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Na qualificação, a busca por um futuro melhor na construção civil

Com falta de mão de obra, empresas buscam alternativas para qualificação profissional

Alexsandro Sartor Zanelato, 44 anos, anda pelas obras do Edifício Lovere, em Criciúma, cuidando de todos os detalhes. Observa os serviços realizados pelos trabalhadores onde é responsável pelo canteiro da obra que terá 10 andares. Já são 25 anos de trabalho na construção civil. Do início como servente até chegar a mestre de obras foi um longo caminho.

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“Desde novo comecei como servente de obras, nos intervalos de almoço sempre pegava na colher ou fazia algo da carpintaria e fui pegando jeito. Depois pedreiro, carpinteiro, de carpinteiro fui para contramestre e depois de dois anos passei para mestre de obras”, lembra ele.

Além da experiência no dia a dia, um fator foi importante na carreira de Alexsandro: os estudos. Sempre em busca de qualificação, ele já fez cursos de Leitura e Interpretação de Projeto, de Recursos Humanos e Mestre de Obras na Abadeus e Melhora no Desempenho Industrial, para evitar desperdícios de material na obra. Mesmo há 11 anos na Construtora Fontana e há nove como mestre de obras, ele voltou aos bancos escolares.

Alexsandro Zanelato atua há 25 anos na construção civil | Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

“Ganhamos mais experiência. Depois levamos para frente o que aprendemos. Tudo que estamos aprendendo ali, vamos levando. Eu aprendo na aula lá, chego na obra e vou passando para os funcionários. Trazendo melhorias de lá para cá. O que pode melhorar mais, tudo assim, muito interessante mesmo. Importante”, destaca.

Alexsandro é um dos cerca de 20 alunos do curso de Mestre de Obras do Senai em parceria com a Fontana. Um curso que foi moldado dentro das necessidades da construtora. “Aprendemos bastante coisas diferentes como teoria. Aqui (na obra) temos muita prática e a teoria, às vezes, não tem muito. Aprendemos como conversar com o funcionário, como explicar o dia a dia, o que tem para fazer, o que tem que ser feito, conversando com eles, dando atenção”, ressalta.

Qualificação da mão de obra

A falta de mão de obra está causando preocupação dentro da construção civil. Uma das posições que está em falta é justamente a de mestre de obras. “Com o mercado de trabalho aquecido e a falta de mão de obra qualificada, a construtora investe no desenvolvimento e capacitação da sua mão de obra interna, criando oportunidades de crescimento aos colaboradores e, ao mesmo tempo, atendendo às demandas da empresa. Com isso, surgiu o projeto de Formação Mestre de Obras, uma parceria com o Senai Criciúma, um programa pioneiro na região e que foi desenvolvido com base nos requisitos da Fontana”, explica Camila Colombo, do setor de gestão de pessoas da construtora.

O curso foi dividido em quatro módulos e deve terminar no final deste ano. Além de ensinar a parte técnica dos trabalhos realizados nas obras, busca ensinar diversos quesitos de gestão de pessoas e liderança. Já que os mestre de obras comandam os serviços no dia a dia da construção.

“Bela iniciativa. Estimula aqueles trabalhadores que estão nas nossas obras, que querem crescer, que querem ir para frente, querem ascender profissionalmente. Tendo oportunidade de aprender e serem percebidos pela empresa”, ressalta o diretor de Operações da Fontana, Leonardo Ribeiro Martins.

Os cursos, para ele, são uma boa forma de a empresa, também, avaliar os funcionários para futuras promoções. Bem como de suprir a falta de mão de obra. “São fundamentais. Quanto maior a oferta de cursos, maior a probabilidade de suprirmos essa carência. Já existem cursos de pedreiro, carpinteiro, encanador, instalador elétrico, pintor, entre outros”, afirma. “Lógico que os cursos não tem 100% de eficiência, mas se a cada curso desse,  10%  resolverem entrar no ramo, já valeu a pena”, completa Leonardo.

Fontana está realizando curso de mestre de obras em parceria com o Senai para colaboradores da empresa | Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

Falta de interesse

Para a supervisora dos cursos de curta duração do Senai de Criciúma, Izamara Fabri Custódio, a falta de interesse é um dos fatores que ocasiona a falta de mão de obra especializada. Essa falta tem sido notada na construção civil, mecânica e confecção.

“As pessoas, de forma geral, devem despertar mais para isso. Temos várias opções de cursos de qualificação na cidade. Várias instituições, várias áreas e preços. Tem cursos gratuitos. As pessoas têm que entender que qualificação profissional pode sim abrir muitas portas no mercado de trabalho para quem realmente queira”, ressalta. “Em contrapartida, as empresas devem investir mais na qualificação dos seus colaboradores”, completa Izamara.

Ainda segundo ela, o que falta, muitas vezes, é as empresas investirem mais na formatação de cursos e qualificação da mão de obra dentro do ambiente de trabalho. Bem como as pessoas que buscam uma oportunidade no mercado, buscarem a qualificação.

“A mão de obra está baixa. Ano passado oferecemos os curso de pedreiro de alvenaria em Içara, no nosso projeto das escolas móveis. Temos uma carreta de construção civil. Deu certo, fechamos uma turma de 20 alunos. Alguns já estavam empregados e vieram buscar mais qualificação e outro não estavam e queriam entrar na área. Alguns já foram empregados no final do curso”, ressalta ela.

Além do curso com a Fontana, o Senai está disponibilizando o curso de Assentador Cerâmico. “Na área da construção civil temos cursos. Inclusive estamos com o de assentador cerâmico em aberto. As pessoas interessadas podem procurar o Senai. Ele é pago. Estamos, também, com esse projeto junto com a Fontana, oferecendo o curso de mestre de obras totalmente customizado para a realidade da construtora. São 240 horas e vai ser executado o ano todo”, explica ela.

Visando, justamente, suprir a falta de trabalhadores, o Senai desenvolve cursos específicos para as empresas interessadas. Isso ocorre dentro do projeto Hability Pro que é um programa da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC). “Onde podemos customizar o curso de acordo com a realidade da empresa e executar este curso para a empresa”, afirma.

As empresas interessadas em formatarem cursos em parceria com o Senai podem procurar a instituição através do (48) 3431 – 7100.

Mestre de obras, carpinteiro e encanador são algumas funções que estão em falta no mercado de trabalho | Foto: Divulgação/Imagem ilustrativa

Indústria em movimento

Em busca de qualificar a mão de obra e de soluções, as indústrias estão se mobilizando no Região Sul. Não apenas a da construção civil, mas de diversos ramos. “Essas questões estão sendo tratadas pelas entidades. Já vemos vários movimentos acontecendo aqui em Criciúma, também. Inclusive esses movimentos se uniram ao poder público, instituições de ensino e empresas. Estão conversando sobre isso e formulando como fazer para que tenhamos formação de nova mão de obra e qualificação da mão de obra existente”, destaca o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Siduscon) de Criciúma, Mauro Sônego.

Segundo ele, a falta de mão de obra fica mais evidente quando a construção civil está mais aquecida. “Quando a construção civil está mais em alta esse problema se agrava e percebemos que é a formação de novas pessoas, nova mão de obra que não está reciclando”, analisa Sônego.

Pintor, encanador (instalador hidráulico), carpinteiro e mestre de obras estão entre as funções com maior falta no mercado da construção. “Existe uma pesquisa a nível nacional que 35% dos jovens entre 16 e 24 anos, não tem interesse, não tem atividade e não tem interesse em ter”, afirma. “Não tem emprego porque não se interessam nesses trabalhos que tem disponível, vagas que a indústria já tem”, finaliza.

Uma mudança de perfil, sentida nas empresas. “Antes o profissional trabalhava e procurava ensinar o filho a seguir a profissão que ele tinha. Um tempo atrás tinham famílias que se fosse conhecer, o avô era pedreiro, o pai era pedreiro e o filho era pedreiro. Hoje o mercado de trabalho apresenta mais alternativas e alguns não querem trabalhar em obra. Eles querem ter outro tipo de atividade que exija menos esforço físico”, lembra o diretor de operações da Fontana.

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