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Menos heróis, mais humanos

A sociedade do alto desempenho tem criado mais doenças do que agentes de transformação

Em um tempo em que se prega tanto a possibilidade (e necessidade) de alcançar alto desempenho, tenho achado que precisamos mesmo é baixar um pouco a bola. O velho projeto da modernidade, que colocou o homem no centro do mundo e a razão como qualidade máxima, dá mostras constantes de que não para de ruir.

Ponha de lado um pouco as imagens perfeitamente enquadradas e cheias de filtro das redes sociais e espie o cenário ao redor. Logo você vai ver que esse “ser superior”, dotado de razão, anda fazendo muito estrago.

Como humanidade, não estamos bem.

Visão pessimista? Não necessariamente. Eu diria que uma dose de olhar mais realista pode nos colocar em melhores condições de buscar alguma transformação positiva. Enquanto julgarmos ter potencial de heroísmo, uma espécie de delírio megalomaníaco, pouco atentaremos aos sinais de alerta e às nossas limitações. E olha que o microscópico coranovírus já deu mostras do nosso tamanho.

Mas calma! Nem oito nem oitenta. Também não somos impotentes, principalmente porque temos grande capacidade de agir em conjunto. Podemos unir forças e pensar em soluções. Nunca vamos construir o mundo perfeito, a humanidade perfeita, a vida perfeita… Então, que tal fazer o que é possível?

Falei em coluna anterior que assumir responsabilidades e pôr mãos à obra para resolver problemas é conquistar o lugar de adulto, de sujeito, em contraposição a uma condição de objeto, mais passiva e infantilizada. Mas ser adulto é bem diferente de ser herói. A sociedade do alto desempenho tem criado mais doenças do que agentes de transformação. Enquanto continuarmos buscando ser o máximo – e pagando o preço com estresse, ansiedade, depressão – poucas mudanças conseguiremos promover, em nível individual e global.

Meu convite hoje é para que nos olhemos como humanos, com sua grandeza e com seus limites. Apenas humanos.

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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