Notícias de Criciúma e Região

Inspiração por trás das grades: poesias escritas por reeducandos do Santa Augusta são premiadas em concurso

“Uma volta que te traga de volta” e “Solidão”. Estas foram duas, das 48 poesias vencedoras do concurso – “A poesia vai de ônibus”, promovida pela Associação Criciumense de Transporte Urbano (ACTU), que neste ano contou com o apoio da Academia Criciumense de Letras (ACLe).

Nesta terceira edição do concurso podemos considerar que as duas poesias, possuem um significado ainda mais especial, elas venceram barreiras, pois foram escritas por reeducandos do Presídio Santa Augusta de Criciúma: Leandro Marques dos Santos e Alan Leite de Rezende, 34 anos.

Surpresos e emocionados pelo reconhecimento, eles receberam os certificados de premiação, na tarde desta segunda-feira, 16, no próprio presídio. “Cada poesia tinha um motivo especial para cada um deles”, destacou a agente penitenciária e responsável pelo setor de educação, Ana Claudia de Assis Zanelato.

Uma das juradas e integrante da Academia Criciumense de Letras (ACLe), Sandra Silvestre, informou que os escritores são anônimos e colocam apenas p pseudônimo nas poesias. Seguindo ela, foram inscritas 400 poesias, destas teriam que tirar 50.  “Foi uma tarefa difícil e confesso ter sido uma surpresa ter o trabalho de dois detentos participando e sendo escolhidos. Posso garantir que suas poesias são de muita qualidade”, elogiou.

Desde o dia 5 de dezembro, estes poemas já estão circulando pela cidade, em toda frota do transporte coletivo. “Consideramos esse concurso, o projeto mais importante desenvolvido pela ACTU. É uma forma de nos aproximar, cada vez mais, de nossos clientes. Queremos, por meio das poesias, que eles sonhem, pensem, amem e reflitam”, disse o presidente da ACTU, Davi Tiskoski.

Despertar pela leitura

Leandro, Alan e outros três reeducandos foram incentivados a participar do concurso pela professora de língua portuguesa, Edna Galeazzi Peres, que atua juntamente com eles desde fevereiro deste ano no projeto Despertar pela Leitura. Trata-se de uma ação desenvolvida no sistema prisional do estado que estimula a reinserção social do interno, por meio do ensino e da literatura e pode resultar em quatro dias de remição de pena.

“Falei sobre o concurso para quem tinha interesse, pois percebi que teríamos chances de vencer. Fiz a inscrição dos cinco, acompanhei o Alan de perto, pois ele fazia parte de minha turma e levou ainda mais a sério a proposta. Eu tinha esperança de que alguma poesia de nosso projeto fosse classificada e conseguimos”, disse a professora, entusiasmada com o resultado positivo.

 “A poesia se tornou uma extensão da minha vida social”, diz reeducando

“A poesia que escrevi retrata realmente a minha vida. Eu estava em um momento muito difícil, há poucos meses preso e emocionalmente muito abalado com toda a situação. Estou aqui por um erro que cometi, mas necessitava dessa ruptura com a minha vida, passado e todas as coisas que ficaram para trás. A poesia me ajudou no sentido de colocar para fora as minhas emoções e me trazer um equilíbrio emocional maior. Se tornou uma extensão da minha vida social aqui dentro. O que inspira é a vida, as pessoas, a minha história ”, conta Alan.

E foi por meio desse projeto que surgiu a inspiração para que Alan também escrevesse um livro. “Nunca fui de escrever, minha profissão antes de cumprir a pena era de arquiteto de softwares, mas confesso que a poesia me abriu portas. Pelo menos pra mim, ela tem servido para libertar as pessoas com relação a consciência principalmente. As pessoas têm dificuldades de expressar os sentimentos e para mim serviu como uma extensão da minha vida social, ainda que limitada aos muros aqui da cadeia”, revela ele. Alan já escreveu um livro técnico relacionado a software e um outro religioso, chamado “Porque o deserto”, que buscas parcerias pare serem editados já possui outros três a caminho.

Entre em nosso grupo e receba as notícias no seu celular. Clique aqui

Já Leandro, que nunca tinha escrito uma poesia, para a sua estreia literária resolveu utilizar como tema a solidão. Segundo ele foi em noites mal dormidas encostado na grade da cela, que começou a rascunhar as primeiras linhas. “Para mim, a solidão é a pessoa se autoconhecer, saber suas origens onde muitas vezes perdemos a nossa essência. As pessoas se aproximam da gente e roubam um pedaço de nós. Esse poema eu quis colocar no papel que ao invés das pessoas roubaram um pedaço de nós, elas precisam acrescentar na gente”, considera.  E completa. “A remição do livro é um projeto que  faz com que a gente consiga estar preso, como também estar livre. Temos a possibilidade de  termos livros à disposição é hoje uma forma mais direta de ressocialização. É um momento que a gente se fecha em si mesmo e consegue romper as grades e viajar lá fora. Que as portas se abrem mesmo estando fechadas”, acredita.

Você também pode gostar