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Da casca de arroz, a energia que move o crescimento

Da casca de arroz, a Fumacense Alimentos produz a energia que sustenta toda a unidade de Morro da Fumaça e pretende, até o final do ano, vender essa energia; entenda

Você já parou para pensar no processo até o arroz chegar na sua mesa? Colhido nos campos irrigados do Sul catarinense, o cereal é levado às indústrias onde é separado da casca. Sendo que o arroz integral, o branco e parborizado passam por diferentes processos até serem embalados e irem aos mercados.
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Porém, diante disso, o que é feito com a casca do arroz? Se descartada de maneira irregular ela pode ‘fermentar’ e criar o gás metano que é super prejudicial para a camada de ozônio. Mas o que fazer? Produzir energia!

Foi assim que a Fumacense Alimentos conseguiu dar a destinação correta ao rejeito e ao mesmo tempo transformar a casca de arroz nas turbinas que geram o desenvolvimento da empresa.

“Começamos esse trabalho em 2008. Começou porque estava sobrando esse rejeito da casca de arroz. Tinha alguns produtores que vinham buscar para colocar nos aviários, mas não supria toda a demanda. Sobrava casca de arroz. Aí sabíamos que se queimasse, criaria o vapor e poderia ser produzida energia. Aí surgiu a ideia da termelétrica”, conta o coordenador da Central Termelétrica da Fumacense Alimentos, Lucas Tezza.

Atualmente cerca de 90 toneladas de casca de arroz são utilzadas diariamente na produção de energia – Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

Após cerca de 14 anos do início do projeto, atualmente, a Usina Termelétrica abastece toda a unidade de Morro da Fumaça. Toda a casca de arroz – proveniente dos 160 mil fardos do cereal produzidos por mês no local – é utilizado na geração de energia. Para este ano, a empresa tem projetos ousados.

“A nossa ideia para o final de 2022, após a troca da turbina e do gerador, é vender a energia excedente. Pois vai gerar mais energia e vai ter uma sobra, queremos comercializar essa energia”, destaca Tezza. “Existem duas formas, uma tu joga na rede e compensa na conta de luz. A outra é entrar no mercado livre de energia que é o que vamos fazer. Aí tu acha um cliente, uma indústria, por exemplo, e vende essa energia”, explica.

O projeto para o final deste ano e início de 2023 é começar a vender a energia excedente produzida na termelétrica – Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

 

Sustentabilidade ambiental e redução de custos

Após a ideia, a empresa foi em busca de exemplos. Através de um dos fornecedores de caldeiras descobriu que havia um projeto parecido no Rio Grande do Sul. Então, foi feita uma visita no local.

“Em Santa Catarina não tinha um projeto desse. Então fomos pioneiros no Estado”, conta Tezza.

O principal objetivo da termelétrica era de sustentabilidade ambiental, dando destinação correta para a casca de arroz. Porém com as ampliações em 2014, a termelétrica começou a abastecer toda a fábrica, gerando uma redução de custos para a empresa.

Em 2022 a usina termelétrica transformou mais de 31 mil toneladas da casca de arroz em energia elétrica, gerando 6.720Mw/h -Foto: Lucas Colombo/Portal Litoral Sul

“Primeiros anos ela não se tornou tão viável. A questão era mais a destinação correta para o rejeito, conseguir dar destinação e gerar energia. O que estava ótimo para a empesa, com o passar do anos e o aumento da produção, a empresa começou a ter um ganho financeiro, também”, comenta Tezza.

Atualmente são utilizados cerca de 90 toneladas por dia de casca de arroz para a produção de energia e a termelétrica tem capacidade para gerar 1.2000kw. No ano passado a usina termelétrica transformou mais de 31 mil toneladas da casca do grão em energia elétrica, gerando 6.720Mw/h.

Tezza explica o processo de produção de energia:

As cinzas da usina e a produção de tijolos

Com a queima da casca de arroz para a produção de energia, um novo rejeito surgiu: as cinzas da casca de arroz. Mas o que fazer? A Fumacense alimentos, então, iniciou a busca por reaproveitar esse material e dar uma destinação correta.

“Até amostras para o Chile nós enviamos”, conta Tezza.

Até que a resposta veio do ‘lado de casa’. Conhecida pelas olarias a região de Morro da Fumaça e Treze de Maio concentra a produção de tijolos e telhas. Assim, juntamente, com o Sindicato dos Ceramistas de Morro da Fumaça (Sindicer) se deu início a uma pesquisa. O objetivo era chegar a uma composição que as cinzas pudessem ser utilizadas na produção de tijolos.

Cerca de 15% das cinzas da casca de arroz são utilizadas na mistura da argila  – Foto: Divulgação/Fumacense

 

Foram três anos de pesquisa até que se chegou a uma fórmula. Atualmente três cerâmicas utilizam as cinzas, sendo uma de grande porte: a Cerâmica Guarezi de Treze de Maio. Com uma produção de 3.000 toneladas de tijolo por mês, as cinzas foram uma solução que trouxe economia e sustentabilidade à indústria.

“Hoje utilizamos 15% de cinzas na composição da nossa argila. Isso equivale a 350 a 400m³ por mês de argila virgem que iria ser retirada da terra”, destaca o sócio-proprietário da cerâmica, Junior Guarezi. “A argila base que utilizamos tem uma plasticidade muito alta, então daí a necessidade de utilizarmos resíduos, argilas menos plásticas e, agora, a cinza na composição”, explica.

Segundo ele, além do ganho ambiental, a utilização das cinzas trouxe outros ganhos. “Tivemos uma redução de custo, tivemos uma diminuição de cerca de três horas na secagem do tijolo e, além disso, ele ficou mais leve possibilitando que pudéssemos transportar mais. Tudo isso sem perder a qualidade”, ressalta.

Utilização da cinza da casca de arroz deixou o tijolo mais leve e resultou na dimunição de três horas na secagem – Foto: Divulgação/Fumacense

 

Expectativa de grande safra de arroz

Com a estimativa de produção de 1,221 milhão de toneladas, a colheita do arroz inicia nesta sexta-feira, dia 11, em Santa Catarina. O Estado é o segundo maior produtor de arroz irrigado em todo o Brasil e líder em produtividade. A estimativa é da analista de socioeconomia da Epagri/Cepa, Glaucia de Almeida Padrão.

Segundo ela, a área cultivada em SC permanece praticamente igual, com redução de 4% em Tubarão e variação inferior a 1% nas demais regiões. A média de produtividade no Estado ficará em de 8.276 kg/ha na safra 2021/22, mas a analista informa que regiões como Rio do Sul e Ituporanga devem colher acima de 9 t/ha. Blumenau e a região de Araranguá estão com produtividade acima de 8t/ha.

“São produtividades realmente muito boas”, avalia Glaucia. “O que pode atrapalhar é se o excesso de calor se der de forma mais duradoura, mas de qualquer forma, ainda permanece uma produtividade elevada”, relata ela. A colheita do arroz em Santa Catarina inicia em fevereiro e segue até julho.

Com a perspectiva de uma boa colheita, a Epagri/Cepa estima uma queda nos preços pagos ao produtor nos próximos meses, o que preocupa o setor, já que os custos de produção permanecem elevados.

 

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