Na última semana, a SCGÁS, companhia de gás de Santa Catarina anunciou que o preço do gás natural caiu no Estado. A informação foi positiva, principalmente, para a indústria catarinense, que está vivendo um momento de pressão após perder competitividade por conta da sequência de aumentos entre os anos de 2021 e 2022.
O aumento da tarifa de gás significou a elevação do custo do produto catarinense no mercado, deixando-o em desvantagem em relação aos outros estados e tornando-o menos atrativo para receber investimentos.
Quem está responsável por reverter este quadro é o novo presidente da Companhia,
Otmar Müller, que recebeu a missão do governador Jorginho Mello (PL) e já está traçando suas estratégias para ampliar o fornecimento de gás natural para todo o Estado.
A Pelo Estado conversou com Otmar para entender os projetos, planos de investimento e o atual cenário do gás natural em Santa Catarina.
Pelo Estado – O senhor assumiu a presidência da SCGÁs há pouco tempo. Quais são as principais demandas já identificadas neste período?
Otmar Muller – A primeira delas é a necessidade de recuperação da competitividade da indústria de Santa Catarina perante o mercado nacional. Outra demanda mais específica envolve o sul do Estado, que é a região que consome o maior volume de gás em função da concentração da indústria de cerâmica. Ali, já se havia passado do limite da capacidade técnica do gasoduto. Essa impossibilidade de aumentar o suprimento fez, inclusive, com que Santa Catarina perdesse alguns investimentos para outros estados. Mas, para este problema, já temos uma definição, que será a instalação de uma nova saída de gás em Siderópolis, que deve ser entregue até 2025. Também temos a necessidade de sair do litoral e expandir para o interior do Estado.
PE – Na sua cerimônia de posse, o governador Jorginho enfatizou o pedido para levar o gás Natural ao maior número de cidades catarinenses. Quais serão os maiores desafios para atender a este pedido?
OM – O grande desafio é conseguir equilibrar o custo do investimento com a competitividade. Existem hoje no Estado indústrias que estão queimando matéria prima para atender a esta necessidade de calor, principalmente do setor madeireiro, quando poderiam estar utilizando o gás natural para gerar a energia necessária. Porém, é preciso que o gás chegue lá a um preço competitivo, porque se o valor for muito elevado, vai continuar compensando para eles a queima da matéria. E os investimentos para a construção de gasodutos são caros. Felizmente, estamos com um plano de negócios bem traçado até 2027, com investimento de R$ 773 milhões que irá instalar mais de 583km de rede e fazer com que o gás chegue ao total de 81 cidades do Estado. Isto sem mencionar a viabilização da chegada de novas indústrias, a utilização do gás natural em mais pontos comerciais, residências e postos de combustíveis.
PE – A região Sul é um dos focos da SCGÁS, por ser uma área economicamente forte para o Estado. Quais são as estratégias desenhadas para ampliar o fornecimento de gás natural na região?
OM – A nossa intenção é além de expandir, aprimorar a rede da SCGás naquela região que, até então, estava contida por não haver gás suficiente. Mas com a chegada de uma nova saída, a de Siderópolis, permite que outros municípios tenham acesso ao nosso produto. Também vamos realizar a interligação dos dois pontos de saída já existentes, que ficam em Nova Veneza e Urussanga, com este terceiro que será instalado em Siderópolis. Interligar estas três redes vai criar um equilíbrio regional, não permitindo que uma fique sobrecarregada enquanto outra está com sobra. Quando há esta interligação, podemos também realizar ajustes na rede sem prejudicar o abastecimento de todos os clientes, por exemplo. Com a instalação deste novo ponto, previsto para 2025, vamos poder atender outros segmentos, um dos principais é o gás veicular, que existe um grande potencial de veículos de cargas que podem usar o gás natural, reduzindo custos de logística.
PE – E há uma previsão de crescimento do fornecimento de gás no Estado para este ano?
OM – Este ano teremos uma demanda inferior ao do ano passado. Os setores que abastecem a construção civil, que é o nosso carro-chefe, está com demanda reprimida, então, teremos um decréscimo no número de gás consumido no Estado.
PE – Quais são os projetos para ampliação do fornecimento de gás natural no Estado que estão em andamento hoje?
OM – Já no ano que vem vamos entregar um duto de abastecimento para Lages. Hoje, é atendida com rede local ou isolada, abastecida por caminhões que injetam o Gás Natural na tubulação. Tal rede é utilizada até a chegada da rede convencional, ou seja, com tubulação enterrada. Também estamos com projeto em andamento no Planalto Norte, que pretende criar uma rede isolada, inicialmente abastecida por caminhões também. Temos, ainda, um terminal de gás liquefeito que está praticamente pronto, mas em função da crise internacional, o gás liquefeito tornou-se muito caro e deixamos este terminal de São Francisco em espera. Mas quando estiver em funcionamento será um ponto estratégico, já que o transporte deste tipo de gás é extremamente mais barato que o do gás natural. Só precisamos encontrar no mercado internacional valores que permitam que possamos entrar em Santa Catarina com o gás liquefeito.
PE – É possível fazer um balanço destas ações e uma projeção para os próximos anos?
OM – Sim, estes dias nós anunciamos a renovação de contrato com a Petrobrás e mais dois supridores, vigência a partir de 2024 e 2026, que apresentam um índice de indexação menor do petróleo que os atuais. Como são contratos de longo prazo, permitiu que conseguíssemos preços mais competitivos. É certo que a partir de janeiro de 2024 teremos uma sequência de reduções no valor do gás. Isto, principalmente para o gás veicular, trará a possibilidade de aumento do consumo.
PE – O aumento do fornecimento de Gás Natural no Estado aumentará a competitividade de Santa Catarina frente aos outros estados. Consegues explicar melhor quais os impactos diretos na economia do Estado?
OM – Com o aumento do poder de competitividade de Santa Catarina será viável manter as indústrias que temos aqui e atrair novos investidores. Isto também possibilitará o aumento do consumo de gás natural para o transporte de carga, que faz girar a economia do estado. Podendo reduzir o valor do transporte, consequentemente o produto chega ao destino com um preço menor e esta pode ser uma premissa para o aumento da demanda.