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ARTIGO: Janete Triches – Uma voz no vento contra

Por Walterney Angelo Reus – advogado

Janete Triches foi convidada a paraninfar uma turma de direito. Foi escolhida, por votação, pelos alunos da turma. Daí que, ao escolherem Janete Triches para paraninfa os alunos do curso de Direito sabiam que estavam escolhendo uma Professora forte, uma mulher forte, um espírito forte para participar, com direito a voz, da última aula da graduação da turma, que é a colação de grau.

Janete, chamada ao púlpito, proferiu um discurso Janetiano, sem vieses, sem tergiversar, sem tagarelismos baratos. Foi ao ponto do que considerou essencial para aquele momento especial de “seus amados alunos” – como ela a eles se refere.

E, para a paraninfa, qual o ponto essencial a ser passado aos graduandos de direito? O ponto essencial era leva-los à reflexão sobre o esquartejamento do tecido social (ao qual pertencem) por um governo destrutivo em todos os sentidos da palavra: daí que ela falou do ataque metódico ao sistema educacional do país; falou das agressões grotescas à cultura; falou da opção política pela dizimação dos povos originários (indígenas), de negros pobres, e minorias; falou da calculada política de agrotóxicos que nos entregará gerações deformadas; falou da instituição da política do ódio, enfim, falou do mundo que nos rodeia, falou da política que nos rodeia, falou daquilo que temos e, ao final, concitou, conclamou graduandos e graduandas a usarem sua graduação, seu saber adquirido para se contraporem a esse quadro, para serem expressões vivas e atuantes do amor fraterno, da tolerância viva, da empatia vital. Tornem-se sementes de um mundo melhor. Foi por aí a fala da Professora, Mestra Janete Triches.

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Tenho convicção de que Janete calculou o risco que corria ao fazer tal opção. Seria atacada pela horda de hienas, que brotariam do chão, dos cantos escuros, das salas, dos templos, dos programas de rádio, de todo lado, prontas para “aproveitar a ocasião” de tirar nacos de uma mulher aberta, de um espírito franco. Atacaram por todos os lados, atacaram de todo modo, como sempre fazem.

Tenho convicção que Janete, ao medir entre o risco calculado de ser atacada, agredida por todo lado, e o dever de falar com amor e verdade aos seus alunos, não deu a mínima para os riscos, mandou às favas os riscos. Fez o que tinha de fazer. E o fez não num tempo qualquer, não num país com soberania democrática, nããããooo!!! Janete fez isso num país assolado pelo medo, pelo ódio vomitado aos galões, pela opressão da palavra, pela brutalidade do pensamento único, num país dominado em todos os cantos por hienas.

Janete ergueu-se e falou enquanto a esmagadora maioria ajoelha e reza. Janete honrou sua dignidade e a dignidade de seus alunos. Porque o mestre, aquele que ama e aplica a pedagogia do amor, esse sempre estimula em seus alunos o desconforto. Não há crescimento sem um necessário desconforto espiritual. Janete Triches, até o derradeiro dia de aula, honrou seus alunos. Mas eles, não!

Correu por aí, devidamente divulgada e amplificada, uma “nota de esclarecimento” emitida pelos alunos do curso de direito matutino 2019/2, os mesmos que, por votação, escolheram Janete Triches para lhes paraninfar. Na “nota”, os alunos dizem que a professora “deveria” (sic) fazer um discurso em homenagem aos formandos. Que, ao invés disso, de elogiá-los, ela “usurpou” o tempo para fazer discurso contra o atual governo. Por conta disso a turma se sentiu “desrespeitada”. Fecharam a nota com a cantilena típica de que são a favor da liberdade de expressão e defensores da democracia…masssssss……

Ora! Você não convida alguém para paraninfar sua turma e “dita discurso”, ou, “cobra elogios e homenagens”. Isso demonstra o quão imaturo você é. Um paraninfo tem a sagrada liberdade de fala, de discurso. Só num país adoentado uma turma de direito emite nota de desagrado contra o discurso de seu paraninfo porque ele não os elogiou, não os adulou.

De outro lado, quando você convida alguém para paraninfar a turma, você convida A PESSOA, não pedaços da pessoa, não as partes da pessoa que você acha “legalzinha”. Se você convida uma pessoa com o perfil conhecidíssimo da Professora e Mestra Janete Triches você, com certeza, está convidando um discurso quente, libertário, crítico, social, que propõe uma execução amorosa da vida. Foi exatamente esse discurso que Janete fez.

Daí que ao proferir o discurso, lindo diga-se, que proferiu, Janete foi Janete, e honrou a dignidade de sua convicção humanista. Já a turma, que correu a fazer “notinhas” de fuga, essa nem honrou a professora que convidou para lhes paraninfar, nem honrou a si mesma.

De Janete Triches, eu não esperaria outra coisa, não esperaria um milímetro a menos que isso tudo que ela é: Uma voz, firme, no vento contra.

 

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