“Os catarinenses esqueceram da importância da eleição estadual, escolheram o desconhecido e vão se aventurar mais uma vez”, diz governador Carlos Moisés
Governador Carlos Moisés ficou em terceiro lugar na disputa pela reeleição e não vai declarar voto neste segundo turno. De forma serena, lamenta que a escolha de novo seja por número
O governador Carlos Moisés (Republicanos) foi eleito de forma súbita em 2018, mas nunca se sentiu apenas um número na onda Bolsonaro. O 17 daquela ocasião teria lhe dado visibilidade, mas havia lógica no desempenho que o levou de 1 milhão para 2,6 milhões de votos no segundo turno. Os catarinenses queriam mudança, ele era outsider, um estranho na política. Havia um apelo favorável aos militares: Bolsonaro capitão e ele comandante do Bombeiros. Ele teve ótima perfomance nos debates eleitorais. Se fosse apenas a onda, ela não teria ajudado apenas três dos 13 candidatos a governador do PSL em todo Brasil.
Esse era o raciocínio bem articulado que frequentava a Casa d’Agronômica. Até o último dia 2. Quando a votação de Moisés recuou para 693 mil votos _ superada em 17 mil votos pelo candidato petista Décio Lima _ e o agora 22 de Bolsonaro rendeu 1,5 milhão de votos para Jorginho Mello, o argumento ruiu. Os catarinenses votam em números: sem conhecer direito os candidatos. É o que concluem, de forma “serena”, Carlos Moisés e Késia Martins da Silva, a primeira-dama mais ativa em voluntariado e terceiro setor que Santa Catarina já teve.
Em paradoxo, ambos acreditam que hoje sim, quem escolheu Moisés é porque de fato o conhece. Diferentemente da escolha majoritária pelo 22 e 13 verticalizada pelo voto a presidente.
Ela, feliz, já programando a reinstalação na casa da família em Laguna, com o marido de volta e pronto para instalar prateleiras e cortinas. Apenas preocupada que se mantenha o legado de avanços nos programas da Rede Laço. Ele, confiante que fez a entrega e cumpriu a missão, aliviado para dar mais atenção às filhas e aos pais e cheio de planos domésticos. Como o pressurizador para chuveiro aquecido com energia solar que o bombeiro eletricista vai instalar na casa onde vai morar com Késia, na praia do Ipuã, em Laguna, a partir de janeiro.
Moisés não vai declarar apoio aos candidatos em segundo turno.
“Penso que na política fiz uma entrega muito importante, mas que não dá votos. Sempre fiz do meu jeito.”
– Carlos Moisés, governador
Governador, como o senhor lidou com o resultado das eleições?
Aceitei o resultado de forma muito serena, até pela conjuntura política que está se formando. Tivemos a missão, junto com toda equipe e com os prefeitos, de combater a pandemia com o melhor resultado do Brasil. Só isso já justificaria eu ter pego a onda em 2018 e ter entrado no governo, sendo um desconhecido. Naquela eleição, o catarinense votou em quem não sabia, como votou novamente este ano em quem não conhece. Votou num número. Muita gente que o catarinense não conhece foi eleita agora em 2022 também. Recebo o resultado com serenidade, eu apostava e muitos apostavam que não haveria onda este ano, que as pessoas iriam votar em pessoas, escolher projetos, acompanhar a vida dos candidatos para efetivamente definir o voto. Isso não aconteceu. Poderíamos pegar qualquer pessoa e colocar um número que ela seria eleita. Isso é mais uma lição, percebe-se como é necessário continuar investindo em educação. Só a educação vai transformar a política. O modelo democrático que temos só funciona quando as pessoas são libertas pelo conhecimento. Conhecer é participar da política, ter discernimento para escolher o melhor para seu Estado. As pessoas não queriam saber do seu município, do seu Estado, só estavam preocupadas com a eleição do Brasil. Esquecendo que a maior prestação de serviços à sociedade é feita pelos municípios e pelo governo do Estado. Não é o governo federal que atende o cidadão no dia a dia, nos hospitais, nas escolas, na segurança pública. As pessoas esqueceram da importância da eleição estadual, tanto que escolheram o que não conhecem e vão se aventurar mais uma vez. A primeira aventura em 2018 deu muito certo, quis Deus que um bombeiro viesse para cuidar dos catarinenses e fazer o que a gente fez. Mas também nos trouxe uma experiência interessante: por que as pessoas não conhecem? Não é falta de investir em publicidade, nada disso, as pessoas não conhecem porque não se interessam pelo resultado do gestor. Temos um grande legado: quem planta tâmara, não colhe tâmaras, porque demoram muito para frutificar. É como no governo, muitas coisas já estamos colhendo agora, mas muitas ações vão avançar a longo prazo e transformar gerações. Não se pode olhar só uma eleição, essa de 2022, precisa ver o que vai ocorrer lá na frente e então tirar conclusões mais sábias. Falar agora pode ser leviano, então vamos aguardar, ver o tempo passar, amadurecer nossa democracia.
A eleição verticalizou dos dois lados, pelo 22 e pelo 13, tanto que o senhor perdeu a segunda vaga por 17 mil votos. A sua campanha percebia esse vetor?
São duas ondas. A segunda onda não se esperava aqui. Claro que se imaginava no âmbito federal, mas não se imaginava esse reflexo no Estado. Agora a sociedade tem duas escolhas a fazer, votarei dia 30 de outubro, obviamente minha escolha fica reservada a mim, não vou publicizar, mas a recomendação que faço é que as pessoas olhem a vida dos candidatos. Não sigam olhando só um número. Precisa ver se esse candidato efetivamente representa os projetos e o desejo de vida do eleitor por sociedade melhor e mais justa. Aqui, havia um governo, agora terá outro, é importante ter serenidade para escolher bem. Olhar para a pessoa, ver o que ela faz, o que representa, quais suas bandeiras, se as demais acreditam no candidato, isso é relevante. Sondar se tanto o ambiente político quanto a sociedade acredita naquele candidato. Se não acreditam, não escolher.
Qual será o futuro do capital político que o senhor criou com essa experiência no governo?
O futuro do meu patrimônio político hoje é lá na praia do Ipuã, na minha Laguna, na Ilha de Santa Marta, lugar espetacular como tantos outros de Santa Catarina. A gente vai se dedicar a cuidar de si, a estar presente com as pessoas. Penso que na política fiz uma entrega muito importante, mas que não dá votos (risos). É outra descoberta que fiz… mas os catarinenses têm o direito de escolher o que mais lhes representa nesse momento de eleição. Vou cuidar de mim, da Késia, minha mulher, das minhas filhas, estar um pouco mais presente na vida dos meus pais. Meu pai tem quase 90 anos, imagina, eu como governador estou muito ausente da vida de minha mãe e meu pai, então quero estar mais presente na vida da família e me preservar um pouco. A contribuição à política já dei.
E o senhor deixa um governo redondo nas finanças, certo? Vai ficar fácil para quem vier?
É a história da tâmara, a gente plantou, deu alguns frutos já, mas muitos mais virão. Saneamos o Estado, havia um déficit importante, diziam que Moisés não pagaria nem a folha… Agora entregamos um governo saneado que enfrenta crises, que enfrentou a pandemia, a crise sanitária, que mesmo com redução tributária como é o caso do Icms de gasolina, comunicação e energia elétrica, consegue fazer que Estado sobreviva a tudo isso e continue investindo. Então o próximo governo, se seguir os nossos passos, não vai precisar ajeitar a casa, porque a casa tem o dever feito.
O senhor se arrepende de não ter se filiado ao MDB ou de alguma outra decisão partidária?
Absolutamente não. Todas minhas decisões foram por aquilo que acredito e pela coerência. Sempre dizia: arrumem outro candidato se tiver de fazer do jeito de vocês. Eu vou sempre fazer aquilo que me representa e em que acredito, que é da minha coerência. É por isso que não vou nem publicizar minha intenção de voto, porque acredito que temos de votar em quem efetivamente nos representa. Peço às pessoas que olhem e façam a melhor escolha para o nosso Estado.
Késia torce por legado na Rede Laço de Voluntariado
Pedagoga, a vida inteira dedicada ao voluntariado ligado à igreja, a primeira-dama Késia Martins da Silva, institucionalizou programa de incentivo ao voluntariado e fortalecimento do terceiro setor. Assim que Moisés chegou ao governo, ela encarou a recomendação do Ministério Público para extinguir a Fundação Vida que, no final das contas, era uma fundação privada que operava com recursos públicos.
Apesar da pandemia, que abreviou a atuação para dois anos, a nova Rede Laço de Voluntariado apoiou 700 pessoas e 500 instituições. “A rede ensina o caminho, disponibiliza os laços para que as organizações consigam fazer projetos e concorram aos recursos previstos em editais públicos”, aponta.
Para capacitar entidades que pudessem captar recursos previstos em editais da Celesc e Casan, por exemplo, foram desenvolvidas parcerias com a Fapesc e sistema Acafe. A Rede Laço desenvolveu plataforma virtual para conectar voluntários com entidades públicas e privadas e mantém mentoria para ajudar a transformar a realidade das pessoas por meio da cooperação e solidariedade.
Jornalista: Adriana Baldissarelli, com colaboração de Cláudia Carpes
Contato: [email protected]