa boa de um descanso merecido. Mas, para outros, o sábado e o domingo são momentos de respiro após uma semana sufocante de trabalho.

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Se você está no segundo grupo, dos que andam exaustos, estressados e até descontentes com o próprio trabalho, saiba que você não é exceção. Basta uma pesquisa rápida na internet para encontrar estudos que mostram índices altíssimos de pessoas insatisfeitas no exercício da profissão. E isso, claro, tem impactos sobre a saúde mental.

Felizmente, o assunto já é tratado com mais frequência no ambiente corporativo. Muitas empresas entenderam que precisam estar mais atentas à saúde mental dos colaboradores. Neste ano, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar o burnout uma doença ocupacional, um claro sinal de que também é responsabilidade de quem contrata um trabalhador zelar pelo bem-estar físico e mental dele.

Tudo começa por garantir condições adequadas ao exercício de cada função, com níveis de exigência compatíveis com salário, estrutura, recursos e tempo oferecido para a realização das tarefas. A qualidade das relações interpessoais, incluindo aquelas – muitas vezes difíceis – entre chefes e chefiados, também é decisiva. Mas é preciso ainda mais.

A saúde mental tem que ocupar uma posição privilegiada na área de gestão de pessoas. É uma questão estratégica para qualquer organização. A preocupação primeira é o bem-estar humano, mas a empresa também tem prejuízo quando as pessoas não estão bem.

Dentre as muitas ações possíveis, uma das mais importantes é abrir espaço para o tema, criando uma cultura de diálogo em que o sofrimento mental não seja um tabu. Só assim é possível romper com estigmas e preconceitos. As pessoas precisam encontrar ambientes seguros em que possam se expressar, falar de medos, angústias, sem se sentir constrangidas ou ameaçadas.

Há empresas que também estimulam e proporcionam diferentes atividades voltadas à promoção da saúde mental, como meditação, yoga e práticas esportivas, culturais e de lazer. Outras investem em programas que facilitam o acesso dos colaboradores ao atendimento especializado com psicólogos. Também está em alta o uso de ferramentas digitais, com inteligência artificial, para apoiar iniciativas de acompanhamento e orientação em saúde mental, principalmente em grandes corporações.

É evidente que as empresas têm diferentes estruturas e recursos. Mas, independentemente do tamanho e das limitações, nenhuma pode se abster da sua parcela de responsabilidade.

Cuidar da saúde mental, como já disse por aqui, é uma tarefa coletiva que não pode mais ser adiada.


Fábio Cadorin é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o nosso psiquismo.

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