“Qual o problema de pontuar que sou mulher negra?”, diz candidata Bia Vargas após áudio polêmico

A candidata a vice-governadora de Santa Catarina, a içarense Bia Vargas (PSB), se manifestou após a divulgação de um áudio em que um jornalista ataca o candidato a governador, Décio Lima (PT), seu companheiro de chapa. No áudio, o jornalista Eduardo Grassi do Portal Chapecó, fala que se sente discrimado quando Décio cita a cor de Bia no discurso dele e o acusa de racismo.

“Passamos por isso diariamente. Algumas pessoas muito mais, mas qualquer ação que nos coloque em posição de destaque acaba sendo atravessada por esse tipo de coisa. Aliás minha candidatura tem sido atravessada por essa prática desde o início. É o segundo áudio vazado com o mesmo teor. Temos que alertar que precisamos de informação. Áudio dele é completamente equivocado. Sabemos que não existe racismo reverso, então precisamos é informar e educar a população”, comenta Bia.

O audio foi divulgado nas redes sociais por Décio Lima nesta segunda-feira, dia 12. Desde então tem causado bastante repercurssão. Antes da postagem, Bia destaca que a equipe de comunicação da campanha a consultou sobre como deveriam proceder com o caso e ela foi favorável a divulgação.

“O que está incomodando o cidadão nesse áudio é o fato de pontuar que sou mulher negra. Qual o problema de pontuar que sou mulher negra? O que incomoda ele será realmente isso ou fato de uma mulher negra estar em posição de destaque e ter a possibilidade de ser vice-governadora do Estado? Porque nossos corpos estão acostumados a ser vistos em posições de subserviência em cargos de servidão e quando inverte a lógica criada no imaginário da sociedade incomoda”, afirma Bia.

Mensagens de apoio e campanha tranquila

Após a divulgação, Bia destaca que recebeu diversas mensagens de apoio e passou a noite respondendo a cada uma. Algo que segue nesta terça-feira, dia 13. Apesar do áudio, ela ressalta que a campanha ao lado de Décio tem sido muito boa e bem recebida.

“Vivemos outro momento. Então a campanha tem sido bacana nesse sentido. As pessoas estão entendendo a importância de fazer essa ‘bagunça’ nas peças, colocar o improvável, porque em Santa Catarina é inédito ter uma mulher negra concorrendo a majoritária. Estou percebendo na rua essa identificação, estou aqui com meu celular enlouquecido de tantas mensagens de apoio e de suporte, mas temos muito ainda a avançar”, explica Bia.

Segundo ela, a hora é de levantar a cabeça e seguir a vida normalmente.  “A vida continua. Lidamos vivendo. A vida tem que seguir, a rotina segue, mas é um peso a mais que carregamos. Algo que temos que lidar todos os dias. Então atrapalha a vida, incomoda. Não dá para ficar chorando em cima da cama”, analisa Bia. “A campanha está incrível”, completa.

Porém, ela pontua que o importante não é o discurso, mas as ações concretas que devem ser realizadas contra o racismo. “Só vamos conseguir que essa fala acabe quando a gente repudiar e ter atitudes contra ações como essa. Quando incluirmos, por exemplo, no currículo oficial da rede de ensino conforme a lei nº10.639 que obriga colocar no currículo das escolas a história da cultura afro-brasileira que se estivéssemos ensinando nossas crianças sobre isso, a gente com o tempo não precisaria mais passar por esse tipo de situação. Temos que ter ações concretas, só ficar repudiando, só ficar na mesma história, não avançamos. É por aí o caminho”, finaliza.

Em entrevista à coluna de Julia Lindner do Estadão, o jornalista confirmou o teor do áudio e reafirmou o conteúdo. Ele disse considerar ‘excessivo’ Décio falar da cor de Bia. Leia a transcrição do áudio:

“Candidato Décio Lima, tudo bem? Eduardo Grassi, do portalchapecó.org… Décio, eu vou ter que fazer uma matéria aí, referente a sua candidatura, porque eu me sinto discriminado quando você fala na TV, fala em todos os lugares que ‘eu tenho uma vice negra’ e tal… Isso diz também como racismo para pessoas de outras cores, de outras descendências, né? Então eu vou fazer uma matéria aqui porque fica muito chato, toda hora a gente fica ouvindo, ouvindo, ouvindo… Eu me sinto, é… Essa prática de racismo, por eu ser branco e ela ser negra, né? Você fica falando que tem uma mulher negra de vice e tal, e que representa isso… Porque ela é negra… Eu acho que fica chato para as outras pessoas de outras descendências e de outras cores… Então, eu acho que é ruim quando se leva uma campanha pra esse lado… Eu vou fazer uma matéria aqui no meu portal mostrando o descontentamento da minha pessoa, da minha pessoa… Da minha pessoa por essas falas aí da sua campanha”, diz o jornalista no áudio divulgado por Décio Lima.