Câncer e saúde mental: Casa Rosa dá suporte para pacientes em grupo de apoio
Iniciativa acontecerá toda semana, promovida pela RFCC de Içara
O câncer é uma doença desafiadora que vai além das batalhas físicas. Receber um diagnóstico oncológico gera uma série de mudanças emocionais na vida de uma pessoa. Nessa luta, o suporte psicológico surge como uma ferramenta valiosa. Buscando desempenhar um papel fundamental no bem-estar e no tratamento eficaz das pacientes, a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) de Içara iniciou um projeto de atendimento por meio da psicologia.
A iniciativa é feita como forma de terapia em grupo. Os encontros são realizados com pacientes em tratamento do câncer e para mulheres que passaram pelo processo. “O trabalho é magnífico, é lindo de ver. Já estamos no terceiro encontro com média de 12 pacientes frequentando. É um projeto que pretendemos levar adiante, abordando e tratando o lado emocional, falando sobre as mudanças que o câncer gera e como podemos lidar com essa situação”, comenta a psico-oncologista e coordenadora dos Serviços de Saúde da Rede Feminina de Combate ao Câncer de Içara, Andréa Cristina Pavei Soares.
A incerteza, o medo do desconhecido e a ansiedade em relação ao tratamento são apenas algumas das muitas emoções que podem surgir. É aqui que entra o apoio psicológico, oferecendo um espaço seguro para os pacientes expressarem seus medos, preocupações e sentimentos, e fornecendo estratégias para enfrentar esses desafios. Conforme a coordenadora, este é um dos grandes pilares para o tratamento de cada mulher que descobre a doença.
“Quando existe um diagnóstico de câncer, a pessoa perde o eixo, o seu chão e a sua segurança e é preciso que ela tenha uma reestruturação da vida dela. Nós trabalhamos desta forma para que a mulher, neste caso, possa se reencontrar, afinal ela não é um câncer, ela está com uma doença onde precisa permanecer emocionalmente fortalecida. Então a psicologia traz esse cuidado com o emocional para que a saúde mental esteja realmente saudável”, ressalta a coordenadora.
O desabafo dos sentimentos
Buscando proporcionar tranquilidade e apoio emocional as pacientes, a terapia é realizada em grupos por meio de encontros semanais. Como forma de desabafo em relações aos sentimentos comuns entre as mulheres em tratamento, a estudante de psicologia e estagiária da Casa Rosa Tatiana Cavalli oferece apoio durante os momentos de conversa.
“A gente vem com a proposta de levantar um tema que elas têm interesse em falar. Isso vem da TCI, que é a Terapia Comunitária Integrativa. Então fizemos rodas de conversa, na qual cada mulher traz um assunto que gostaria de ser falado. Logo a gente elege um tema naquele momento e debate sobre ele”, explica Tatiana.
Comentar sobre o que está passando ou o que já passou é um processo que contribui para encontrar soluções para problemas que surgem ao descobrir o câncer. Conforme a estudante de Psicologia, é durante as conversas entre as participantes que surgem as respostas para cada tratamento.
“Quando tivemos a ideia imaginávamos encontrar pessoas tristes por causa do diagnóstico, mas o que eu vejo é uma realidade totalmente diferente. Durante as conversas podemos perceber como é possível aprender e ter um novo olhar sobre a vida”, comenta.
O contato com a terapia em grupo
Para as pacientes que participam da terapia, estar com pessoas que compreendem os sentimentos é uma forma de tranquilizar a situação. Como é o caso da Elecir de Freitas, que descobriu o câncer em 2023 e está na luta pela cura. “Quando recebemos um diagnóstico como o câncer, a primeira coisa que passa pela cabeça é que vamos morrer”, relata.
Para Elecir, a doença surgiu de forma inesperada, quando foi alertada pela família sobre o possível diagnóstico. O primeiro contato foi com a Casa Rosa, onde realizou todos os exames e descobriu o câncer de mama.
“Desde o primeiro dia que eu cheguei na rede feminina e tive o diagnóstico, eu já recebi apoio. As profissionais me explicaram tudo o que eu iria passar e como iria acontecer, isso me tranquilizou bastante. Eu entendi que há recursos para o tratamento e que o câncer não é o fim do mundo”, declara a paciente.
A terapia em grupo foi uma das ferramentas oferecidas para Elecir, que aceitou o tratamento e hoje frequenta os encontros de apoio emocional. “Esses encontros já me ajudaram a entender algumas coisas, principalmente que a gente precisa ser ajudada e que podemos pedir ajuda. Não tem problema se sentir frágil. Ali percebemos que temos esperança e não estamos sozinhas”, completa.
Nesse caso, no cenário desafiador do combate ao câncer, a luta não é apenas a dificuldade do tratamento físico, mas também uma série de desafios emocionais. “É muito importante a pessoa estar mentalmente bem para caminhar um dia de cada vez, entendendo que tudo passa e a doença também vai passar”, destaca a psico-oncologista.