Notícias de Criciúma e Região

Jorge Boeira: A Política Externa do Brasil exige mudanças

A eleição de Joe Biden à presidência dos Estados Unidos forçará o governo brasileiro a repensar a sua política externa. Aliado incondicional do quase ex- presidente Trump, Bolsonaro, que optou por uma política externa subordinada aos interesses americanos, não terá como continuar filiado ao negacionismo e ao uniliteralismo trumpista.

Biden, muito certamente, adotará postura próxima do que era o governo de Barack Obama do qual foi vice presidente, e deverá ser pela ruptura com as políticas externas de Trump, com mudanças nos posicionamento dos EUA diante do mundo em vários aspectos que passam pelo unilateralismo e o negacionismo predominantes nos últimos quatro anos.

Entre em nosso grupo e receba as notícias no seu celular. Clique aqui

Haverá um realinhamento das grandes potências econômicas mundiais e neste novo contexto, com a mudança na Casa Branca, o Brasil deverá repensar a política externa para ser mais “pragmático”, enxergar a realidade do mundo, evitar conflitos com os grandes parceiros comerciais e se reaproximar dos países do Mercosul, União Africana, União Europeia e outros organismos multilaterais.

Sabemos que a política exterior se move por interesses minimamente mútuos. Durante a campanha eleitoral, Biden prometeu um fundo de 20 bilhões de dólares para serem aplicados na preservação ambiental da Amazônia. O Brasil, não pode ficar fora disso. Junto com os outros países que fazem parte da floresta, criar as condições, respeitada a soberania nacional, as populações tradicionais e o agronegócio de como acessar e aplicar tais recursos de forma sustentável.

Feito isso, o grande acordo comercial firmado entre Mercosul e União Europeia que enfrenta dificuldades de aprovação pelos parlamentos em cada Estado Nacional poderá ser retomado. Trata-se de um acordo comercial ambicioso do ponto de vista econômico. Segundo estimativas do Ministério da Economia, o acordo representará um aumento do Produto Interno Bruto de US$ 87,5 bilhões em 15 anos, podendo alcançar até US$ 125 bilhões se forem considerados a redução das barreiras não tarifárias e o incremento esperado na produtividade.

O aumento de investimentos no Brasil, no mesmo período, será da ordem de US$ 113 bilhões. Com relação ao comércio bilateral, as exportações brasileiras para a União Europeia apresentarão quase US$ 100 bilhões de ganhos até 2035. A não aprovação está muito vinculada às questões ambientais no Brasil.

Ainda na questão da economia, é preciso recompor as relações com a China num patamar mais diplomático a evitar constrangimentos na relação com o maior comprador das commodities brasileiras, além de buscar atrair investimentos externos, daquele ou de outros países, em obras de infraestrutura, energia, transportes e outros em condições de dinamizar a economia nacional e contribuir para cessar o processo de desindustrialização em que passa o Brasil.

Além dessas duas tarefas urgentes, também é preciso voltar os olhos para a União Africana e para o Oriente médio. O primeiro, pelo enorme potencial a ser aproveitado pela indústria e pelo agronegócio num continente, que apesar de todos os problemas, mantêm uma razoável média de crescimento. No Oriente Médio, há espaços para uma maior participação do agronegócio no que tange às exportações de proteína animal. Também é preciso retomar a nossa participação nos BRICS como forma de garantir financiamentos multilaterais para além das instituições tradicionais existentes.

Enfim, existem muitas possibilidades de oportunidades. O Brasil precisa saber aproveitá-las num momento em o mundo deverá passar por um novo realinhamento. Para tanto é preciso tornar a política externa brasileira mais pragmática, voltada para as necessidades concretas da economia brasileira e sair do patamar de disfuncionalidade até então demonstrado.

A política externa do Brasil exige mudanças. Conduzi-la apenas pelo viés ideológico não se mostra a maneira mais adequada, inclusive, sem descartar eventual troca no comando da pasta, sob pena de ficar isolado e afastado das grandes pautas internacionais, sofrer sanções internacionais desnecessárias, comprometer o desenvolvimento da matriz econômica brasileira e se mostrar aos olhos do mundo como pária do multilateralismo e do multiculturalismo, das questões ambientais, minorias e outros temas que integram a moderna agenda global.

Você também pode gostar