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Diagnóstico de Eduardo Moreira: MDB vive um quadro de crise aguda

O ex-governador Eduardo Moreira confirmou ter desistido de colocar seu nome para a presidência do MDB catarinense. Ele expressou a vontade de mais uma vez presidir o partido já no ano passado, mas condicionando a um consenso, ou seja, sem disputa entre chapas ou nomes. Entretanto, a partir do próximo sábado estará em viagem de lazer e estudos com sua esposa, Nicole, e ficará dois meses fora do país. Algo desaconselhável para o momento vivido pelo partido. “Sou médico cardiologista. Existem dois tipos de doenças: a crônica, que você pode deixar para tratar na semana seguinte, e a aguda, que exige intervenção imediata”, comparou. Com sua desistência, Moreira aponta consenso em torno do nome do senador Dário Berger na convenção do MDB-SC, inicialmente prevista para maio.

Moreira admitiu que o racha na bancada do partido na Assembleia Legislativa caracteriza crise aguda, diagnóstico que deu já na segunda-feira em reunião com lideranças emedebistas, inclusive o presidente, ex-deputado federal Mauro Mariani. Referindo-se aos companheiros de partido, o ex-governador disse que “eles andaram se mexendo”. O deputado Valdir Cobalchini – que junto com Moacir Sopelsa forma a dissidência na bancada – pediu um encontro e hoje houve uma reunião com o deputado Luiz Fernando Vampiro, líder da bancada (foto).

“O MDB está meio dividido mesmo. Não só na Assembleia. E eu não quero estimular isso. É momento de submergir, acalmar as questões localizadas. Os mais antigos devem se envolver e é o que estou fazendo.” Além de almoçar com o deputado Vampiro, ainda hoje Moreira terá encontro com Casildo Maldner, presidente de honra do MDB estadual.

Por várias vezes presidente do partido no estado, único no qual esteve filiado, Eduardo Moreira não acredita na saída de Cobalchini e Sopelsa para outra agremiação, como vem sendo aventado. Ele acha que erros evitáveis, como falta de diálogo, levaram à situação. “O Cobalchini se achava, entre aspas, credor de uma atenção especial do partido. O Mauro de Nadal se achava, entre aspas, em condições de ser o presidente da Assembleia, assim como o Sopelsa. Pretensões legítimas pelo histórico de cada um. Todos têm méritos. Mas a disputa interna expôs o enfraquecimento do MDB”, concluiu.

Ao perceber essa divisão, o deputado Julio Garcia (PSD) “juntou os cacos do MDB” e procurou o bloco dos sete, com mais votos. “O Julio trouxe os nossos sete, pacificou o próprio partido, que tinha brigas internas até piores, e chegou à presidência da Assembleia. Agora é hora de reorganizar. Acredito na reconciliação dos nossos deputados.”

Para agitar um pouco mais as linhas emedebistas, Mariani está para se licenciar da presidência, sem prazo definido para voltar. Se é que volta. Isso coloca Valdir Cobalchini no comando do partido, já que ele é o primeiro vice-presidente. A pergunta que fica é como ele exercerá o papel de conciliador se tem interesses diretos envolvidos na situação crítica da bancada?

“Tem que tirar esse time de Brasília”

Eduardo Moreira não se limitou a analisar a situação do MDB estadual e fez críticas severas à Executiva nacional do partido. “Tem que tirar esse time de Brasília! Se ficar essa gente comandando o partido nacionalmente, Romero Jucá, Renan Calheiros, essa turma que está lá, vai ser mais um desestímulo para trabalharmos aqui embaixo”, disse, ao lembrar que já houve um movimento neste sentido, a partir do MDB-SC, e que agora está tomando mais corpo. A falta de consenso no Congresso Nacional demonstra isso.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS) disputou internamente com o senador Renan Calheiros (MDB-AL) a indicação do MDB para a presidência do Senado. Entre os 12 votantes, cinco foram com a senadora, demonstrando a divisão. “Se é a Simone a nossa candidata, ela hoje seria a presidente do Senado e do Congresso Nacional. Uma mulher sem mácula, que nos garantiria posição importante. O Renan foi para a disputa, perdeu e deu no que deu”, reclamou.

Outro exemplo foi a disputa pela liderança da bancada do MDB no Senado. O senador catarinense Dário Berger disputou o espaço, mas perdeu para Eduardo Braga (MDB-AM). “Essa turma lá de cima é difícil. Ninguém consegue romper as barreiras. Se a gente continuar sob o mesmo comando nacional, os emedebistas catarinenses têm que tomar uma posição radical, inclusive saindo do MDB. Há essa hipótese”, afirmou o ex-governador. A saída não seria apenas de Eduardo Moreira, mas de um grupo. E provavelmente numeroso.

Já existe um partido de destino? Seria criada uma nova organização partidária?

Estas respostas Moreira ainda não tem. “Absolutamente não existe qualquer conversa neste sentido. Existe apenas o fato de que sermos conduzidos por esse mesmo time lá de Brasília não está certo.” Para ele, a pecha de fisiologismo do MDB nacional se reflete e prejudica o MDB estadual. “Aqui nós não somos assim. Estávamos no governo anterior porque fomos eleitos para isso. No momento em que o governo mudou, continuaram apenas aqueles que têm destaques em suas carreiras públicas, caso do Leandro Lima, do Paulo Eli e do coronel Araújo Gomes”, enumerou citando, respectivamente , os secretários de Estado da Justiça e Cidadania e da Fazenda, além do comandante da Polícia Militar, que estavam em sua gestão e foram mantidos na atual.

O ex-governador acredita que o partido precisa apresentar posições mais firmes e sua expectativa é que a convenção nacional, que acontecerá antes da estadual, traga mudanças efetivas no comando do MDB. “Nosso limite é a convenção nacional. Não havendo mudanças na direção, certamente haverá um movimento de desfiliação do MDB. Esse sentimento não é só do MDB de Santa Catarina. Há um movimento forte, nacional, e que precisa ser liderado pela nossa bancada federal.”

Neste ponto da conversa vieram alguns puxões de orelha. “Esse discurso que o Dário (Berger) fez aqui, de não participar do governo Moisés, tem que ser feito lá em Brasília também. Mas lá eles não fazem! O Osmar Terra é ministro (da Cidadania, MDB-RS) e o próprio Valdir Colatto está no governo (Serviço Florestal, MDB-SC). Um discurso lá, outro aqui… nós perdemos a eleição? Vamos para a oposição! Vamos reunir e unificar a bancada, analisar as propostas, votar de acordo com o que for importante, com posições firmes. E aqui em Santa Catarina deve ser da mesma forma.”

Em um tom saudosista, Eduardo Moreira destacou que o MDB cresceu fazendo oposição à Arena, se colocando como opção para a população no período de bipartidarismo imposto pela ditadura civil-militar. Era, então, um partido com bandeiras – redemocratização, liberdade de imprensa, liberdade de reunião, Assembleia Constituinte. “Nós defendíamos causas! Que bandeiras temos hoje? Temos que nos reinventar enquanto representação partidária e isso depende do comando nacional que, infelizmente, está nas mãos desses caras. Os mesmos que em 2010 me expulsaram do partido.”

Moreira chegou a ser afastado do MDB-SC. A motivação foi a coligação com o DEM na primeira eleição de Raimundo Colombo. Ele só voltou depois de decisão da Justiça. “Quem trabalhou para a minha expulsão naquele momento foram o Moreira Franco, com voto do Michel Temer, do Renan Calheiros, do Eduardo Cunha… os mesmos que estão maculando a história do MDB.”

 

Por Andréa Leonora- CNR-SC/SCPortais/ADI-SC

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