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Covid-19: o milagre da UTI 3

Conheça a história de Charles Durante, de 36 anos. Depois de ficar quase um mês na UTI ele venceu a Covid-19

Charles Durante, 36 anos, passou 73 dias internado no Hospital São José, em Criciúma, devido complicações da Covid-19. Na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), foram mais de 50 dias. Durante o período de internação, ele contraiu algumas doenças, que antes nunca teve, como pneumonia, fibrose, diabetes e anemia profunda. Além disso, sofreu duas paradas cardíacas e rim e intestinos estiverem muito próximos de pararem. Apesar de todas as complicações, venceu a doença e ganhou o apelido de “O Milagre da UTI 3”.

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No dia 18 de novembro de 2020, ele começou a sentir sintomas gripais e procurou o Centro de Triagem da Covid-19 de Criciúma. Após dois dias, o caso piorou e ele procurou atendimento no Hospital São José, em Criciúma. A partir desse momento a vida de Charles mudaria drasticamente. Ele foi internado, não viu mais a família e em seguida foi encaminhado para a UTI.

“O médico chegou com o exame e disse que eu não poderia ir embora. Que se eu fosse, talvez não teria mais a oportunidade de voltar. Nesse momento me apavorei, estava com 70% do pulmão tomado pela doença”, lembra o sobrevivente.

O paciente logo foi internado e em poucos dias, teve seu estado de saúde agravado. “Não lembro de nada. Uma enfermeira me contou que abri o olho e depois o monitor de sinais vitais apitou. Naquele momento entrei em parada cardíaca. Levei vários choques com o desfibrilador e voltei. Tenho as cicatrizes no peito até hoje”, conta.

Depois das paradas cardíacas que duraram cerca de três minutos cada, os médicos chegaram a duvidar que ele sairia dessa, ou que ficasse sem sequelas. “Em vários momentos não acreditamos que ele conseguisse sair dessa. Ele teve diversas complicações, chegamos até a levantar a possibilidade, devido a parada cardíaca, que ele ficasse com alguma sequela neurológica, isquemia, e talvez até que tivesse entrado em um processo de morte cerebral. Mas quando desligamos as sedações ele já apresentava sinais de recuperação”, explica o médico Marcelo Brum Vinhas, que acompanhou o paciente no período de internação.

Milagre

Os médicos já tinham chamado a esposa dele e informado que somente um milagre para tirá-lo daquela condição. Mas a mulher, Raquel Cardoso, muito confiante em Deus, disse que o milagre iria acontecer.

Após 52 dias internado na UTI, Charles lembra emocionado do dia em que acordou, no final de dezembro de 2020. Ele conta que uma enfermeira relatou que os médicos indicaram que os antibióticos fossem diminuídos pois não tinha mais o que ser feito para manter o paciente em vida.

“Acabei criando uma amizade com os funcionários do hospital. Quando a médica pediu para a enfermeira diminuir os medicamentos, a profissional chegou no quarto, bateu no meu ombro e disse: ‘Acorda!’. Nisso eu abri os olhos”, lembra emocionado.

Charles posa para foto com um cartaz com os dizeres “Eu vencei o Covid”. | Foto: Arquivo pessoal

Primeiros passos

A partir desse momento, Charles começou a melhorar dia após dia, uma surpresa para os médicos. Em 10 de janeiro saiu da UTI e foi para o quarto, mas ainda estava muito debilitado. “De repente ele começou a reagir, foi se recuperando, superando as expectativas de todo mundo. Levou mais uns dias para melhorar, pois ficou muito fraco na UTI”, conta o médico.

Charles ainda não conseguia fazer nada sozinho, caminhar ou ir ao banheiro, tudo dependia da ajuda de alguém. Ele perdeu mais de 35 quilos durante o período de internação e não conseguia movimentar os braços e pernas, começou a fazer fisioterapia três vezes por dia. Ele lembra que o pior momento foi quando ele ficou em pé novamente pela primeira vez.

“Quando olhei para baixo, parecia que estava em cima do prédio mais alto de Criciúma. Deu um desequilíbrio, pânico de altura e crise de ansiedade. A fisioterapeuta me acalmou e fui melhorando. Depois comecei a dar os primeiros passos”, relata.

A melhora de Charles chamou a atenção dos médicos e enfermeiros que acompanharam o período de internação. “Surpreendeu, não esperávamos essa melhora rápida pois ele teve muitas complicações na UTI. O que mais marcou foi a saída dele sem sequelas neurológicas e com a força que ele tinha. Isso foi bem legal”, lembra o médico.

Hoje ele carrega as cicatrizes que ficaram pelo corpo, devido às escaras. Charles ficou com marcas no rosto e joelhos, além da cicatriz da traqueostomia.

Charles mostrando a cicatriz da escara | Foto: Gregori Flauzino/Portal Litoral Sul
Charles mostrando a cicatriz da traqueostomia | Foto: Gregori Flauzino/Portal Litoral Sul

No Hospital São José, em Criciúma, Charles ficou internado na companhia de Alexandre Rossa, de 33 anos, natural de Criciúma. Xande, como era conhecido, ficou 42 dias na UTI e ganhou alta hospitalar há cerca de um ano. Devido a uma parada cardíaca, ficou com sequelas neurológicas. Fez tratamento médico em uma clínica de reabilitação particular, mas na manhã desta segunda-feira, dia 28, não resistiu e morreu

De volta pra casa

Após 21 dias de saída da UTI e fisioterapia no quarto, Charles recebeu alta hospitalar. Esse dia foi marcante para ele, pois não esperava pela saída do hospital. “O médico chegou no quarto e mandou eu calçar o tênis. Coloquei no pé e ele saiu andando comigo pelo hospital, caminhamos uns 50 metros. Depois disso ele disse: “Pega tuas coisas, você vai pra casa. Quando ouvi isso, não consegui conter a emoção”, lembra.

Dia 31 de janeiro foi o grande dia. Amigos e familiares esperavam por Charles na porta do hospital. Quando desceu a rampa, levado em uma cadeira de rodas, não conseguiu conter as lágrimas. Amigos e familiares começaram a cantar quando viram ele chegando. “O momento foi emocionante. eu só conseguia chorar e agradecer”, diz.

Após a saída do hospital, continuou o tratamento em casa. Daí em diante, ele lembra que melhorava dia após dia. Uma das coisas que ele mais sentiu falta em todo esse período de internação foi tocar guitarra. Charles faz parte da banda da igreja que frequenta com a esposa. Quando chegou em casa, foi uma das primeiras coisas que fez.

Passou pelo Centro de Reabilitação Cardiopulmonar Pós-Covid-19, em Criciúma, onde contou com a ajuda dos profissionais para a recuperação. Hoje ele vive uma vida normal, sem sequelas. Voltou ao trabalho e realiza todas as atividades de casa.

Após o período de internação e a luta para sobreviver, Charles conta a história com alegria por ter sobrevivido, mas lembra emocionado dos momentos que passou. Para ele, o que ficou da Covid-19 foram as cicatrizes, lembranças e o aprendizado de valorizar cada momento da vida. 

Acompanhe abaixo o vídeo de Charles:

Reportagem: Edson Padoin

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