A origem da expressão popular “pôr a mão no fogo” deu-se na Idade Média, durante o período da Inquisição Medieval, uma forma de tortura medieval – ou não propriamente uma tortura, em sua intenção declarada, mas uma prova a que se submetiam os réus, embora o resultado terminasse sendo o mesmo.
A Inquisição era uma forma da Igreja Católica Apostólica Romana manter a população sob controle, através do medo. Adotando a velha prática romana, a Igreja Cristã adotou a queima das mãos com óleo ou cera quente.
Esta era uma das formas de tortura para suprimir a heresia a quem alegava inocência, e consistia em fazer o acusado amarrar uma espécie de tocha de ferro em sua mão e caminhar com ela na mão por alguns metros – Envolvia-se a mão com um tecido encharcado numa cera inflamável -, causando o derretimento da cera e o aquecimento e inflamação do tecido na pele do réu.
Três dias após a tortura, a mão do réu era verificada por juízes e testemunhas que presenciavam o ato irracional à procura de alguma lesão. Caso alguma lesão fosse encontrada, a Inquisição determinava que o acusado não teve proteção divina e estava provada a culpabilidade e consequentemente era imediata a punição pela forca.
Se a mão estivesse ilesa, sem sinal de queimadura, era evidente e provada a inocência, com isso subentendia-se que o acusado confiou cegamente numa proteção divina e saiu ileso, através de sua fé.
O maior requinte de crueldade dessa prática medieval – uma entre tantas numa época especialmente imaginosa na indução de sofrimentos atrozes – era, claro, o fato de que todos os que a ela se submetiam saíam queimados.
No Império Bizantino, a queima dos acusados foi introduzida como punição para os zoroastrianos por causa da crença errônea de que eles adoravam o fogo. O imperador cristão Justiniano ordenou a morte pelo fogo. Além disso, ele confiscou de todos os bens pelo Estado como punição por heresia contra a fé cristã em seu império.
Em 1184, o Sínodo Católico Romano de Verona confirmou esta forma de punição, legislando que a queima seria a punição oficial por heresia, já que a política da Igreja era contra o derramamento de sangue. Também, era comum naquela época acreditar que o condenado não teria corpo para ressuscitar na vida após a morte, caso ele morresse queimado.
As autoridades civis queimaram pessoas consideradas hereges durante a Inquisição medieval. O método de queimada também foi usado pelos protestantes durante a caça às bruxas na Europa.
Entre os indivíduos mais conhecidos a serem executados no fogo estavam Jacques de Molay (1314), Jan Hus (1415), Joana d’Arc (1431), William Tyndale (1536), Michael Servetus (1553), Giordano Bruno (1600). Além dos mártires anglicanos Hugh Latimer e Nicholas Ridley (ambos em 1555) e Thomas Cranmer (1556) que também foram queimados na fogueira.
Houve um caso famoso de uma senhora portuguesa chamada Marina, “esposa de Estêvão Gontines”, que em 1324, acusada de adultério, teria conseguido agarrar o ferro em brasa sem nada sofrer. Assim corria a lenda, que no século XIX inspirou o romance “Balio de Leça”, do escritor português Arnaldo Gama.
Desse modo a associação entre a inocência e a blindagem contra queimaduras, foi preciso apenas ampliar um pouco o sentido da expressão. A ausência de culpa própria se estendeu à ausência de culpa alheia, e “botar a mão no fogo” por alguém passou a ser uma forma de protestar confiança cega na inocência ou nas boas intenções de tal pessoa.
Daí a expressão: “Pôr a mão no fogo”, ou seja, confiar cegamente em alguém (ou alguma coisa), sem preocupações ou receios em ser ludibriado. Uma expressão que é reproduzida até os dias atuais e poucos sabem que ela se originou como um instrumento bizarro de tortura.
Gostou de saber a origem dessa expressão? Obrigada pela leitura até aqui, espero que tenha gostado, semana que vem tem mais! Siga-me nas redes sociais:
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