Notícias de Criciúma e Região

Dá pra ficar bem?

É hora de nos tornarmos adultos, como sujeitos e como humanidade

As notícias não andam boas. Pandemia, guerra, crise ambiental, intolerância política, inflação, violência… Está claro que o mundo não atravessa um bom momento. No âmbito individual, a onda de ansiedade e depressão que atinge um número crescente de pessoas também mostra que as coisas não vão bem.

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Em um tempo tão atribulado e cheio de incertezas, a gente se pergunta como é possível ficar bem ou recuperar a saúde mental.

Penso que a reflexão deve começar pelo estabelecimento de uma visão mais sensata e menos afetada pelo calor do momento.

A crise atual não é um fato isolado nem representa o pior dos tempos. A história é repleta de períodos caóticos. Já tivemos outras guerras, pandemias, grandes conflitos sociais e um sem-número de eventos que revelam que a trajetória humana nunca foi tranquila e linear.

Talvez a dificuldade de compreender este momento se deva à tendência de superestimar nossa capacidade como seres soberanos no planeta. Como o homem, um ser inteligente e capaz de aprender com os erros do passado, um ser consciente, com suas filosofias, suas religiões que pregam o bem e a verdade, e com sua ciência que tantos avanços promete, foi capaz de deixar a situação chegar a esse ponto em pleno século 21?

Tudo isso só nos mostra que ainda temos muito a evoluir. Um vírus acaba de nos provar que não somos tão senhores de tudo quanto pensávamos.

Mas, se por um lado precisamos calçar as sandálias da humildade, por outro não podemos assumir uma posição passiva a ponto de acreditar que, diante de tantas forças contrárias, nada se pode fazer. Trazendo para o contexto do desenvolvimento psíquico, é como dizer que precisamos abandonar o lugar infantil, de objeto, em que o outro tem poder absoluto, para então assumir a posição de adulto, de sujeito, capaz de fazer escolhas e de promover mudanças.

Não estou falando de abraçar o discurso delirante que vigora por aí e que sustenta o “tudo posso, basta querer”. Aceitar que existem limites – ou a castração, para usar um termo freudiano – também é sinal de maturidade. Só que apenas esperar que outros resolvam nossas questões e as questões do mundo, sem tomar qualquer atitude, é atestar que ainda estamos longe de nos tornar realmente adultos. E sem esse amadurecimento, diante de um cenário tão adverso como o atual, não há saúde mental que resista.


Fábio Cadorin | @fabiocadorin é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o psiquismo.

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