Durante a pandemia, comerciante se transforma em ‘rainha das lives’
Durante os dois anos de pandemia da Covid-19, comerciantes e indústrias tiveram que se reinventar, como foi o caso de Agda Feltrin, a Gabi, tradicional lojista de Criciúma
Março de 2020 não sai da memória de Agda Feltrin, a Gabi. Na época, logo após receber um carregamento na Gabi Decorações, com produtos para Páscoa, o coronavírus chegou em Santa Catarina e com ele um lockdown que fechou todas as lojas. Diante desse cenário, veio a pergunta: “O que fazer?” e a solução estava na palma da mão.
“É um produto sazonal, se não vender na época, tem que encaixotar e deixar para o ano seguinte, mas cada ano tem uma tendência. Começamos a estudar, fazer cursos, nos aprimorar e foi aí que surgiu a live. Porque até então não sabíamos o que era”, conta.
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Com um celular, um tripé e o desejo de vender e chegar até os clientes, Gabi e a filha Ariela Feltrin Vitto apertaram o play e iniciaram as transmissões ao vivo no Instagram.
“Viemos para a loja eu e minha filha Ariela, a gente não podia abrir, mas todo mundo estava em casa. Então foi uma explosão da rede social, um divisor de águas. Nas primeiras lives eu só chorava, porque era algo muito novo, só que o carinho e a força do outro lado, a energia de quem assistia, me impulsionou”, destaca.
Há 30 anos com a Gabi Decorações, a tradicional comerciante não imaginava o mundo que poderia se abrir através da internet. “Não ligava muito para o digital, tínhamos alguns seguidores, postava uma coisa ou outra. Despertou, também, porque comecei a fazer cursos no digital, cursos sobre personal mesa posta, de comportamento, de instagram”, lembra ela.
Inspirada nas lives de Luiza Helena Trajano, dona da Magazine Luiza e de Antônio Diniz, do Grupo Votorantim, ela iniciou nesse caminho. Logo nos primeiros dias já iniciaram as vendas, inclusive, para clientes de outros estados. Gabi conta que diversos ‘perrengues’ ocorreram, mas para ela isso é o diferencial entre uma live nas redes sociais e na TV.
“Tivemos muitos clientes novos de outros estados, aí tinha que despachar pela transportadora, e assim foi. Clientes que compravam, que eram daqui da nossa região, não podiam vir até a loja, mas íamos até elas. Eu e minha filha nos ‘encapotávamos’ com máscara, luva e bolsa descartável para levar os produtos. O PIX estava iniciando, então, levávamos a maquininha de cartão, muitas colocavam o dinheiro contadinho dentro de um saquinho plástico ou papel para pagar o produto”, lembra ela.
Da primeira, veio a segunda, a terceira e as lives agora fazem parte da rotina de Gabi. Foi assim que ela se tornou a ‘Rainha das Lives’. Além disso, surgiu a oportunidade de ajudar outros negócios.
“Além de ser uma saída para o nosso negócio, pudemos ajudar outras pessoas que estavam se reinventando. Mostramos em nossa live produtos como chocolates, bolachas, para degustação e sorteios. Fomos um pegando na mão do outro para todo mundo conquistar um lugar melhor, ter satisfação e resultado melhor nos negócios”, ressalta Gabi.
Desde 2020 realizando lives, hoje Gabi tem um público fiel: as ‘gabizetes’. Muitas delas ficam esperando para poder comprar os produtos, mas muito mais que isso, receber conteúdo sobre decoração, etiqueta, entre outros.
“Já tivemos clientes de São Paulo que vieram de Mogi das Cruzes visitar a região e conhecer a nossa loja, de Florianópolis, também. Temos clientes de fora do país. É muito bom esse carinho”, destaca Gabi.
Agora, as lives são realizadas duas vezes por semana, na quarta-feira, a partir das 17h ocorre o ‘Café com a Gabi’. Já nas sextas a partir das 19h ocorre outra live. “Nossas ‘gabizetes’ estão pedindo para mudar para segunda, vamos fazer uma experiência”, conta.
Muito mais que uma oportunidade de compras, Gabi destaca que passa muito conhecimento em cada live.
“Fui dando dicas. Aí agora em cada live eu apresento e ensino coisas diferentes. Isso vem dando certo, agregando na vida delas. Hoje recebo feedebacks por isso, por não fazer apenas uma live de venda, mas oferecer conhecimento. Inclusive essas ações renderam amizades que perduram até hoje. Tanto é que temos clientes e amigas até mesmo em Londres, Boston e por aí vai”, finaliza.
Para a produção de cada live, cerca de quatro pessoas se envolvem. Um pedestal para iluminação e um tripé para o celular são utilizados e, claro, todo o ambiente é pensado. Bem como os produtos, Gabi e a filha Ariela, buscam peças exclusivas para a live.
“Vamos nas importadoras em busca de peças com preço em conta, são produtos mais voltados para a casa”, explica. “Quem compra e é da região, fazemos questão que venha até a loja buscar, até para conhecer e ter outras oportunidades de negócio, já que na live não conseguimos mostrar nem 5% da loja”, finaliza.
“Nosso comerciante é diferenciado”
Assim como Gabi, diversos comerciantes tiveram que se reinventar durante a pandemia da Covid-19. Principalmente, despertar para as vendas online. “Nosso comerciante é diferenciado. Entregamos muito valor para o consumidor. Várias lojas, além da Gabi, tiveram um tremendo sucesso nas redes sociais, nas vendas online. Criciúma vende para todo o Brasil”, ressalta o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Criciúma, Tiago Marangoni.
Durante a pandemia, quando o comércio retornou às atividades, o presidente da CDL destaca o trabalho dos lojistas no cumprimento das medidas sanitárias como a utilização de máscara, álcool em gel e o distanciamento. Atuando como uma espécie de ‘educador’ para a população. “Provamos que o comércio não é um vetor de contaminação”, comenta.
Com o avanço da vacinação e a queda no número de casos de Covid-19, no último sábado, dia 12, o Governo do Estado retirou a obrigatoriedade do uso de máscara. Um importante passo, tendo em vista o cenário vivido nesses dois anos de pandemia.
“Vemos um número interessante de pessoas começando a sair de casa, curtir um pouco mais esse terceiro lugar de encontro que é o comércio, o mercado, a praça”, afirma o presidente da CDL.
A pandemia e a reinvenção da indústria
Com a chegada da pandemia do coronavírus, a indústria também teve que se reinventar. De acordo com o presidente da Associação Empresarial de Criciúma (ACIC), Valcir Zanette, muitos foram os desafios enfrentados pelo setor nesses dois anos.
“Tivemos escassez de suprimentos, pela corrida às compras, com o consequente aumento de preços. Instituições educacionais, setores públicos e muitas empresas, total ou parcialmente, fechadas. Trabalhos, quando possível, realizados em home office. A indústria, como todos os segmentos, inclusive a população, teve que se reinventar”, destaca.
Em meio às dificuldades do setor, nesses dois anos, a busca de alternativas trouxe novas tecnologias e formas de organização industrial.
“Foram dois anos com muitas dificuldades, prejuízos de toda ordem, que demandaram muita criatividade; busca de novas alternativas para os insumos; aceleração do uso de outras tecnologias; readequação da produção; aplicação de inovações; conscientização da necessidade de união entre os setores produtivos; bem como com a força de trabalho. Todos com o mesmo objetivo de saída do grande problema, e rapidamente ter a recuperação e consequentemente, o crescimento de todos”, lembra Zanette.
Sempre trabalhando a prevenção e a aplicação das medidas sanitárias, o setor industrial visa um 2022 de bons resultados.
“Unidos em relação à segurança da saúde, seguindo as orientações dos especialistas e responsáveis pela área, todos estão trabalhando com confiança em busca na retomada com toda força. Mesmo sendo um ano de eleição no Brasil, com algumas incertezas, assim como o conflito entre Rússia e Ucrânia, os quais estão trazendo prejuízos ao Brasil e mundo, estamos confiantes quanto ao ano de 2022 e seguintes, levando-se em consideração o poder de reação, a força, a capacidade do empresariado e do povo brasileiro”, finaliza o presidente da Acic.