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‘Amigo da onça’: como surgiu essa expressão?

A expressão interiorana se popularizou no país inteiro a partir dos anos 1950

Se temos um amigo um tanto quanto falso ou pouco confiável, podemos chamá-lo de “amigo da onça”. Amigo da onça é uma expressão popular brasileira, usada para se referir ao indivíduo que não é de confiança e tenta enganar seus “amigos” para levar a melhor sobre os outros, alguém que finge ser amigo apenas para satisfazer os seus interesses pessoais, um falso amigo. Neste sentido, a expressão costuma ser vista como pejorativa e insultuosa. Porém, em determinados casos, pode também ser usada de modo descontraído, como uma brincadeira entre verdadeiros amigos.

A brincadeira Amigo da Onça é similar ao tradicional Amigo Oculto, onde o objetivo é trocar presentes entre as pessoas envolvidas, mas mantendo o segredo da pessoa a ser presenteada.

No entanto, os presentes do amigo da onça são considerados inúteis ou sarcásticos, servindo apenas para o entretenimento momentâneo das pessoas, ao contrário do Amigo Oculto, onde os presentes devem majoritariamente para agradar.

A expressão, no entanto, nem sempre foi difundida por todas as partes do Brasil. Por ter surgido como algo interiorano, demorou algum tempo até que chegasse aos grandes centros e “caísse nas graças” do povo. Então vamos descobrir mais informações sobre a origem dessa expressão e como ela passou a ser utilizada em todo país!

Na visão de alguns pesquisadores, essa expressão teria tido origem baseada em uma tradicional história contada no interior. Conta-se que um caçador relatava aos amigos ter sido perseguido numa de suas aventuras por uma onça enorme, o sujeito fugiu o quanto deu e no caminho perdeu a espingarda. Lá pelas tantas, acabou encurralado na mata. Só o que conseguiu fazer foi gritar o mais forte que pôde. O berro foi tão alto que a onça ficou apavorada. Ela então fugiu e deixou o caçador em paz. O amigo que ouvia a história duvidou: “Ah, se essa história fosse verdade você teria sido devorado!” Ao que o caçador, indignado, teria retrucado: “Mas você é meu amigo ou amigo da onça?”.

Uma outra versão muito semelhante que segundo contam, certa vez, dois caçadores andavam pela mata, quando se travou o seguinte diálogo:

– Mais cumpadre, se uma onça corresse atrás do cumpadre, o que o cumpadre fazia?
– Ora, cumpadre, metia uma bala no peito dela.
– E se o tiro faiasse, cumpadre, o que vancê fazia?
– Subia à primeira arve que encontrasse.
– E se a danada subisse atrás, cumpadre?
– Pulava no gaio doutra arve, cumpadre.
– E se o bicho pulasse atrais?

Indignado com a fúria do primeiro compadre, o segundo perguntou:
– Afinar, cumpadre, tu é meu amigo ou é amigo da onça?

Daí, dizem, teria surgido a expressão ‘amigo-da-onça’, um vocábulo só, hifenizado!

Mas de onde surgiu essa expressão? Quem a popularizou foi o cartunista pernambucano Péricles Albuquerque Maranhão, o Péricles (1924-1961), que trabalhava na revista O Cruzeiro, muito popular no Brasil na década de 1950. Em 1952, ele decidiu criar um novo personagem para aparecer nas páginas da revista, este personagem pouco confiável foi nomeado Amigo da Onça, e se tornou um grande sucesso por vinte anos. Foi aí que a expressão deixou o interior do país e tornou-se conhecida no Brasil inteiro.

A criação foi uma sugestão do então diretor, Leão Gondim de Oliveira, que era um notório fã do personagem El Enemigo del Hombre, criado por Guillermo Divito (1914-1969) e publicado a partir de 1938 na revista Patoruzú.

O desejo de Gondim era ter uma figura bastante carioca, que carregasse a fama de malandro e sempre tentasse levar a melhor sobre as outras pessoas. Como inspiração, o chargista compôs o tipo físico do personagem pensando em um garçom que trabalhava no bar onde costumava esboçar suas piadas, a quem ele considerava chato.

Segundo Péricles, esse garçom teria dito que “gostaria de ter esse vidão!” quando descobriu que ele ganhava dinheiro produzindo charges. Logo, o nome do personagem acabou virando sinônimo para alguém que é um amigo falso ou que vive colocando as outras pessoas em situações delicadas e embaraçosas. Como as páginas de Péricles foram as mais lidas no O Cruzeiro entre 1943 e 1961, ano em que faleceu, a expressão acabou se difundindo pelo país e se tornou extremamente popular, onde hoje “amigo da onça” virou símbolo de amizades duvidosas.

Apesar de ter surgido há quase 8 décadas, a expressão “amigo da onça” continua sendo bastante conhecida entre os brasileiros e utilizada por diferentes gerações. Obrigada pela leitura até aqui, espero que tenha gostado, semana que vem tem mais! Siga-me nas redes sociais:

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