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Dor de cabeça: os tratamentos bizarros que a medicina antiga considerava como eficazes

O homem luta contra a enxaqueca há 9 mil anos

Dorzinha boba para alguns, tormento insuportável para outros, ela sempre acompanhou o homem. A história da dor de cabeça é antiga e instigante, e hoje vou contar um pouco sobre os mais estranhos tratamentos usados para aliviar a temida dor de cabeça, até a descoberta de medicamentos modernos.

Médicos costumavam utilizar dos mais variados tipos de técnicas bizarras que um dia já foram vistas como potenciais salvadoras de vida. Os tratamentos médicos do passado nem sempre eram eficientes, mas alguns eram especialmente cruéis, selvagens ou bizarros. Vamos conhecê-los!

7 mil a.C.
Pesquisas arqueológicas indicam que a dor de cabeça já existia na Pré-História, quando se pensava que espíritos maus causavam as doenças. Para tentar se livrar da dor, eram feitos furos na cabeça (cirurgia de trepanação) com uma estaca para abrir um espaço para que os espíritos malignos saíssem pelo crânio. Também era visto como forma de tratar enxaquecas, epilepsia e doenças psiquiátricas.

A prática foi usada no período Neolítico, e começou a perder força no início do século 20.

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A Extração da Pedra da Loucura, pintura de Bosch, demonstrando a execução de uma trepanação (c.1488-1516)

1200 a.C.
Felizmente, outros tratamentos surgiram, como o descrito num papiro de 1200 a.C.: os egípcios amarravam na cabeça, com uma faixa de linho branco em que se liam nomes de deuses, um crocodilo de barro com trigo na boca. A dor melhorava, possivelmente pela compressão nas veias dilatadas.

Antes da existência de transfusões e transplantes de órgãos, os médicos costumavam receitar fluídos de cadáveres como medicamento para doentes. Os restos de sangue e de múmias eram considerados fonte de poderes de cura místicos que permitiam aos pacientes se recuperar de enfermidades graves.

Os egípcios esfregavam a gordura do corpo humano nos músculos doloridos e ingeriam pó de múmia para dores de cabeça e pedaços de crânio triturados para enxaquecas.

400 a.C.
Na Grécia, Hipócrates, o pai da medicina, registrou os sintomas da enxaqueca, pensando, pelos vômitos, que a causa eram “vapores” estomacais que atingiam a cabeça. Ele recomendava o uso de folhas de salgueiro, ricas em salicina, que atua na dor e na febre.

O derramamento de sangue era uma técnica usada por médicos na Grécia e Antigo Egito, consistia em deixar os pacientes sangrarem para que doenças como sífilis, dores de cabeça, hemorragias nasais e pneumonia pudessem ser curadas.

Século I
Por volta do ano 80, o médico Areteu de Capadócia classificou diversos tipos de dor, como a cefaléia e a enxaqueca. Mas tratamentos de pouca eficácia ainda eram muito populares, como o hábito de amarrar um chicote ao redor do pescoço descrito pelo escritor romano Plínio, o Velho.

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Crânio sujeito a Trepanação

Séculos IX e X
Outras formas de acabar com a dor foram registradas nos séculos 9 e 10. O médico espanhol Abulcasis indicava a aplicação de ferro quente na cabeça. Já os britânicos usavam pedaços de ninho de andorinha sobre a testa ou ingeriam suco de sabugueiro e (eca!) estrume de cabra.

Séculos XI à XV
Nada disso adiantou. Na Idade Média, alguns europeus acreditavam que a dor atingia aqueles que tinham fios de cabelo usados por aves em ninhos. Para aliviar a dor, aplicavam na cabeça ópio e soluções de vinagre, que abriam os poros para a absorção da droga.

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Século XVII
Mesmo com todo o esforço, era difícil combater a dor sem conhecer suas causas. Só na segunda metade do século 17, o britânico Thomas Willis descobriu que ela tem aspectos hereditários e sofre influência da alimentação e do meio ambiente, além de ser causada pela vasodilatação.

A explicação de Willis não curou ninguém, mas levou à descoberta de substâncias como o ergot, presente no esporão de centeio (cogumelo que se forma no lugar do grão de centeio). Seu uso foi registrado em 1833. A partir dele, surgiria no século 20 a ergotamina, primeiro remédio para enxaqueca.

Outros medicamentos vieram, contra dores em geral. Um deles usava a salicina, velha conhecida de Hipócrates. Ela foi sintetizada em 1859, mas irritava o estômago. O químico alemão Felix Hoffman encontrou a solução no ácido acetilsalicílico em 1897. Nascia a superpopular aspirina.

Séculos XX e XXI
Além da ergotamina e da aspirina, novas drogas mais eficientes foram descobertas, como os triptanos. Eles surgiram entre os anos 80 e 90 e atuam no estreitamento dos vasos sanguíneos. No século 21, a novidade é a pesquisa sobre o uso do botox na prevenção das crises.

Apesar de hoje ser visto pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma substância tóxica potencial causadora de câncer, lesões, problemas de desenvolvimento, doenças cardíacas e morte, o arsênico já foi muito utilizado como medicamento.

Os compostos de arsênio começaram a ser utilizados na agricultura como ingredientes em inseticidas, venenos de ratos, herbicidas e conservantes de madeira, além de pigmentos em tintas, papel de parede e cerâmica.

Mas até o início do século 20, o arsênico era usado para tratar uma série de doenças, como sífilis, dores de cabeça, febres e até doenças do sangue. Bizarro!

E não para por aí,  um dos tratamentos médicos mais esquisitos, era uma técnica de ressuscitação e estimulação da respiração que consistia em… soprar fumaça de tabaco no ânus do paciente através de um tubo. Você não leu errado!

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A ideia era que a fumaça do tabaco aquecia um corpo e fazia com que a respiração de um “quase morto” fosse retomada. A prática foi utilizada pela primeira vez em vítimas de afogamento, mas tornou-se uma forma popular para tratar desde resfriados até dores de cabeça, hérnias, febre tifoide e cólera.

Com o tempo foi observado que nicotina não é uma boa substância e causava mais envenenamento do que qualquer efeito positivo, e a prática foi entrando em declínio, mas mesmo no final do Século XIX há relatos de fazendeiros dinamarqueses aplicando enemas de tabaco em cavalos.

Ninguém consegue ser imune a uma dor de cabeça, e quando começa, não há muito a se fazer, além de se recolher em um quarto escuro e aguardar a dor passar, ou um analgésico. Só não pode aplicar essas práticas malucas,não é mesmo?

Agradeço imensamente pela leitura até aqui, e semana que vem tem mais! Siga-me nas redes sociais: 

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