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Especialistas ficam chocados com prefeito que quer tratar Covid-19 com administração retal de ozônio

Tomou as redes sociais desta terça-feira, 04, um vídeo onde o prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni, afirma que vai usar a aplicação de ozônio pelo anus para o tratamento de pacientes com o coronavírus. De acordo com ele, o município foi inscrito na Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), vinculada ao Ministério da Saúde, para integrar um protocolo de pesquisa sobre a ozonioterapia.

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“Serão apenas os casos positivos. Além da ivermectina, da azitromicina, da cânfora, nós também vamos oferecer o ozônio. É uma aplicação simples e rápida, de aplicação de três minutos, provavelmente por meio do reto. O cateter será fininho e terá resultado excelente. (…) Com isso, nós vamos ser autorizados a ter um laboratório de ozônio. Já estamos definindo o local e providenciando os aparelhos”, disse Morastoni.

No tratamento, o paciente deveria realizar cerca de 10 sessões. A declaração bastou para viralizar nas redes sociais. Grande parte dos usuários acabou entendendo a notícia como falsa, em razão do caráter inusitado. Além de prefeito, Volnei Morastoni também é médico, com pós-graduação em Pediatria e em Saúde Pública.

Profissionais repudiam declarações

O pneumologista de Criciúma, Renato Mattos, diz que isso é uma vergonha para o estado e Itajaí. Ele ainda destacou que o município do prefeito do ozônio é o com maior índice de mortalidade pelo vírus. “Itajaí tem a maior mortalidade no estado – e o prefeito continua fazendo bobagens, sem nenhum respaldo da ciência. Absurdo”, desabafa Mattos.

Ele também lembra do Twitter de Natália Pasternak que é uma das maiores pesquisadoras do país. “Perdeu a paciência e com razão”, avalia. Na mensagem Natália escreve: “Acho que tentaram todas as pseudociências em Itajaí e já que nada funciona mandaram tomar no $&@ mesmo…”.

O chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, Eduardo Sprinz. O especialista se declarou estupefato com a divulgação do prefeito:

“É uma coisa inacreditável. Prefiro muito mais usar a máscara e outros mandamentos para evitar a contaminação. Em termos de seriedade, existe uma ideia de que o ozônio possa ter capacidade parecida com a do álcool gel. Agora, usar em pessoas como tratamento, é certamente uma inovação, via retal ainda. Eu desconheço qualquer coisa assim. Estou estupefato, surpreso com tudo isso”.

Projeto propõe tratamento para todo Brasil; entidades de saúde emitem notas

Desde abril, um mês depois da pandemia chegar ao Brasil, a utilização da ozonioterapia contra a Covid-19 é defendida por alguns médicos e políticos. A deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF) propôs um projeto autorizando o tratamento no Brasil. E no mês passado, a terapia foi tema de um debate no Congresso Nacional.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) alertou, em nota pública, que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso a proposta seja aprovada pelos parlamentares. Para o CFM a ozonioterapia ainda carece de garantias de eficácia e segurança.

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) também se manifestou. De acordo com a entidade “não há qualquer evidência científica que a ozonioterapia proteja contra a Covid-19”.

Segundo o CRM-SC, uma resolução do Conselho Federal de Medicina proíbe a prescrição de ozonioterapia em consultórios e hospitais. “A exceção pode acontecer em caso de participação dos pacientes em estudos de caráter experimental, com base em protocolos clínicos e critérios definidos pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa”, diz o CRM em Nota.

Ainda segundo o CRM, o mesmo documento ressalta que não há comprovação sobre os benefícios da técnica para tratamento de doenças e que sempre é necessário validação por parte do órgão federal. “O CRM-SC esclarece que todas as formas de tratamento, não apenas relacionados à Covid-19, devem ser validados pelo Conselho Federal de Medicina (CFM)”, informou.

O que é ozonioterapia?

A técnica, que consiste na aplicação dos gases oxigênio e ozônio por diversas vias, como intravenosa ou intramuscular, com objetivo terapêutico, é usada no Brasil há mais de 45 anos, para tratamento, de modo isolado ou complementar, de patologias como câncer, doenças virais, hérnias de disco, queimaduras e dores articulares.

O paciente recebe uma mistura dos gases oxigênio (95%) e ozônio (5%). Quem defende lembra que a ozonioterapia é utilizada em diferentes países e aponta seus benefícios no corpo.

Segundo o Colégio Médico Brasileiro de Ozonioterapia (CMBO), o ozônio “é um potente anti-inflamatório, melhora a imunidade, a oxigenação dos tecidos”, além de ter um baixo custo. Atualmente, em média, uma sessão de ozonioterapia custa R$ 90.

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