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Artigo: “Novo Cangaço”

Santa Catarina como um todo, em especial a região sul do Estado, sempre se mostrou ao Brasil como um lugar que apresenta os menores índices de criminalidade urbana, logo o assalto cinematográfico à agência do Banco do Brasil, ocorrido na madrugada de terça-feira, nos revela a brutalidade, a ousadia e o nível de organização das organizações criminosas. Isso nos remete a algumas indagações.

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A forma profissional como agiram os bandidos nos faz crer que se tratou de ação orquestrada que percorreu vários pontos da cidade, inclusive de outras aqui próximas, o que faz surgir uma dúvida: Por que o cercamento eletrônico da polícia militar não foi capaz de visualizar a movimentação dos criminosos pelas ruas? Faltam recursos humanos, financeiros e instrumental? O não enfrentamento da polícia como forma de preservar vidas é entendido, mas se argumenta porque não se foi capaz de monitorar a saída dos mesmos da cidade?

Mas, independentemente do que eventualmente possam ter ocorrido, é sabido que as forças de segurança do Estado precisam estar preparadas para lidar com o aprimoramento das ações delitivas das quadrilhas que a cada dia se especializam criando mecanismos criminosos diferentes, como o que ocorreu em Criciúma, embora seja conhecido desde ao final de década de 1990, nas cidades do Nordeste como “novo cangaço”. Espécie anacrônica de crime caracterizado pelos ataques promovidos por grupos criminosos que invadem municípios para assaltar bancos e carros fortes, muitas vezes dominando grande parte da cidades atrelado a ações truculentas, cujo termo ¨novo cangaço” não abarca o nível de sofisticação das novas organizações criminosas. O “modus operandis” se dá por meio de um planejamento minucioso, investimento em armas pesadas e veículos potentes, hierarquia de decisões e ramificações interestaduais.

Essas quadrilhas precisam ser extirpadas do meio social. O terror imposto por elas levam as pessoas a um estado de insegurança e pânico que as fazem se sentirem desprotegidas e impotentes ante ao medo de suas crianças, traduzido no sentimento revelado à mãe: “Mãe iremos todos morrer e tu não estais querendo dizer para a gente”, ou daqueles que por conta da tenra idade não são capazes de conhecer estampidos de tiros, mas indagam, no mundo de simplicidade e da fantasia em que vivem: “o que está acontecendo”?

Ao final, sobram às pessoas um misto de preocupação e de insegurança ao perceberem o quão desprotegidos estão diante do sentimento, quase convicção, de que nem o Estado está preparado para tamanha a ousadia e a violência perpetradas pelos bandidos.

Mas, convenhamos, seria essa a única conduta criminosa que nos levaria a obrigatoriedade de repensar nosso modelo de sociedade e de Estado? É possível constatar outras formas de violência praticadas contra essa mesma sociedade, como a corrupção endêmica conhecida?

Tão cruel quanto condenável e repugnante é o desvio de recursos públicos que tira, com a mesma violência dos bandidos, a oportunidade do cidadão ter acessos a serviços públicos vitais a sua sobrevivência presencial e melhor expectativa de vida no futuro, visto que se assemelha a uma endemia que nos faz conviver em silenciosa e cotidiana violência ao exercício de cidadania.

O assalto ao Banco do Brasil é repugnante sob todos os aspectos pelos riscos à vida das pessoas usadas sejam elas os reféns, policiais envolvidos no litígio e de outros que simplesmente estavam nas ruas. A brutalidade empregada, soma-se a mais um grande desafio que nos é imposto, que é de mantermos vigilantes no combate a corrupção e nos organizarmos enquanto grupo de pressão para que a segurança pública seja suficientemente instrumentalizada de forma a garantir a paz, a tranquilidade e a integridade patrimonial, pessoal e a vida de todos. Que doravante a instituição polícia possa melhor preparar os seus para enfrentar o “novo cangaço”.

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