Projeto Noca na Escola leva memória, negritude, superação para estudantes do Rincão
Na semana do Dia da Consciência Negra, duas escolas receberam o projeto que ajuda a resgatar as memórias do município
Na semana do Dia da Consciência Negra, duas escolas de Balneário Rincão, receberam um projeto que ajuda a resgatar as memórias do município e levar conhecimento no combate ao racismo. O projeto “Noca na Escola”, realizado ontem (18), nas escolas Melchiades Bonifacio Espindola, na parte da manhã e na Gervásio Teixeira Fernandes, na parte da tarde, levou ao conhecimento dos alunos da rede estadual a história de superação e de amor pela educação da primeira professora da “praia”, Joana Rosa dos Santos, ou simplesmente, Dona Noca.
Noca, nasceu em 1916, e é filha dos escravos alforriados Francisco da Rosa e Feliciana, que vieram do continente africano e moraram na Terceira Linha. Eles tiveram dez filhos, seis deles foram professores e defenderam o estudo como forma de transformação de vida. A filha de Noca, Maria Leia dos Santos Botelho, de 71 anos, foi quem contou a história da mãe aos alunos e relatou que ela foi criada em meio às crianças brancas e que aprendeu a falar italiano.
Por conta da educação, a professora Noca ganhou destaque na sociedade na década de 40 e 50. Dava aula na escola no bairro Sanga Funda, onde também morava, e num ato teve sua casa incendiada. Depois foi transferida para o Balneário Rincão, que na época pertencia a Criciúma. Figura pioneira na educação local, enfrentando não apenas o contexto de segregação racial, mas também o papel desafiador de ser mulher e mãe de seis filhos.
Seu casamento inter-racial com Antonio José dos Santos, conhecido por seu Nico. Foi líder e defensora da igualdade e da educação para todos. “O estudo mudou a nossa vida”, destaca a filha Maria Leia, incentivando os alunos a continuarem os estudos e acreditarem na realização dos sonhos, frisando a honestidade.
A neta de dona Noca, Gesislane Botelho, a Gesis, de 44 anos, que é produtora cultural do projeto, acredita que ao realizar o sonho de ser professora, Noca quebrou barreiras e inspirou futuras gerações a perseguirem seus sonhos. “Sua história é um testemunho do poder transformador da educação e do impacto duradouro que indivíduos determinados podem ter em suas comunidades”, afirma Gesis.
O projeto
O Projeto Noca na Escola foi contemplado pelo no Edital de incentivo a Cultura Aldir Blanc, do Balneário Rincão, e ainda abordou cultura negra utilizando diferentes formas de expressão, com foco no combate ao racismo. O projeto teve a participação do africano de Togo, Thierry Appoh, que contextualizou o continente e os 54 países; da dupla de dançarinos Wkdancer, com Wesllen Messias e Kelven da Silva Gomes, dando workshop de dança; trouxe expressões culturais, a história das tranças, relatos pessoais, e a participação do Negro Ed (Edgar de Oliveira Dias) falando de música e de abordagem sobre racismo.
“O projeto não é apenas celebra a vida e as realizações de uma figura histórica importante, mas também educa e inspira os alunos a valorizarem a diversidade étnica, a combaterem o racismo e a apreciarem a riqueza cultural da comunidade afrodescendente do município”, comenta Gesislane Botelho.
Ainda trabalham no projeto Yasmin Botelho de Souza, Joana Botelho e Edilaine Leonor, que encenou um poema e incentivou o projeto a ser realizado.