Senta que lá vem história – A história de Ella Harper, a menina camelo
Por séculos, pessoas em todo o mundo ficaram fascinadas com aberrações humanas. De museus médicos, à espetáculos de circo, essas aparições humanas raramente incomuns podiam ser encontradas em todos os lugares. Alguns desses artistas secundários nasceram em condições com as quais muitos de nós estamos familiarizados, como gêmeos siameses. Ella Harper, a “Menina Camelo”, tinha uma condição médica rara que fazia seus joelhos dobrarem para trás.
Os shows de aberrações, também conhecidos como freak shows, geraram muitos problemas para pessoas que nasciam com alguma anomalia congênita, já que muitas vezes, essa condição fazia com que aquele cidadão se tornasse uma atração de circo.
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Por mais cruéis que a cultura antiga dos shows circenses de “aberrações” possa parecer, esse tipo de entretenimento dava bons frutos para os artistas que tinham nas suas excentricidades algo verdadeiramente único. Esse foi o caso de Ella Harper, a menina camelo.
Contudo, apesar de todas as infelicidades, uma menina Ella conseguiu tirar bons frutos daquilo que poderia ter sido uma experiência traumática, tornando-se uma exceção no mundo do freak show. Acredita-se que Ella Harper nasceu em 5 de janeiro de 1870, em Hendersonville, Tennessee. Seu pai era William Harper e sua mãe era Minerva Ann Childress. William era fazendeiro e também um conhecido criador de ações no condado de Sumner na época. Ele morreu em um incêndio em 26 de agosto de 1890. Mais tarde também foi revelado que Ella tinha um irmão gêmeo chamado Everett Harper, que morreu em 4 de abril de 1970, três meses após seu nascimento.
William e Minerva tiveram cinco filhos: Sallie, Willie, Everett, Ella e Jessie. Everett morreu em 1870 e Willie em 1895. Eles viviam no condado de Sumner, Tennessee. Embora muitas pessoas não saibam sobre isso, Ella também tinha um nome do meio, seu nome completo era Ella Evans Harper.
O pai de Ella, William Harper, e sua mãe, Minerva Ann Childress
Ella nasceu com uma rara e incomum condição de deformidade de joelhos para trás, fazendo com que suas pernas dobrassem para o outro lado. A natureza desta aflição incomum é extremamente rara e relativamente desconhecida, no entanto, a maioria dos tipos médicos modernos classificaria sua condição e uma forma muito avançada de Genu Recurvatum Congênito – também conhecido como “deformidade do joelho traseiro” ou hiperextensão do joelho. Em decorrência da incomum estrutura de suas pernas, andar com as mãos apoiadas no chão se tornou mais fácil para Harper, por isso, a garota passou a ser chamada de menina camelo.
Apesar do apelido infame, Ella era a estrela do Circo Harris Nickel Plate Show, quando tinha aproximadamente 16 anos de idade. Suas apresentações geralmente começavam com Harper entrando juntamente com um camelo. Era sensação nas cidades em que passavam, aparecendo sempre nos jornais locais.
Tais jornais muitas vezes descreveram Ella como uma maravilhosa aberração, com um deles tendo descrito a artista como “a mais maravilhosa da natureza desde a criação do mundo, nunca tendo havido um defeito sequer”. Contudo, o que parecia ser bom, na verdade foi muitas vezes problemático, já que para acompanhar o circo, a menina largou a escola muito cedo.
Ao longo dos anos no circo, a menina viajou muito e conheceu diversas culturas, absorvendo sempre tudo que podia para si. O seu salário era bem generoso para a época, ganhando a quantia de 200 dólares por semana. Além disso, a garota se mostrava extremamente esclarecida, e almejava projetos além do mundo circense. Após conseguir juntar uma boa quantidade de dinheiro para se manter longe dos holofotes, a garota decidiu que era hora de parar.
No dia de sua grande despedida, quando foram procurar pela menina camelo em seu camarim encontraram apenas o cartão de visitas de Ella com a seguinte frase em seu verso: “Sou chamada de garota camelo, porque meus joelhos ficam para trás. Eu posso andar melhor com minhas mãos e pés, como você vê na foto. Eu viajei consideravelmente no show business nos últimos quatro anos e agora, em 1886, pretendo sair do show business e ir à escola e me preparar para outra ocupação.”.
Pouco se tem notícia do que Ella teria feito depois de mudar de vida. As informações coletadas e contadas hoje, vieram da pesquisa de um genealogista que foi atrás dos detalhes de sua vida, bem como o de sua futura família. Fato era que o salário que tinha possibilitava a mulher a viver em paz por um bom tempo.
O que se soube é que depois de ter abandonado sua vida como aberração, em 28 de junho de 1905, Ella Harper casou-se com um homem chamado Robert L. Savely no Condado de Sumner. Savely era professor e depois contador de uma empresa de materiais fotográficos.
No final dos anos 1900, Ella e seu marido mudaram-se para o condado de Davidson – próximo ao condado de Sumner. Ella, seu marido e sua mãe moravam juntos em Nashville, no número 1012 da Joseph Avenue. Ella deu à luz uma menina em 27 de abril de 1906 e a chamou de Mabel Evans Savely. O nome do meio para Ella e sua filha Mabel era o mesmo. Infelizmente, Mabel morreu em 1 de outubro de 1906, com apenas seis meses de idade. As informações de sua vida foram obtidas por meio de censos demográficos realizados nos Estados Unidos, que indicavam que ela e o marido viviam em Nashville, no Tennessee por volta de 1910. Mais tarde, em 1918, Ella e Robert adotaram uma menina chamada Jewel Savely, no entanto, ela também morreu dentro de três meses.
A morte, inclusive, não veio a tardar para Harper, em 19 de dezembro de 1921, Ella morreu às 8:15 da manhã em sua casa de câncer de cólon. Seu marido foi o informante do certificado e mostra que ela foi enterrada no cemitério de Spring Hill em Nashville localizado em Gallatin Pike, em frente ao Cemitério Nacional de Nashville.
Spring Hill é um grande cemitério que realmente existe de uma forma ou de outra desde o início de 1800, mas só teve uma casa funerária nos anos 1990. O túmulo de Ella está localizado na Seção B da velha seção histórica do cemitério dentro da Conspiração da Família Harper. Mãe de Ella, Minerva faleceu em 1924. Harper foi uma das artistas circenses que mais soube aproveitar da pequena fortuna que juntou em sua vida, e conseguiu se desvencilhar de ser para sempre apenas uma “aberração”.
Vou sugerir alguns filmes que relatam a vida de pessoas com condições existentes bastante raras, vale muito a pena assistir:
A história real de John Merrick, um desafortunado cidadão da Inglaterra vitoriana portador do caso mais grave de neurofibromatose múltipla registrado até então, tendo 90% do corpo deformado. Exibido como monstro em circos e considerado débil mental pela sua dificuldade de falar, é salvo por um médico, Frederick Treves. No hospital Merrick se libera emocionalmente e intelectualmente, além de mostrar ser uma pessoa sensível ao extremo. Sra. Kendal, uma grande atriz, torna-se sua amiga e até a coroa britânica sensibiliza-se com o caso.
Baseado no romance de Erik Fosnes Hansen. Esta é a história de Eva, uma mulher que nasceu com uma rara condição genética que faz com que pelos nasçam em grandes quantidades por todo seu corpo. Ela, então, precisou e ainda precisa superar o preconceito da sociedade e os desafios impostos por sua condição.
A verdadeira história de Mikel Jokin Eleizegi Arteaga, mais conhecido como “O Gigante de Altzo”. Este homem, que viveu no século XVII, media mais de dois metros, sofria de gigantismo e não parou de crescer até a sua morte. Mikel alcançou grande popularidade e chegou a viajar pela Europa, sendo exibido para pessoas famosas como a rainha Elizabeth II da Espanha, Luis Felipe da França e a rainha Victoria do Reino Unido. Em 1843, Martin retorna incapacitado da guerra para sua cidade natal. Descobre, então, que seu irmão virou um gigante e resolve transformá-lo em atração de circo.