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Emocionante: policiais relembram resgate de crianças e pai após carro cair em rio

A sexta-feira de 29 de julho era mais um dia normal de trabalho para os sargentos Willyan Bosco, Nicholas Canani e Leandro Alberto da Silva da Polícia Militar Rodoviária (PMRv) de Cocal do Sul. Os profissionais haviam assumido o serviço às 8 horas e seguiam as atividades rotineiras. O que eles não imaginavam é que aquela sexta-feira ficaria marcada na vida deles.

Os profissionais estão sempre prontos para atender qualquer tipo de ocorrência. Acidente, assalto, furto, fiscalização e etc.. Mas segundo os sargentos, o que eles sempre pedem para que não aconteça é atendimento com criança. E foi justamente o que aconteceu. E se não bastasse, foram quatro de uma vez só.

Após assumir o serviço, os policiais foram encaminhados para uma fiscalização na Rodovia Jorge Lacerda (SC-108), no bairro Sangão, em Criciúma. Era por volta das 14 horas, quando os profissionais estacionaram a viatura em frente ao Iparque (apenas referência) e iniciaram a operação.

O primeiro carro que seria abordado se aproximava, era um Peugeot 308 de cor preta. A placa do veículo era do Rio Grande do Sul. Dada a ordem de parada, o carro obedece, ou ao menos os policiais acharam que ele ia obedecer. O motorista reduziu a velocidade, entrou no acostamento, mas logo fugiu.

Os policiais, então, iniciaram a perseguição pelas ruas próximas, mas perderam o carro de vista. Foi quando seguiram sentido à Rodovia Jorge Lacerda, e nas proximidades da ponte do Rio Sangão, viram algumas pessoas acenando para a guarnição. “Pensamos que era um acidente. Só descemos da viatura e as pessoas desesperadas falaram que um carro havia acabado de cair no rio”, contou Nicholas. Era o veículo que havia fugido minutos atrás.

 

Sargento Nicholas – Foto: Júnior Chagas/Portal Litoral Sul

O socorro

O acidente colocou à prova todo o treinamento e experiência que os profissionais têm. Os policiais se preparavam para entrar no rio, quando um homem entregou um bebê de um ano e sete meses nos braços do sargento Nicholas. Era o pequeno Pedro.

Segundo o policial ele estava sem respirar, pingando água e cheio de areia. “Por mais que você esteja preparado para desafogar um bebê, é difícil. Tentei pronar ele para dar tapas nas costas e ver se saia água, mas não estava funcionando. Fiquei muito nervoso e comecei a fazer massagem cardíaca, mas ele não voltava. Um tempo depois, ele fez um som de choro, continuei a massagem e ele vomitou. Fiz a respiração boca a boca e coloquei ele de lado”, contou emocionado o sargento Nicholas.

Enquanto o policial atendia o bebê, o inesperado acontece. Os populares começam a trazer mais crianças. “Um pessoal tirava as crianças do carro e outros traziam para cima da ponte e nos entregavam”, complementou.

Segundo e terceiro resgate

Enquanto o Sargento Nicholas atendia o bebê, outro policial foi até a viatura pedir auxílio. “Chamei o Samu, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Saer, pedi ajuda para todo mundo”, lembra Alberto.

Logo chega a segunda criança resgatada, o menino mais velho entre os quatro irmãos, Luiz de 7 anos. Ele foi entregue ao sargento Willyan Bosco e em seguida também a pequena Vitória, de 3 anos. Willyan entrega a menina ao sargento Alberto e os dois começam as manobras para reanimar as crianças, que já estavam desfalecidas.

Sargentos Willyan Bosco e Alberto –
Foto: Júnior Chagas/Portal Litoral Sul

Resgate da quarta criança e do pai

Cada policial realizava o resgate de uma criança, e novamente os profissionais são surpreendidos com a chegada de mais uma. Era Lucas de 5 anos. Sargento Nicholas então pede para que uma das pessoas que estavam ali auxiliasse e cuidasse do bebê, que já estava respirando. O militar então inicia o atendimento na última criança resgatada, que logo volta à vida.

Durante o atendimento das crianças, o motorista do carro também é resgatado. Como todos os policiais estavam ocupados, as pessoas que estavam no local iniciaram manobras cardíacas no homem. “Elas não sabiam reanimar, então orientamos. Foi uma convergência de pessoas na hora e lugar certo”, frisou Nicholas.

Chegada do socorro

“Durou uma eternidade até chegada da viatura”, disse Nicholas. Esse foi o sentimento que os policiais tiveram enquanto esperavam o socorro. Quando o Corpo de Bombeiros chegou, rapidamente levaram as crianças para o Hospital São José, em Criciúma.

A aeronave do Saer/Sarasul chegou em seguida e iniciou o atendimento no pai, que era o caso mais grave. O homem foi reanimado e encaminhado ao hospital pela aeronave ainda com vida. Apesar de todo o esforço para realizar o resgate e salvar todos, o motorista do carro, Felipe Gageiro, de 30 anos, não resistiu e morreu no sábado seguinte, dia 30 de julho, um dia após o acidente.

Leia mais: Morre motorista do carro que caiu em rio com quatro crianças

Estado de saúde das crianças

As quatro crianças foram hospitalizadas após o ocorrido e ficaram cinco dias internadas. Luiz, de 7 anos, foi para o Hospital Infantil Pequeno Anjo (Hipa), em Itajaí, pois não havia leito na região. Já Lucas de 5 anos, Vitória, de 3 anos e Pedro de um ano e sete meses, ficaram no Hospital Materno-Infantil Santa Catarina, de Criciúma.

No início do mês, os três que estavam no Santa Catarina ganharam alta hospitalar e o pequeno que estava em Itajaí foi para casa. “Estamos todos em casa, graças a Deus”, conta a mãe das crianças, Milena Maximiano, de 24 anos.

Ainda de acordo com ela, um exame foi realizado em todos por conta da possibilidade de terem ingerido água contaminada.

 

Luiz está internado no Hospital Infantil Pequeno Anjo (Hipa), em Itajaí
Luiz ficou internado no Hospital Infantil Pequeno Anjo (Hipa), em Itajaí | Foto: Arquivo pessoal/Especial/Portal Litoral Sul
Vitória, Lucas e Pedro, estão internados no Hospital Materno-Infantil Santa Catarina, em Criciúma
Vitória, Lucas e Pedro, estavam internados no Hospital Materno-Infantil Santa Catarina, em Criciúma | Foto: Especial/Portal Litoral Sul

O encontro entre policiais e crianças

Os policiais estavam ansiosos e preocupados por notícias das crianças. No início do mês eles foram até o Hospital Santa Catarina, em Criciúma e tiveram um encontro emocionante com os pequenos. A mãe das crianças os recebeu com muita alegria. Uma emoção que tomou conta dos policiais, que além de profissionais, também são pais.

“Todos nós temos crianças pequenas da mesma idade das que resgatamos. Depois do atendimento a gente desabou. As quatro mortas em nosso colo e depois elas voltarem a vida, foi um milagre”, contou o sargento Willyan.

Encontro entre crianças resgatadas, mãe e policiais que salvaram a vida dos pequenos – Foto: Divulgação/PMRv

Para os sargentos Willyan Bosco, Nicholas Canani e Leandro Alberto da Silva, que contam a história com voz embargada, esse atendimento ficará para sempre marcado na memória. “Nunca mais vai sair da minha cabeça a imagem do Nicholas segurando o bebê. Em 25 anos de polícia, foi a ocorrência da minha vida”, contou emocionado o sargento Alberto.

A ação rápida dos populares e dos policiais salvou a vida das quatro crianças. “Foram heróis”, disse a mãe.

Acompanhe no vídeo parte do relato dos policiais.

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