Notícias de Criciúma e Região

Carnaval, desejo e fantasia

Será que precisamos esperar por dias de folia para dar um pouco mais de vazão aos nossos desejos?

Mais leveza e menos censura. Assim podemos definir o Carnaval. Não por acaso, brincar é um verbo que sempre combinou com a festa mais tradicional da cultura popular brasileira.

Entre em nosso grupo e receba as notícias no seu celular. Clique aqui.

Blocos de rua, desfiles e bailes são um convite à alegria. Nos dias de folia, não falta gente com fantasia, máscara, acessórios coloridos e uma dose extra de ousadia e descontração.

Neste ano, o Carnaval novamente não será o mesmo, eu sei, afinal, ainda estamos em pandemia. Mas, quero aproveitar a oportunidade para propor uma reflexão que me parece apropriada a estes dias.

Imagine a seguinte situação: você coloca uma máscara, fica irreconhecível, e sai por aí fazendo tudo o que tem vontade. Ou essa outra situação: você sai por aí de cara limpa, também fazendo o que realmente deseja, sabendo que não vai sofrer qualquer julgamento, nem dos outros nem de você mesmo. Vamos chamar essa pessoa mais livre de sua “versão Carnaval”.

Quão diferente você é nos outros dias do ano dessa sua suposta versão Carnaval? Quando o seu desejo está em questão, você avança ou pisa no freio?

É obvio que na vida real não dá para fazer tudo de que estamos a fim. Leis, normas morais e convenções sociais nos impõem limites. É o preço da civilização. Mas minha questão aqui tem a ver, principalmente, com o distanciamento dos nossos desejos por uma espécie de autocensura.

Quantas coisas deixamos de fazer com receio do que os outros vão pensar? Quantas escolhas fazemos a contragosto supondo garantir maior aceitação? Será que precisamos esperar por dias de folia para dar um pouco mais de vazão aos nossos desejos?

A experiência clínica em psicologia e psicanálise mostra que, na base da dependência de aceitação e amor, há muita fantasia. Superar essa condição requer bastante trabalho, mas a recompensa vale o esforço. O que se ganha é uma aproximação maior aos próprios desejos.

Conscientes ou inconscientes, os desejos manifestam quem somos. Ainda que bancá-los não seja fácil, convém tê-los como guia, pois, invariavelmente, representam o mapa para uma vida mais autêntica.

Viver de fantasia pode ser bem divertido, mas apenas durante o Carnaval.

***

Fábio Cadorin (@fabiocadorin) é psicólogo, jornalista, professor e doutor em Ciências da Linguagem. Nesta coluna quinzenal fala sobre saúde mental e impactos da cultura sobre o nosso psiquismo.

Você também pode gostar