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CÉLIO BOLAN: O que é Visão Zero. E depois vem o 1

Visão Zero é uma forma de entender e desenvolver um sistema seguro de mobilidade. O sistema é baseado na premissa que nenhuma morte prematura é aceitável, compreendendo que a vida humana é a principal prioridade, sobrepondo-se à eficiência da mobilidade e quaisquer outros objetivos dos sistemas viários de transporte.

Trinta e seis pessoas morreram em acidentes de trânsito em Washington, Estados Unidos, no ano passado, um aumento de 20% em relação ao ano anterior. Oito delas, seis andando ou pedalando, já foram mortas este ano, levando a uma grande manifestação publica. Os moradores estão inconformados porque a cidade não está conseguindo conter as mortes no trânsito, apesar do prefeito Muriel Bowser ter se comprometido a zerá-las até 2024.

É uma situação comum, embora mais de 40 cidades nos EUA e muitas outras em todo mundo tenham se comprometido com a Visão Zero, um movimento global para acabar com mortes graves no trânsito a partir de uma abordagem sistêmica, muitas estão lutando para transformar essa visão em realidade.

Os próprios cidadãos podem buscar a segurança no trânsito em muitos níveis – nas escolas, locais de trabalho, ruas e comunidades. Mas são os líderes eleitos e os que estarão em Janeiro de 2021 nos 5570 municípios (belo número de discussão a posteriores) do Brasil que controlam orçamentos e prioridades e que realmente tem a responsabilidade de catalisar melhorias duradouras que salvarão a vidas pessoas.

Faz sentido perguntar: o que significa a liderança política em segurança viária? Uma meta de zerar as mortes prepara a cidade para uma mudança de mentalidade, mas os gestores também precisam metas ambiciosas e realistas, permitindo que o progresso seja monitorado e avaliado e recebendo as adaptações. Ou será necessário apenas apresentar propostas em época de campanha como sendo a moda vez?

Como ciclista que não sou, quero a minha parte nas ruas cedendo a outrem. Londres é amplamente reconhecida como líder em adotar uma abordagem sistêmica para a segurança viária. Depois de reduzir as mortes no trânsito em 45% na última década, melhorando os projetos de rua e reduzindo os limites de velocidade, o prefeito Mulçumano Sadiq Khan adotou formalmente o conceito de visão zero em 2018. O compromisso veio com um plano de ação para eliminar mortes e lesões graves até 2041, incluindo metas intermediarias para reduzir mortes e lesões graves em 65% até 2022, em comparação com 2009 e 70% abaixo dos níveis de 2014 até 2030. Em um item cristalizou como a velocidade dos ônibus em 30 Km/h.

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À medida que mais pessoas percebem que as mortes no trânsito são uma das principais causas de mortes no mundo, muitos fundos e redes de segurança viária multinacional e filantrópico surgem para ajudar, no entanto os gestores das cidades precisam apoiar seus compromissos de reduzir as mortes. Além do compromisso ético de salvar vidas, esse investimento é econômico, ruas perigosas geram custos em termos de vidas perdidas e produtividade, assim como impactos negativos para a economia.

Uma pesquisa do International Road Assessment Program mostrou que só seriam necessários de 1% a 3% a mais do que é gasto na construção de ruas para aumentar a segurança, outros estudos também mostram benefícios de transformar rodovias urbanas caras em ruas bem projetadas, com transporte público e infraestrutura para pedestres e ciclistas.

As cidades que emergiram como líderes em segurança viária tomaram decisões cruciais, de priorizar a segurança, como instalar radares, reduzir os limites de velocidade e redistribuir o espaço das ruas. Essas decisões muitas vezes enfrentam resistência inicial, mas a medida que vidas são salvas e surgem outros benefícios inesperados como a redução do congestionamento, a popularidade tende a crescer. Bogotá, na Colômbia desenvolveu um plano de gestão de velocidade para definir imites seguro e fiscalização rígidos. Um delas em redução de 10 Km/h em cinco vias arteriais mais perigosas da cidade onde ocorrem cerca de 150 mortes por ano. O plano já reduziu mortes no transito em 32%, salvando 22 vidas em um ano.

No Brasil, a cidade de Fortaleza está experimentando o redesenho de ruas para equilibrar melhor o espaço oferecido aos carros com os pedestres, ciclistas e veículos de transporte coletivo. Para minimizar reações negativas da população, Fortaleza começou com projetos de segurança viária que tinham maior apoio, como zonas de baixa velocidade em torno de hospitais e escolas e investiu na melhoria de serviços públicos. Após ações reduziu o número de feridos em acidentes em 41%. Os líderes não podem voltar atrás em intervenções pela segurança, como a redução de velocidade para obter ganhos políticos, nem devem assinar compromisso de Visão Zero se não transformarem suas palavras em ações. A responsabilidade dos líderes é proteger seus cidadãos. A vida das pessoas não deve ser uma moeda de barganha política. Buenos Aires, após quatro anos adotando plano de segurança viária, incluindo a conversão de regiões para pedestres e a construção de 250 Km de ciclovias reduz em 33 % mortes aos seus cidadãos.

O mundo precisa de lideranças para salvar vidas. A ONU congratulou Roberto Cláudio, prefeito de Fortaleza, médico sanitarista como plano ligado entre medidas de mobilidade relacionada à segurança viária com a pauta de saúde e este cenário como a capital do Ceará entre as poucas do mundo próximas de cumprir os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), de reduzir às fatalidades a metade até 2020. Cadê seu projeto, pedestres e ciclistas.

                                                             Celio Bolan – Estratégias do Óbvio

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