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Falar é o primeiro passo para salvar vidas

Governo Federal parece despertar para a crise na saúde mental. Que seja o início de um movimento de longo prazo e de amplos investimentos

Embora muito importante – e até imprescindível em alguns casos –, ter acompanhamento psicológico profissional ainda é privilégio de poucos no Brasil. Mas, nesta semana, foi dado um passo para ampliar o acesso da população a esse tipo de cuidado. O Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde, lançou um conjunto de iniciativas para tentar minimizar a crise na saúde mental, que se agravou com a pandemia do coronavírus.

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Comparado ao tamanho do problema, o investimento inicial é bem modesto: cerca de 45 milhões de reais. Contudo, pelo menos é um sinal de que o poder público parece ter despertado para uma situação que há tempos vinha clamando por mais atenção.

O SUS já oferece alguns serviços na área da saúde mental. Só que nos últimos anos a demanda aumentou de modo expressivo e, com o período de isolamento motivado pela pandemia, o quadro piorou drasticamente, inclusive entre crianças e adolescentes.

Um dos projetos lançados nesta semana é o Teleconsulta. Em parceira com a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), o governo vai disponibilizar mensalmente 12 mil teleconsultas com psicólogos e seis mil teleconsultas com psiquiatras. O objetivo é prestar assistência, principalmente, a pessoas com transtornos mentais leves. Equipes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) serão responsáveis pelos agendamentos.

Também foi apresentada a Linha Vida, que vai atender pelo número 196, acolhendo e direcionando pessoas, com vistas à prevenção do suicídio e da automutilação. É um projeto-piloto que no início funcionará apenas no Distrito Federal. No pacote, ainda entram linhas de cuidado mais direcionadas a pessoas com ansiedade e depressão.

Deve levar algum tempo até que toda a rede pública de saúde esteja organizada e orientada para o pleno desenvolvimento dessas estratégias. Aos gestores públicos de estados e municípios, cabe trabalhar e cobrar para que esse processo seja acelerado. E nós, como cidadãos, precisamos ficar atentos e cobrar.

Pelos recursos anunciados, está claro que se trata apenas de uma semente. Esperamos que que seja o início de um movimento de longo prazo e de amplos investimentos. Tenho insistido aqui sobre a necessidade de colocarmos a saúde mental em pauta, seja nas conversas em casa, nas escolas, nas empresas e, óbvio, nas discussões que envolvem políticas públicas. O motivo agora também está posto no lema das estratégias recém-lançadas: “Falar é o primeiro passo para salvar vidas”.

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Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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