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Conversas na madrugada

Confira os textos e reflexões da colunista Mamma Ruth

Foto: Ilustração

“Omita os detalhes sórdidos”, um conselho que levei para a vida…
Nas primeiras vezes, eram batidinhas suaves na porta… depois, sentia Elena sentar na cama… depois, 4h da manhã eu já estava desperta esperando seus passos.
No verão era nos terraços das villas onde estávamos… no outono e inverno, ficávamos sentadas em cima da minha cama, conversando e fumando, com as velas acesas, porque a chama absorvia a fumaça… ou na janela, olhando as luzes e as plantas.
Éramos amigas já… A mulher, que ali podia demonstrar ser frágil, e eu, que nunca mais poderia ser…

Um sonhador era seu amor… a economia de uma vida foi colocada numa fundação, na Polônia… tinha adquirido uma propriedade enorme, jardins, salas, tudo… lá seria uma fundação para jovens que poderiam estudar em uma universidade diferente… Era a época de Walesa… sonhos idealistas…

Mas as coisas sempre mudam… e um novo governo prelevou a propriedade… Trinta anos depois seria, teoricamente, devolvida. A interrupção de seus sonhos se transformou em um tumor… continuou na função de consulado até o fim… foi um grande embaixador até o fim da guerra fria.

Ser pontual, empática, organizada, sempre foram do meu caráter… eu nunca iniciava uma conversação, se não fosse chamada… Minha alegria espontânea tinha ficado na Praça Alcebiades Seara, anos antes… mas era feliz… cada conversação, eram anos de aprendizado.

Nunca fui triste… só aprendi a observar, respeitar… e omitir detalhes sórdidos…
A beleza é necessária… o resto é contorno… 

@ruth.soares.3133 

 

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