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Giacca: 100 anos transformando vidas através da educação

Escola de Educação Básica Padre Miguel Giacca acompanhou a evolução do Rio Maina e de Criciúma

Em 29 de junho de 1922, há 100 anos, iniciava as atividades na comunidade de Rio Maina, em Criciúma, a professora Custódia Cardoso de Oliveira. Vinda de Tubarão e descendente de índios, a missão da professora era ensinar português para os colonos que vieram da Itália e fundaram o, hoje, distrito de Criciúma.

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“Ela veio trabalhar no Rio Maina na época nas colônias de italianos. Na época em questão era a segunda guerra mundial. Início Getúlio apoiou Hitler e depois ficou contra, quando proibiu de se falar alemão e italiano no Brasil. Então ela entrava nas colônias para ensinar as pessoas a falar português”, lembra a neta de Custódia, a diretora da Escola de Ensino Fundamental São Cristóvão, Luciana Vieira.

Única foto da primeira professora do Rio Maina e do Giacca, Custódia Cardoso de Oliveira ao lado do esposo Marcos e dos alunos – Foto: Arquivo/Giacca

Casada com o descendentes de português, Marcos, e vinda de fora, Custódia teve dificuldades em entrar em algumas colônias. Já que na época, o dialeto italiano era a língua mais falada. “Algumas colônias não aceitavam e acabaram aceitando quando foi imposto”, ressalta. “A vida de professor era difícil, chegava tinha que fazer a merenda, limpar a escola. Mas eram respeitados”, analisa. “Ela deu aula aos italianos todos ali. Até os mais velhos, fundadores do Rio Maina foram alunos dela”, completa Luciana.

A educação seguiu nas família de Custódia com as filhas Doraci e Dorli. Luciana é filha de Doraci. Ela e sete irmãs seguiram a vocação familiar e se tornaram professoras. “A mãe teve 13 filhos, nove são mulheres e oito são professoras. Tem professora de português, matemática, física, pedagoga e por aí vai. No momento eu, apenas, estou na ativa, as outras já estão aposentadas. Já tem sobrinhas que, também, são professoras. Então são cinco gerações”, afirma.

Custódia deu o passo inicial do que se tornaria uma das maiores escolas de Criciúma.  “A vó morreu de câncer. Ela se aposentou no Coelho Neto”, lembra Luciana.

Neta de Custódia, Luciana seguiu a carreira da avó e da mãe e se tornou professora – Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

“Representa uma vida inteira”, relata ex-aluna e professora

Após o início das atividades, em 1943 a Escola se tornou Escola Desdobrada. Já em 4 de abril de 1949 o local passou  a se chamar Escola Reunida Carmela Dutra. Foi, então, que em 1956 o local foi transformado em Grupo Escolar Padre Miguel Giacca, em homenagem à Cônego Miguel Giacca. Líder religioso e primeiro vigário de Nova Veneza.

“O Giacca para mim representa uma vida inteira. Primeiro como estudante e depois como professora. Ali comecei a estudar no ano de 1966. Foi onde aprendi as primeiras letras e depois em 1986 voltei como estagiária dos cursos de pedagogia nas séries iniciais. E em 1998 retornei como professora efetiva do curso do magistério nas disciplinas de didática e estágio supervisionado”, fala emocionada a professora aposentada, Angela Maria Colombo.

Da época de estudante do Grupo Escolar, ela lembra bem de como era o refeitório. “Lembro das professoras, bem queridas. Nunca tive problema de relacionamento com professor. A cozinha era muito marcante. Aquele fogão a lenha enorme, bem grande. As serventes fazendo sopa. Comíamos muita sopa na época. As escadarias que iam para o segundo pavimento. Até hoje estão iguais, só colocaram os corrimãos. Descíamos ali correndo”, relembra.

Angela estudou no Giacca, do 1º ao 8º ano. Já que naquela época havia o Ensino Primário (1ª a 4ª série) e o Ginásio (5ª a 8ª série). Segundo ela, quem quisesse seguir nos estudos deveria se deslocar até o centro.

“Todo início de semana fazíamos o hasteamento da bandeira. Todos os alunos no pátio e cantávamos o hino nacional. Na sexta, havia o arriamento da bandeira que no final de semana ficava guardada. Gostávamos muito. Tinha uma interação muito boa entre professor e aluno. Aprendíamos dança, teatro, fazíamos apresentação no Show de Valores da escola, tínhamos gincana. Tenho muito orgulho disso, foi uma escola que me acolheu em muitos momentos tristes da minha vida”, comenta.

Angela lembra das feiras de ciências e gincanas como na foto que segura, quando teve que ir em busca de um uniforme da época que estudou no Giacca para uma gincana – Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

Já em 1998 quando voltou como professora. Angela encontrou uma nova escola. “Bem diferente. Já tinha mais uma construção que antes não tinha. Já existia uma sala que seria de informática, mas não chegavam os computadores. A cozinha toda moderna com fogão industrial, freezer e geladeira com refeição diferenciada, mais nutritiva. A sala que comecei a estudar virou biblioteca. Já tínhamos sala específica para professoras”, conta.

Efetivada como professora do Governo do Estado em 1994, ela iniciou em um escola de Siderópolis. Até conseguir a transferência para o Giacca. “Consegui a remoção para o Giacca, estavam precisando de professor na minha área. Para mim foi estar no céu. Além de não depender mais de ônibus, em uma escola que sempre amei. Estava muito feliz, sempre”, afirma a moradora do Rio Maina.

Foram cerca de 15 anos de atuação no Giacca, até a aposentadoria. “Acompanhei todo progresso. Quando comecei a trabalhar, por exemplo, nós usávamos mimeógrafo, retroprojetor e máquina de datilografia. Quando cheguei no Giacca estava iniciando a informatização. Depois de um tempo vieram os primeiros computadores e impressoras contínuas. Na minha hora atividade eu ficava aprendendo e auxiliando os professores. Sempre fui muito metida nessas coisas. Peguei o início dessa tecnologia, depois com os data-shows que dei muita aula”, fala.

“Sou Giacca e orgulho-me disso”

Muito mais que um lema, a frase: “Sou Giacca e orgulho-me disso” é a condensação do sentimento dos alunos e docentes que passaram e passam pela Escola. “Havia muita disputa política. Então críamos um projeto para ouvir os alunos. E percebemos que independente do governo que estivesse a escola iria permanecer. Então elaboramos esse projeto e elaboramos novamente o projeto político pedagógico da escola. Onde surgiu a frase: ‘Sou Giacca e Orgulho-me disso’, que até hoje é o lema e filosofia da escola. Porque uma escola não existe sem a interação entre aluno e professor. Ela é viva. Sem isso, ela é simplesmente um prédio”, rememora Angela.

Lema que, a diretora da, hoje, Escola de Educação Básica Padre Miguel Giacca, Marilda Marcos Lopes, espera que siga por mais 100 anos. “Não temos palavras para estar definindo esse momento. As histórias que estamos ouvindo, os ex-alunos que fazem questão de vir aqui na escola e contar o seu momento vivenciado. A importância da escola na vida deles. A diferença que eles estão fazendo na sociedade. Realmente, só afirma e reafirma a importância do papel do Giacca na vida de cada ser humano que por aqui passou”, ressalta ela.

Marilda junto com os alunos do Ensino Fundamental do Giacca – Foto: Arquivo Pessoal

Quanto ao futuro, diversos planos são traçados e projetos como o ‘Além dos Muros da Escola’, que deverá ser lançado em breve. “É um projeto ousado que vai ser lançado a qualquer momento, só aguardar. Temos, também, o novo Ensino Médio implantado esse ano que, também, desafia o aluno a ser protagonista do que faz e onde quer chegar. O Giacca do Século 21 pensa lá na frente. Hoje temos cinco alunos e duas professoras que estão em Florianópolis nos representando no Parlamento Jovem, levando um projeto de lei que tem tudo para ser aprovado”, conta Marilda.

Atualmente, a escola possuí 1.200 alunos do Ensino Fundamental ao Ensino Médio. “O futuro começou, o futuro é o Giacca e o que queremos sempre, é que qualquer aluno que passe ou vai passar por aqui siga fazendo o nosso lema que é ‘Sou Giacca e Orgulho-me disso’. Porque o Giacca é uma escola familiar que vai de geração em geração”, projeta a diretora. Veja fotos antigas:

 

Programação intensa neste aniversário

Uma programação intensa foi preparada esta semana para a celebração dos 100 anos. Nesta quarta-feira, dia 29, dia do aniversário de 100 anos, as comemorações iniciaram com uma carreta as 9h por diversos bairros do Rio Maina. Após, o grupo Amici Della Polenta de Urussanga, faz o tombo da polenta na escola. Às 14h, a rua na frente do Giacca será fechada para ocorrer a Rua do Lazer com diversas atividades recreativas.

Fechando o dia, às 18h, uma Solenidade será realizada e contará com a presença de autoridades, ex-professores, ex-alunos e toda a comunidade escolar. Na oportunidade será feito o corte do bolo, o lançamento do hino do centenário da escola e encerramento com o Show de Marília Dutra.

“É uma satisfação estarmos juntos com toda a comunidade escolar. As ações que estamos fazendo para essa comemoração é intensa, é festiva. As honrarias que temos recebido nos últimos dias da Câmara de Vereadores, do Circolo Bergamasco, de nossos ex-alunos da comunidade só nos mostra que estamos no caminho certo. Que os alunos do Giacca estão fazendo sua parte e que os pais podem ficar tranquilos que escolheram a melhor escola para os filhos”, finaliza a diretora.

Saiba mais

Confira a programação:

Quarta-feira, dia 29

9h – Carreata Festiva
12h – Tombo da Polenta
14h – Rua do Lazer
18h – Solenidade com corte de bolo, lançamento do hino e show de Marília Dutra

Quinta-feira, dia 30

18h30 – Apresentação na Escola da Banda de Música da Polícia Militar de Santa Catarina – O piano catarinense

Sexta-feira, dia 1

19h – Sessão Solene da Assembleia Legislativa de Santa Catarina

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